O SER POETA

O poeta é o arauto das boas notícias, das novidades julgadas vencidas pelo tempo dos homens comuns. Ele que muitas das vezes trafega anônimo pela vida, como são anônimas as crianças que inventam em seu mundo de brincadeiras e faz de contas. Todavia, ele _ o poeta _ também brinca com a realidade das coisas julgadas sérias,e, às vezes cauteriza a mente dos homens, deixando-os estagnados e reacionários. Aí está a função deste ser tão especial como os anjos que nos protegem, e não os vemos. Os poetas tem a difícil missão _ que para eles não é um fardo, mas prazer_ de brincando procurar despertar os homens a fazerem uma viagem dentro de si mesmos, para que se tornem mais dóceis e contemplativos, quando através dum convite especial, ou seja, pelas poesias que fazem, levar àqueles que precisam de mais ou menos colorido em suas vidas.

O poeta é aquele que costuma ver, onde poucos vêem ou percebem, e às vezes, onde muitos encontram beleza, para o poeta não passa de futilidades, ele tem o olhar clínico para traduzir as preciosidades do micro ao macrocosmo, encanta-o ver uma lesma, um caracol e uma formiga carregando uma folha, bem como, o sol, a lua e as estrelas e os cometas. Ele é um ser de antevisão, do prenúncio e da revelação, do intangível e do inominável. Diz, mas não tem compromisso com a verdade, porque a sua poesia se expressa por si mesma. Ele _o poeta_ nos ajuda a retirarmos os antolhos (por nós mesmos),e, nos estimula a quebrar o muro da falsidade e hipocrisia. Ter um poeta por perto nos auxilia a fazer uma viagem para dentro de nós, para assim podermos ver, não além, mas as coisas na beleza como elas são! na sua própria inteireza e plenitude, borboletas como borboletas, flores como flores, estrelas como estrelas projetado no que vemos, como se a beleza, o odor e o brilho fosse a conjugação de tudo que já se encontrava ali, bem no recôndito do nosso ser. E, assim mantivéssemos uma grande comunicação com os seres e as coisas. Eis o poeta que transcende, viaja, voa sem precisar sair do lugar, ajudando-nos também a nos projetar com as asas da imaginação. Ser poeta é ser gente como a gente, mas percebendo e vendo de maneira diferente, e, pondo poesia onde nem sempre parece que ela haveria de estar. De fato, ele é um artista e construtor de mundos imaginários e idéias que ganham vida por si mesmas, no acontecimento poente da poesia...

Para o poeta e a poesia não existe tempo cronológico e a lógica é a lógica das imperfeições porque trafega pelas coisas julgadas absurdas, sem limite entre o real e o irreal, A poesia sempre propõe algo novo e diferente, o que nos causa estranheza. O poeta, não sabe o que é rotina, monotonia, mesmisse, porque ele é igual na sua própria desigualdade, e não abre mão de ter como companhias as musas, as metáforas, sabendo lidar com os paradoxos, aprendendo sempre com as diferenças. No campo da poesia nos é permitido inventar e reinventar a nossa própria história, podendo ser a princesa ou o principe encantado. A poesia sempre nos predestina a sonhar e a amar de maneira incondicional e nos proporciona ao mesmo tempo ser e não-ser, porque fazer poesia é uma processo dialético, uma catarse... fazer poesia é ser feito por ela, ou seja, ser reinventado por ela. Por isso, se faz poesia com a alma, gentil e feliz. Embora haja no poeta uma solidão maior que a sua própria, porque ele absorve a solidão de muitos, e talvez, seja o preço que tenha a pagar pelo fato de ser o que ele é. Tão solitário dentre os solitários, mas por também ser solidário, é compensado pela vida, como voam os pássaros_ e cada um faz o seu próprio vôo, sem mesmo perceberem a aproximação e estreita ligação que possuem com Deus.

