Etimologia da Língua Portuguesa nº52cc Etimologia da Língua Portuguesa por Deonísio da Silva nº52 Brigadeiro,nome de um doce que teria sido criado em homenagem a Eduardo Gomes,veio do francês brigadier,comandante de brigada. Já deprecar,palavra pouc

cc Etimologia da Língua Portuguesa por Deonísio da Silva nº52

Brigadeiro,nome de um doce que teria sido criado em homenagem a Eduardo Gomes,veio do francês brigadier,comandante de brigada. Já deprecar,palavra pouco usada,teve origem no latim deprecare,suplicar,pedir com insistência.

Aligátor:do inglês alligator,réptil semelhante ao crocodilo. Para etimólogos ingleses,procede do espanhol el lagarto,como o chamaram originalmente os espanhóis.O aligátor tem o focinho mais curto e mais largo que o dos crocodilos e jacarés.Vive no sul dos Estados Unidos,onde o clima é temperado.Alguns,habitantes do rio,medem até 5,50 metros. São conhecidas as lágrimas de crocodilos ,que lacrimejam com as presas na boca,pela compressão de glândulas lacrimais,o que levou apressados e incautos observadores a acharem que o animal lamentava a sorte das vítimas. Apesar de algumas semelhanças com outros do gênero crocodiliano,como o próprio crocodilo,o jacaré e o caimão, o aligátor foi o único a servir de metáfora,pelas dimensões e formato da boca,para designar o fã incontido de jazz, gênero musical profano,vocal ou instrumental,criação de negros americanos,que ganhou o mundo após a I Guerra Mundial.

Brigadeiro: do francês brigadier,comandante de brigada. Brigada procede do italiano brigata,pelo francês brigade,com o acréscimo do sufixo "eiro" , comum a ofícios. Briga também veio do italiano,do termo briga,problema difícil. Antes de haver o recurso ao braço armado e às tropas regulares,chamadas brigadas,como ainda ocorre no Rio Grande do Sul,onde a Polícia Militar é denominada Briga Militar,a briga era apenas uma discussão acalorada. Houve complexas alterações nas designações de patentes militares,tendo algumas variações ocorrido de acordo com certas especificidades das Armas. No Brasil,é posto dos mais altos na hierarquia da Aeronáutica.E o doce de chocolate e leite,que tem a mesma denominação, deve-se a homenagem ao brigadeiro Eduardo Gomes (1896-1981), duas vezes candidato derrotado à presidência da República. Uma mineira teria feito o bocado e oferecido ao brigadeiro.Ele, celibatário charmoso e elegante,teria elogiado o sabor. A doceira,então talvez por interesse em agradá-lo ou vender mais,passou a utilizar o endosso militar para divulgar o doce.Outra versão vincula a denominação da guloseima a certa mutilação que o militar teria sofrido no episódio conhecido com Os Dezoito do Forte,em 1922,quando perdeu os testículos. Como o doce,sem ovos,foi inventado nos anos seguintes à II Guerra Mundial,época de escassez de muitos produtos no Brasil,a imaginação popular é que teria criado a denominação.Ambas as versões foram registradas por Márcio Bueno em seu livro A Origem Curiosa das Palavras.

Deprecar: do latim deprecare,suplicar pedir com insistência. Certa vez o presidente Jânio Quadros (1917-1992) utilizou “deprequei” num manifesto. O escritor Oto Lara Resende (1922-1992) descobriu que cinco membros da Academia Brasileira de Letras sabiam o significado da palavra,entre os quais o próprio pesquisador e os autores dos dicionários Aurélio e Houaiss. Antes de sua notável carreira política,que o levou de vereador a presidente da República,Jânio tinha sido professor de Português. Seus escritos e falas sempre foram marcados não apenas por palavras de uso raro,como também por sintaxe peculiar,como neste diálogo que teve com Brígido Fernandes Tinoco,então ministro da Educação, a propósito de certas reformas que determinara: “Presidente, permita-me dizer-lhe que discordo desta solução. A meu ver, é um mau ato. Fê-lo por quê?” “Fi-lo por algumas razões que me parecem relevantes. Primeiro,fi-lo porque estou convencido de que é a melhor solução.Segundo,fi-lo porque esta nação tem pressa e não pode ficar a vida inteira esperando que os infindáveis debates cheguem um dia ao fim. Terceiro, fi-lo porque sou o presidente.Por fim,senhor ministro,fi-lo porque qui-lo.”

Jacaré-açu: do tupi yaka’,jacaré,com o significado totêmico de torto,sinuoso,e wa’su,açu,sufixo indicador de que a referência anterior é grande,importante.À semelhança da cigarra e da formiga, o jacaré foi para os tupis, desde tempos imemoriais,um animal com o qual mantinham uma relação simbólica,reverenciando-o,assim como a outros animais e vegetais,incluídos entre entidades míticas. Os primeiros colonizadores povoaram localidades em que a palavra yaka’re estava presente e se surpreenderam ao não encontrar o réptil,por desconhecerem que entre os tupis a palavra servia para indicar,por exemplo,um rio cheio de curvas. A palavra jacaré aparece em divertida pesquisa que o escritor Olavo Drummond fez em relatórios de fiscais do Banco do Brasil.Num deles,encontrou o seguinte fragmento :”Visitando a propriedade do senhor Jacaré e não encontrando o réptil...”

Pandemônio: de neologismo criado pelo poeta inglês John Milton (1608-1674),em seu livro O Paraíso Perdido. Para inventar o vocábulo,que designa o palacio de Satanás ,o escritor serviu-se de dois compostos gregos:pan,tudo,todos,e daimónium,demônio,aquele que divide,separa. Seu célebre poema,cujo título original é Lost Paradise,não foi escrito por ele,mas ditado,pois já estava cego. Pobre e esquecido,vivia abandonado por todos,desde a morte de Olive Crowell (1599-1658),de quem fora partidário e divulgador de suas idéias.Por influência de seu livro,pandemônio passou a designar confusão extraordinário.

Deonísio da Silva,doutor em Letras pela Universidade de São Paulo e escritor,é autor de Os Guerreiros do Campo e a Vida Íntima das Palavras (Siciliano),entre outros 27 livros.E-mail:deonisio@terra.com.br

Revista Caras

2002

Doutor Deonísio da Silva
Enviado por zelia prímola em 28/10/2016
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