Sonhei que o mundo ia acabar

Sonhei que o mundo ia acabar, ou, pelo menos, o Brasil. E a causa era um fenômeno estranhíssimo com a nossa atmosfera, que adquiria as cores mais absurdas até que, lentamente, se tornava irrespirável. A ciência não fazia a ideia do que estava causando aquilo e nem como impedir. A única saída possível era voar para acima da própria atmosfera. E, no sonho, nós voávamos, flutuávamos, ou simplesmente nos deixávamos subir, mas sem muito sucesso, pois acabávamos trombando nas construções existentes. E em algum momento veio a certeza: todos morreríamos.

Embora em alguns isso causasse desespero, em mim havia uma profunda paz, praticamente uma alegria. Apenas tratei de encontrar a minha mãe e o meu pai e dizer para eles o quanto eu os amava e todas as coisas que eu ainda não havia tido tempo ou coragem para dizer. Ouvi coisas semelhantes em resposta, e não sei como aconteceu, só sei que parecia que estávamos todos tão unidos neste momento da morte, e havia um sentimento tão forte de ajudar um ao outro, que de repente tudo se revelou e nos contaram que não iríamos morrer coisa nenhuma, e logo a própria atmosfera voltou ao normal. Parecia que era um jogo de marketing, uma pegadinha ou algo do tipo.

Eu fiquei admirado com aquilo e perguntei-me se valia a pena ter feito semelhante trabalho, ainda que fosse em nosso benefício, pois muitas pessoas não haviam suportado aquela realidade e chegaram a se suicidar. Não tive resposta, mas senti que de alguma maneira eu “perdoava” os criadores daquela brincadeira, e descobri que, no momento em que decidíamos ajudar ou fazer algo pelas outras pessoas, eles haviam nos soprado incentivos, “sim, sim, ajudar!”. Não era intenção deles que nós morrêssemos, afinal.

E tudo isso me pareceu uma grande metáfora da nossa vida e do nosso próprio “estar no mundo”.

Frederico Milkau
Enviado por Frederico Milkau em 03/07/2017
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