Há quem diga que o poeta é um sacerdote, eu diria que, se fosse verdadeiramente um sacerdote, ele seria como um São Francisco de Assis que interagia com a natureza, as criaturas e o cosmo, um João da Cruz, na caminhada mística dos seus versos luminosos da obra Noite Escura. Ou ainda, um Salomão com seus Provérbios e Cantares. Direi que o poeta mesmo não sendo um sacerdote, não há dúvida que o ato de fazer poesia é um sacerdócio, como todo artista que possui seu legado, sua sina. Mas esse negócio de sacerdócio fica muito pesado e formal para o poeta. Ele que é um visionário, que se projeta para além de seu tempo, existe uma estreita ligação entre o profeta e o poeta, porque ambos vão além das aparências e vaticinam o que há de vir, ambos são faces da mesma moeda, ambos são considerados loucos! mas uma loucura emprestada por aqueles que não os compreende nem os ouve, por aqueles que possuem corações endurecidos.Se sou poeta como os poetas, não sei! sei que como disse a poeta Cecília Meireles: "Canto porque o instante existe, e a minha vida está completa, não sou alegre nem sou triste, sou poeta". Ser poeta, ou o ser poeta, é um privilégio, ou sina, de poucos, que sabem, como pronunciou o poeta Olavo Bilac, "Ora direis, ouvir estrelas!", nós também sabemos ouví-las, e o canto delas é uníssono que se perde no infinito numa orquestração que não se define pelos sentidos, porque para interpretar o canto das estrelas, temos que distinguir a sonoridade pela alma, lá encontramos o eco, a ressonância das coisas inaudíveis. E, somente um ser assim, especial, é capaz de discernir insignificâncias para muitos. Porque este ser sabe e tem muito a aprender com as pequenas grandezas das coisas. E, não é à-toa que o ser poeta está sempre no tempo do sem tempo.

Assim quando o poeta e o profeta se encontram, ocorre uma verdadeira magia, porque em tese, um está contido no outro, não há poeta sem que seja profeta, e nem profeta que não seja também poeta, quer tenha intenção de predizer ou não o futuro, até porque o futuro se dá a todo instante, as palavras que escrevi e o que você leu até aqui, já deixarem de ser o que já foi, ocorre que quando pensamos ou agimos em função do "agora", este agora já deixou de ser para ser uma outra coisa, não há como eternizá-lo, cristalizar uma idéia, porque a idéia é uma coisa dinâmica, ela avança e faz links, outras interações, interrelações entre o ser e o não-ser. Daí quando falamos de uma em função de outra, da poesia que se profetiza, ou a profecia poetizada, nada mais é que algo comum, que se dá a cada instante, até mesmo na beleza duma rosa, tão efêmera em si mesma! A passagem de um cometa, uma estrela cadente, um olhar inusitado de uma criança que nos olha como se fôssemos algo especial, que na verdade somos, todavia com o tempo deixamos de ver a beleza que há em tudo que nos cerca e somos como pessoas.

Falar do ser poeta, faz-me lembrar alguém, que esteve em nosso meio, deixando grandes ensinamentos em seus livros, alguém pelo qual tenho muito admiração pela sua simplicidade e alcance artístico, um mestre que nunca precisou de títulos, um poeta e um profeta, na concepção da palavra, alguém que mesmo amando, nem sempre esperava ser amado, porque o amor era uma doce canção em seus lábios, falo de um livre pensador, chamado Gibran Kahlil Gibran, que escreveu um grande livro intitulado "O profeta". dentre outros escritos seus. E, no livro Mensagens Espirituais, nos diz: Os meios de ressuscitar uma língua estão no coração do poeta, nos seus lábios e entre seus dedos. O poeta é o instrumento entre o povo e o poder de criação. Ele é o fio condutor que transmite as notícias do mundo do espírito para o mundo da investigação. O poeta é o pai e a mãe da lingua, que vai para onde ele a conduz. Quando o poeta morre, a língua queda-se inerte diante do seu túmulo, chorando e lamentando-se, até que outro poeta venha reanima-la"

denymarques
Enviado por denymarques em 06/08/2007
Reeditado em 28/08/2007
Código do texto: T595838