À Sombra de Édipo

Quando decidi escrever este texto, não pensei que fosse sair tão parecido comigo. Acho que eu fui, e ainda hoje sou muito insensível e racional. Talvez possa até dizer que eu sou uma vampira de sentimentos, mas se adequaria melhor ao caso dizer que eu gosto de provar às pessoas exatamente o contrário do que elas pensam. Quantas pessoas passaram pela minha vida apenas porque duvidaram de algo, acreditaram demais em suas próprias teorias, e amaram demais seus egos? E eu entrei na vida delas apenas pelo interesse de provar-lhes o contrário, de fazê-las verem o quão ( im ) previsível essa vida pode ser.

Acontece que certo dia estando eu em um profundo estado de tédio, o que é até paradoxal pois tédio é uma coisa extremamente superficial e que pode ser rapidamente quebrado, uma amiga me apresenta um de seus casos virtuais, um cara de nossas redondezas, que era obcecado pela ex-mulher e que fugia de relacionamentos e coisas mundanas.Sempre tive a intenção boa, queria ajudá-lo, conversamos durante anos, mas sempre houve de minha parte um certo interesse em fazer aquele cara quebrar a cara e acabar namorando ou casando-se de novo.

Certo tempo depois eu já nem me interessava mais pelo sujeito, era lá um contato na minha agenda virtual e de vez em quando eu lhe dava ouvidos e ombros para os problemas cotidianos. Foi em maio que a coisa começou a tomar rumos conhecidos eximiamente por mim, e acabamos nos encontrando em um barzinho perto de casa, claro que ele não sabia que eu morava ali perto, afinal o único contato que eu tinha com ele era virtual, minha residência nunca entrou em questão. Surpreendi-me com a aparência do homem, era lindo, educado e ainda por cima fazia elogios sinceros, os quais eu aceitava com um sorriso tímido e um gole no copo de água gaseificada. Depois de algum tempo de conversa, estendemos a noite em uma boate, cidade grande, horários lotados, nunca se sabe como e quando pode haver outra chance.

Pouco tempo depois, eu me peguei pensando desesperadamente na pessoa, sentindo falta dela, almejando ouvir a voz e sentir o peso do olhar sendo sustentado pelo meu, era inegável que eu já havia caído na rede, a minha própria rede. Saí com ele durante quatro meses e alguns quebradinhos. E pra mim ainda é incrível como eu perco interesse pelas coisas, é tão sorrateiro que basta uma ou duas noites e eu sou outra. Por mais que eu tente, meu sexto sentido se contorce na minha cabeça quando eu penso na pessoa, o que mais tarde se mostra bem fundamentado. E eu comecei a não mais atender as ligações, e-mails e mensagens na secretaria eletrônica. As vezes deixava um recadinho por e-mail dizendo que tudo estava bem e que eu não estava tendo tempo.

Nunca percebi que eu estava fazendo mal àquela pessoa, apenas que não conseguia mais conviver com ela, que eu já havia cumprido meu papel na vida dela, provar que ela estava errada. Se eu estava de fato fazendo mal a ele não sei, mas acredito ter arrancado o curativo que não deixava aquela ferida cicatrizar. Ainda sigo fazendo as pessoas “caírem do cavalo”, colocando dúvidas, enchendo de paradoxos, revisões morais e éticas constantes, as cabeças mais brilhantes e insólitas que acho no caminho. E você se pergunta por que uma pessoa quer tanto provar para outras o quão erradas elas estão. A verdade é que as pessoas não estão erradas, elas só não têm convicção suficiente em suas próprias vidas pra alimentar a vontade e as crenças. Mesmo você acreditando piamente que nunca vai cair, se por um segundo se perguntar se há possibilidade de escape para não fazê-lo, no próximo passo que tomar, a probabilidade de você já estar caindo é tão grande que chega a ser quase certa. Afinal esta é a nossa sina, tomar atitudes para fugir do destino e morrermos afogados e infiltrados por ele. E na vida de muitas pessoas eu fui e ainda sou o destino, infiltrando pelas veias e traquéia, até que se afoguem despercebidas de tal fato até que seja tarde demais.

Tamiris Loureiro
Enviado por Tamiris Loureiro em 08/08/2007
Código do texto: T599029
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