ÉTICA E ECOLOGIA

ÉTICA E ECOLOGIA

A nova consciência global remete a sociedade moderna à necessidade urgente de uma nova relação homem-natureza, um novo olhar, um novo paradigma e principalmente novas atitudes, permitindo o surgimento de uma ética que norteie o comportamento humano em relação ao meio ambiente em sua totalidade. O surgimento dessa nova ética é fundamental para que o ser humano passe a entender melhor sua relação com o planeta; a interação entre os seres vivos e inanimados, responsáveis pela vida na terra e da terra.

A ética ecológica perpassa pela conscientização da problemática ambiental e pela compreensão humana do real significado de sua relação com a natureza. Sem nenhuma lei, que não seja a própria consciência, inicialmente, o homem através de ações sensatas, tem a responsabilidade da proteção e preservação ambiental, para antes de qualquer coisa, garantir a vida na Terra. A ecoética ajudará a formar indivíduos conscientes e compromissados com a vida, dando origem a uma nova postura, e um comportamento calcado num entendimento mais amplo e profundo da relação homem-meio. O compromisso conservacionista e individual dá início a uma nova ordem mundial, é uma filosofia de vida do ser humano, alicerçada em novos valores extra sociais. Sua base científica é o estudo da relação homem-natureza, englobando todas as raças e todos os seres vivos, abrangendo os inanimados como o solo, o ar e a água. Tudo que existe tem sua importância e passa a fazer parte dessa ética ambienta!.

A visão ecológica é uma visão sistêmica, interdisciplinar da vida e do universo como um todo, e o posicionamento ético implica no respeito à vida e a natureza, suporte básico e indispensável à sobrevivência das espécies, principalmente a

humana, que notoriamente é a que mais explora e devasta o meio ambiente. O homem moderno é compelido a viver irracionalmente, intoxicado pelos privilégios do progresso, a geração de riqueza e poder, bem como o consumo desenfreado, que são atitudes altamente predatórias. A reversão desse processo só será possível mediante uma profunda consciência ao mesmo tempo ética e ecológica. O ambientalista brasileiro José Lutzemberg, em seu curso - Equilíbrio e crise do

meio ambiente - já dizia na década de 70 que: "Todos somos pela ecologia, pela preservação ambiental e pelo zelo com a ecosfera, que é a nossa extensão vital. Em particular, conforme atuação do profissional, nossas responsabilidades se especificam: aos educadores, pais e professores, cabe inculcar nas crianças e adolescentes a ética ecológica, a responsabilidade ecosférica, o amor à Natureza em todas as suas manifestações, despertando a reverência à vida, por toda a forma de vida, ensinando a abrir os olhos para a apreciação estética diante das maravilhas do mundo vivo e ensinando as formas de integração do homem em seu ambiente natural". Lutzemberg, já falecido, antevia a necessidade do envolvimento dos mais diversos profissionais a se compromissarem com a educação ambiental, contribuindo de maneira efetiva na fundamentação de uma nova ética ecológica. Sabe-se que a questão ambiental adquire suprema importância na sociedade moderna, a partir dos sérios problemas globais que assolam o planeta e a vida humana.

O físico Fritjof Capra em sua obra - A Teia da Vida - diz que: "Há soluções para os principais problemas do nosso tempo, algumas delas até mesmo simples. Mas requerem uma mudança radical em nossas percepções, no nosso pensamento e nos nossos valores." A necessidade da revisão de valores vai além da percepção humana sobre a natureza, estreitando a sua relação com ela, e requer um novo paradigma para que se construa um novo sentido de vida sobre a terra, associando-se um outro olhar e atitudes responsáveis.

Capra diz ainda que: "Toda a questão de valores é fundamental para a ecologia profunda; é de fato, sua característica definidora central. Enquanto que o velho paradigma está baseado em valores antropocêntricos (centralizados no ser humano), a ecologia profunda está alicerçada em valores ecocêntricos (centralizados na Terra). É uma visão de mundo que reconhece o valor da vida

não-humana. Todos os seres vivos são membros de comunidades ecológicas ligadas umas às outras numa rede de interdependências. Quando essa visão ecológica profunda toma-se parte da nossa consciência cotidiana, emerge um sistema de ética radicalmente novo". A ética ecológica vem oferecer uma visão alternativa sobre a cultura, a ciência, a tecnologia e a natureza, e valores que podem redirecionar atitudes e comportamentos menos destrutivos, transformando-¬os em ações pacíficas em relação à vida e a natureza. O ambiente sofre os efeitos do comportamento e dos atos, dos estilos de vida individuais e sociais. Cada indivíduo, país ou sociedade, ao adotar seu estilo de vida, é responsável pelos impactos que produz sobre o meio ambiente. No atual contexto de desenvolvimento e evolução da humanidade; ao optar-se e decidir-se por padrões sustentáveis de produção e de consumo, também, pode significar um diferencial entre o desastre ecológico e a sobrevivência das futuras gerações, dentro da biodiversidade. A ação humana prudente e responsável, baseada em conhecimento e sabedoria, reduz os riscos de impactos ambientais.

Durante a Rio+5, que aconteceu entre 13 e 19 de março de 1997, foi elaborado um documento de compromisso com a vida e com o desenvolvimento sustentável do planeta. A primeira versão desse documento foi produzida e aprovada pelas nações participantes em forma de pacto que se chamou "Carta da Terra", composta por dezoito preceitos básicos que dizem respeito ao trato com o meio ambiente:

I- Respeitar a Terra e a Vida. A Terra, cada forma de vida e os seres vivos

que possuem um valor intrínseco e têm direito ao respeito, independentemente de seu valor utilitário para a humanidade.

