Quis brincar com uma réplica do Titanic. O menino não gostou. O medo de naufrágio o atormentava. Seria trauma por causa do Almirante Cohrne? E puxava conversas estranhas:

— Peixe gosta de picolé?
— Que conversa! Onde peixe vai encontrar picolé pra chupar?
Era preciso que entrar no mundo dos autistas, para compreender o que o filho dizia, porque suas ideias não eram desalinhadas, apenas ocorriam numa ótica diferente, às vezes superior à capacidade de compreensão dos que se dizem normais. Aprendia com facilidade aquilo que lhe interessava. Não era autista, isso não era. No entanto, cedo demais para atribuir a  um diagnóstico de esquizofrenia. No ‘achismo,’ esquizofrenia pode ser confundida com hiperativíssimo, autismo ou de dislexia. Ele parecia ter um pouco de cada uma dessas coisas. Por outro lado, entre os males, o menor. Tomara que seja hiperativo. E se tivesse que escolher um rótulo para o filho, jamais seria “esquizo”. Nunca o chamou de louco, ao contrário, incentivava-o a estudar: ‘Você é inteligente, Nanin. Vai conseguir!’
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Texto: Adalberto Lima
Imagem: Internet