UM POETA JÁ NASCERIA PRONTO?

É a pergunta que sistematicamente me tenho feito, ao ler e observar tantos escritos poéticos procedentes da tenra idade, cujos sentimentos eclodem de visões incrivelmente metafísicas.

FAZER POEMAS É CAPTAR A VIDA E EXPRESSÁ-LA COM O SENTIMENTO DO OLHAR.

Lembro-me que aos meus quatorze anos, época em que comecei a rascunhar os meus poemas, escrevia por intuição, por sentimento, sem a mínima vivência do que expressavam as minhas figurações poéticas.

Quando já adulta, mas ainda jovem, me encantei ao tomar contato com a poesia e a música de CAZUZA que é um exemplo mítico do que por ora defendo.

Sua qualidade poética também não conjugava com seu tenro tempo de vida.

Sua percepção, sua sensibilidade, sua capacidade de captar a vida no subliminar, nas entrelinhas, era absurdamente impressionante.

Sua visão critica, e coerentemente crítica, mostrava verdades indiscutíveis, absolutas e que perduram no tempo.

Sua irreverência, sua capacidade de tocar a ferida das adversidades da vida, extrapolava o simples ato de fazer rimas perfeitas.

Ele delatava, gritava, esperneava, e conscientizava com a sua maravilhosa arte.

Há dois ditos populares que conjugam o sentimento com o olhar:

“ O QUE OS OLHOS NÃO VÊEM, O CORAÇÃO NÃO SENTE” / “LONGE DOS OLHOS, LONGE DO CORAÇÃO”. Cito estes dois ditados, porque parto da premissa de que um poeta já nasce pronto, sim! De olhos e coração prontos e entrelaçados...

Todos nascemos com “alma” própria, definida, quase uma “genética espiritual”.

Mas, não se ensina a ninguém enxergar com o coração! Nas escolas se ensina teoria literária, se mostra literatura, nos apresentam poemas, mas nenhuma escola forma poetas!

Nenhuma universidade ensina um ser a treinar olhos metafísicos e vejam, já foi dito que “O ESSENCIAL É INVISÍVEL AOS OLHOS”, mas eu acrescentaria , O ESSENCIAL é apenas visível aos olhos do CORAÇÃO.

E conceitualmente sendo um poeta, olhos e coração, sua poesia é perene.

E ainda iria além...costumo dizer que poetas enxergam o que poucos vêem!

E sentem como poucos também.E assim conduzem a vida diferentemente, sendo jamais alheios ao que os cerca, apenas respondem aos estímulos transformando sensações em obras de palavras...

E talvez seja por isso que o poeta é eterno.Não nasce dum dia para o outro, até pode levar tempo para se descobrir, mas depois que se descobre, torna-se impossível calar.Veio-me aqui a imagem de CORA CORALINA, que talvez seja a ilustração mais fiel dessa minha observação.

Enfim, se poesia é sentimento, um poeta é a manifestação sublime da única liberdade que não se pode acorrentar: A liberdade de olhar, sentir e pensar, ainda que não nos permitam a palavra.

A poesia é inata, e como parte intrínseca da vida, pulsa e permeia seres que a viabilizem, poetas... que já nascem prontos.