II- Cuidar da Terra, protegendo e restaurando a diversidade, integridade e beleza dos ecossistemas do planeta. Onde houver risco de danos graves ou irreversíveis ao meio ambiente, devem tomar-se medidas preventivas a fim de evitar o dano.

III- Viver de modo sustentável, promovendo e adotando modos de consumo, produção e reprodução que respeitem e salvaguardem os direitos humanos e as capacidades regeneradoras da Terra.

IV- Estabelecer a justiça e defender sem discriminação o direito de todas as pessoas à vida, a liberdade e a segurança, em um meio ambiente adequado para a saúde humana e o bem-estar espiritual. Os seres humanos têm direito de contar com água potável, ar puro, solo livre de contaminações e segurança alimentar.

V- Compartilhar eqüitativamente os benefícios do uso de recursos naturais e a proteção ambiental entre nações, entre ricos e pobres, homens e mulheres, e gerações presentes e futuras, internalizando os custos ambientais, sociais e econômicos.

VI- Promover o desenvolvimento social e sistemas financeiros aptos a criar e manter meios sustentáveis de subsistência, e erradicar a pobreza e fortalecer as comunidades locais.

VII- Praticar a não-violência, reconhecendo que a paz é a integridade criada por relações humanas harmoniosas e equilibradas consigo mesmo, com outras pessoas, com outras formas de vida e com a Terra.

VIII- Fortalecer processos que outorguem poder às pessoas para que participem efetivamente na tomada de decisões e que assegurem a transparência em uma atitude responsável na governabilidade e administração de todos os setores da sociedade.

IX- Reafirmar que as populações nativas e tribais têm papel vital no cuidado e proteção da Mãe Terra. Elas têm o direito de salvaguardar a sua espiritualidade, conhecimentos, terras, territórios e recursos.

X- Afirmar que a igualdade de gênero é pré-requisito para o

desenvolvimento sustentável.

XI- Assegurar o direito à saúde sexual e reprodutiva com referência

especial às mulheres e meninas.

XII- Promover a participação da juventude como agente responsável pela

mudança, visando a sustentabilidade local, regional e global.

XIII- Fazer avançar e colocar em prática o conhecimento tanto científico

como proveniente de outras fontes e as tecnologias, que promovem a

existência sustentável e protegem o meio ambiente.

XIV- Assegurar que todas as pessoas ao longo de sua existência tenham

oportunidade de adquirir os conhecimentos, valores e habilidades

práticas necessárias para edificar comunidades sustentáveis.

XV- Dispensar a todas as criaturas um tratamento compassivo e protegê-Ias

da crueldade e do aniquilamento arbitrário.

XVI- Não infringir ao meio ambiente dos outros o que não queremos que

façam ao nosso.

XVII- Proteger e restaurar áreas de destacada importância ecológica, cultural,

estética, espiritual e científica.

XVIII- Cultivar e praticar um sentimento de responsabilidade compartilhada pelo bem-estar da comunidade da Terra. Toda a pessoa, instituição e governo é responsável pela conquista de metas de justiça indivisível para todos, a sustentabilidade, a paz mundial, assim como o respeito e

cuidado por toda a comunidade viva. FONTE: (www.ecologizar.com.br).

Observa-se que a Carta da Terra estabelece alguns preceitos básicos sobre a relação do homem com o meio ambiente, uma espécie de tratado entre países e

nações preocupadas com o planeta, com o futuro e a sobrevivência da humanidade. Ricardo Timm de Souza em sua obra - Ética como Fundamento - diz que: "A ecologia é todo o desdobramento ético de autocompreensão do ser humano no lugar que ele habita, que ele funda, de onde ele provém, e que convém cuidar, a bem da possibilidade de um futuro humanamente digno." Sabe-¬se que o planeta é a casa do homem e mais do que isso, é uma extensão dele, há uma relação vital a ser preservada, evitando-se o esgotamento dos recursos naturais e a extinção das espécies, dentre elas a raça humana, que mais devassa o meio ambiente. Portanto ética e ecologia são indissociáveis à medida que a primeira representa as ações do homem, e a segunda, parte da compreensão do espaço que o homem ocupa. Ricardo Timm de Souza afirma que: "Ética é o agir próprio do ser humano no exercício de sua liberdade, e que se dá em um lugar, em um locus específico do universo. Ecologia é a compreensão deste locus, compreensão, que como vimos, apenas se pode dar a partir de um fundamento ético que permita pensar, que permita a reflexão a partir da relação do ser humano com o mundo sem o qual o humano não pode existir." Há de se refletir que a vida, a sobrevivência de todas as espécies depende exclusivamente da relação que o homem estabelece com o meio ambiente e nesta relação mais do que em qualquer outra, a ética é uma questão de vida ou morte.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:

MOSER, Antônio. O problema ecológico e suas implicações éticas, ed. Vozes. CAPRA, Fritjof. A teia da vida, SP, Cultrix, 1996.

SOUZA, Ricardo Timm, Ética como fundamento, ed. Nova Harmonia.

SITE: www.ecologizar.com.br

Lislopes
Enviado por Lislopes em 11/08/2007
Código do texto: T602355