Uma Pincelada na História do Turismo

Na semana passada mergulhamos na História das Viagens procurando entender as motivações culturais dos povos da Antiguidade. Nesse momento, vamos dar uma leve pincelada na História do Turismo e perceber as diferenças entre as duas atividades que exigem deslocamento de contingentes humanos e trocas de experiências significativas e radicalmente transformadoras.

O desenvolvimento das viagens segmentadas e organizadas, o impacto econômico da industrialização aliado a expansão e melhoria das comunicações e meios de transportes, associado à práticas educacionais elitistas proporcionaram a incorporação do caráter capitalista da atividade turística. O Tour (significa “volta” em francês) pode ser caracterizado como viagens com propósitos estritamente culturais e educativos que tornou-se popular entre a aristocracia britânica durante os séculos XVII e XVIII. Este precursor do turismo era uma complementação dos estudos dos jovens da elite. O refinamento pessoal advindo com a experiência de vida adquirida nas viagens culturais era utilizada por estes jovens turistas (em sua grande maioria do sexo masculino) para assumir cargos importantes na nobreza e nas classes dirigentes. Os estudantes do Tour dispunham de guias e panfletos que apresentavam os lugares as serem visitados- museus e galerias, visitação ao patrimônio histórico- cultural, a exemplo de Grécia e Roma. Era de suma importância o contato inter-étnico e a observação do modus vivendi de outros povos, requisito fundamental na incorporação do conhecimento cultural que elevaria o status quo dos viajantes que costumavam desfrutar de ambientes de instrução e lazer.

O século XVIII despertou o fascínio pela paisagem, difundindo entre as camadas sociais que viajavam o chamado “turismo romântico”, tendo como atrativos principais as exuberantes manifestações da natureza; montanhas, ar puro, a imensidão dos oceanos, a fauna e flora de ambientes preservados. Este tipo de turismo de contemplação da natureza tinha muitos adeptos como resultado a contraposição da deterioração da qualidade de vida nos grandes centros urbano- industriais. Até o século XIX, a natureza era vista pelo homem como um desafio, algo selvagem que devia domesticar; depois da industrialização começa a ser vista como algo a ser preservado e desfrutado. As modificações na estrutura econômica, política e social com o processo de industrialização acarretou na popularização do turismo. A mecanização e a produção fabril foram fatores decisivos para acelerada urbanização, desencadeada pelo êxodo em massa dos camponeses para as cidades.

O capitalismo emergente desenvolveu rapidamente o turismo para a burguesia. A ampliação do comércio e a máquina a vapor levaram a consolidação de navios, da locomotiva e a distribuição de ferrovias na Inglaterra e Europa. Por volta de 1841, o vendedor de bíblias Thomas Cook impulsionou o que conhecemos como agenciamento do turismo. Investiu em campanhas publicitárias de marketing no transporte de passageiros com tarifas reduzidas angariando cada vez mais os trabalhadores e engrossando sua clientela. Iniciou suas viagens excursionadas organizando um pequeno grupo para um encontro de uma entidade contra o alcoolismo em Leicester. No próximo encontro, em Loughborough, Cook fretou um trem e juntou 570 pessoas que compravam os bilhetes dele. Em 1846, organizou outra viagem para Londres a Glasgow na Escócia com cerca de 800 pessoas que utilizavam seus serviços. Era uma “excursão organizada” ou a projeção do turismo coletivo. Daí por diante, Thomas Cook conquistou o mundo com suas viagens. Nas próximas décadas excursionou pelos Estados Unidos, levou grupos a conhecer o Egito e a Terra Santa e em 1872 foi a vez de dar a volta ao mundo em 222 dias. Sob a ótica capitalista, Cook expandiu seus negócios na era industrial (apesar de não ter o monopólio das viagens), divulgando lugares inóspitos, seduzindo as classes dominantes e os trabalhadores com os benefícios do turismo e publicando seus próprios guias de viagens. A conjuntura histórica que difundiu as viagens pedagógicas do Grand Tour, as condições impostas pela industrialização, a energia a vapor e o investimento capitalista personalizado por Thomas Cook possibilitaram a difusão do turismo moderno. Este tripé de fatores econômicos e sociais teve seu desenvolvimento durante o século XX.

A etimologia da palavra Turismo teve sua origem no tourism (inglês), que por sua vez foi uma adaptação do tourisme (francês). Também teve sua origem do hebraico Tur, significando uma viagem de reconhecimento, em que Moisés teria enviado um grupo para reconhecer à terra de Canaã. A definição do termo turismo amadureceu conjuntamente com os estudos realizados na área a partir das primeiras décadas do século XX. É chamado de “indústria sem chaminés” ou “indústria de viagens de prazer”, porém esta atividade não está atrelada somente à economia, necessita de uma abordagem interdisciplinar que abrange áreas de pesquisa em turismo, geografia, sociologia, antropologia, psicologia e história - apenas para citar algumas disciplinas. Trata-se de movimentos de pessoas, que se deslocam por um determinado período, permanecem em determinado lugar fazendo atividades que distinguem do seu cotidiano e retornam para seus locais de origem. Por fim, conceito recomendado pela World Tourism Organisation (Organização Mundial de Turismo) define o turismo como “as atividades de pessoas que estão viajando e vão se hospedar em lugares fora do ambiente habitual em que vivem por não mais que um ano consecutivo, por motivos de lazer, negócios e outros.”

Publicado em Jornal A Folha/Torres e Jornal Litoral Norte RS.

Leonardo Gedeon
Enviado por Leonardo Gedeon em 25/10/2016
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