Independência de pensamento

Sobre essa história de buscar, continuamente, o “conhecimento”, tarefa essa que, havendo de fato um mundo espiritual, parece continuar “do lado de lá”, eu me pergunto em que medida isso não é impedido pela simples adoção de uma religião. Isto é, quando eu escolho uma religião para seguir, estou validando um sistema de crenças de cuja construção eu não participei. Por mais que eu estude e assim aumente o meu conhecimento a respeito desse sistema de crenças, ele tem as suas próprias barreiras, fronteiras que não poderei passar, sob pena de invalidar todo o conjunto de verdades que adotei como o ideal.

De maneira que a minha busca pelo conhecimento nunca poderá ser plena, porque sempre trarei comigo as verdades da minha crença, da instituição ou da ideologia que a representa. Ter uma religião pode, muitas vezes, representar a “cristalização” do meu conhecimento. Aceito as verdades que ela me oferece como as respostas últimas dos grandes mistérios do Universo e paro de pensar a respeito deles. No entanto, a mim me parece que aquilo que podemos chamar de “realidade” é complexo demais para que possa ser abrigada por uma única crença criada por homens.

Mesmo que um homem tenha revelações divinas, ou que ouça espíritos superiores, eu devo criar o meu próprio caminho em busca do conhecimento, e não simplesmente validar a doutrina que me foi apresentada pronta. Pode ser que existam verdades nessa doutrina, mas pode ser que eu precise corrigir e enxertar outras. Reconheço problemas nessa espécie de “customização” de Deus, típica dos nossos tempos, mas acredito que essa independência é necessária.

Frederico Milkau
Enviado por Frederico Milkau em 05/07/2017
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