Os pais que quedaram mortos, atingidos pela infâmia perdida ou perdulária das balas perdidas, lhe deram herança de uma vida e do mundo suas muitas vidas pra viver. Ele se esforçou e anda seminu, de calças sem vexame, adquirindo a injusta arte de sobreviver nas ruas ingratas. Se foram seus pais e ficaram as lições a preencher. Uma navegação realista sob o império dos mares das madrugadas sofridas. A cada alimento em sujas carências se alimenta de esperas, amores feridos de mãe extinta, do tudo que restar dos modismos dos almofadinhas da vida moderna, cada qual no seu galho de necessidades dúbias: uma como esquecido na miséria e o outro nos antros belos insossos dos mil restaurantes sem sono. Cadê a benevolência?

      Menino pobreta, desfavorecido em sonhos, a dançar por mesadas de automóveis que lhes assistem com pesar ou desserviço das gentes. Um mundo seu de ruas violentas, muros sem loucura em caros posters, impuras educações e sevícias, desertas esquinas sem marquises. Um filho dessa inconteste modernidade com falsas necessidades a matar as crianças caladas numa fome em pleno urbano. A eles algum deus se arvorará em sanar as feridas sem cura, descaso e malícia das muitas autoridades que se declaram mudas, omissas de braço cruzados.
E este jovem está acolá, diante de mim, de você que mal escuta. de nossa desapiedada sociedade. e vive brincando com sua ruína da infância que restou, alforriado pela crueza dos piores fatos da vida. Sua realidade cruza com engravatados no centro da cidade, entre carros assim velozes por ganância de esfolarem o asfalto, a todos que surgem das ruelas infames ou rodovias ainda inexistentes como pesadelos. Ele morre por cada um, por mero nada, num instante vago de um embargo de ser notícia, um exemplo de estatísticas enfadonhas, quiçá ausentes...

       Anda pelo mundo dos homens, desse adultos fartos dos maus salários que fazem sorrir os vintage capitalistas sorridentes com ouro devido na boca.
Se sente filho do mundo, desta terra que o engloba como mais um, nesses instantes de desgosto de jornalecos rudes, a notícia sombria em plena luz corante. Um menino como criança que cresce na anti-paternidade dos becos e suja em benesses impudicas dos "generosos" bens cristãos ou civilizados. E pra que culpar isso se ele ignora a maturidade nunca vinda e que nunca lhe virá com favores? A minha poesia não lhe servirá de enfeite pra comer vazio.

        Eu o vejo ali, antes por aí e em muitos em parques sem jardins incultos ou bancos pra se sentar. Imerso nos folguedos e trabalhando tão cedo quanto madruga. Seus passos me afetam a poesia e o amor de uma crença - pouca, mas uma - na humanidade imprudente. Corro a ver onde irá seu destino selvagem, lhe acompanhando o descaminho pelas favelas que o esconde de meu temor urbanista de sempre. Contudo lhe conheço o nome, a esticada sobrevivência sem nome, e, idem, seus pseudônimos nas ruas cansadas de trânsitos sem vergonhas. Tudo que lhe pediria é tomar atenção, o cuidar-se do mal alheio e, se pudesse de certa forma, oferecer a esperança útil que conjugo para além de minhas posses, entretanto não daria certo com efeito. Com piedade lhe verei sempre pelas ruas em cada olhar de outros tão co-iguais e tão irmãos no sofrimento humano. Realidade que me fere e conspira chagas pela vida. Nada posso fazer sem autoridade, coação e muito mais que os governos jamais fazem. E a esperança caminha com este garoto, e não depende vesti-lo com sacralidade do intelecto. A boa vontade só governa tiranos de farda, batina e paletó, porém ela se esvai no valor cego das palavras. Uma boa vontade desconhece sistemas de governo inerte...ou cada macaco no seu galho?

       Os fatos duros ou malévolos do mundo comum exigem alguma coersiva explicação. E a sociedade impõe respostas que não se inventam por ora, se omitindo e deixando aos pósteros chocados com isso. Assim quase deve de ser, senão não contaria ver sentido errado em tudo que acima me referi. Um menor abandonado é um adulto sem o seu amanhã corrigido. Nele se desperta uma afronta, a batalha por ilustre dinnherio de quem deveria ousar tentar mudar, se conjugando perdido como se queira. Esta vida nem tanto deveria ser assim vilã. E mais uma vez o menino se transtorna e vira um adulto que mal confimaria correto ter crescido na injustiça. 
      As coisas não são certas em linhas tortas do bom ou mal juízo. E muitos garotinhos soltos pelos descaminhos urbanistas não terão futuro. E sem os pais a vida de cada um simula verdades incompletas.
      Para onde se levará a espernça de um deseperado desmotivado, sofrido e acalentado pelo sofrer? Cadê a bondade verdadeira se ela se mascara com mediocridades do tipo auxiliar, de um governo qualquer que realemente se importasse? 
Francisco Carlos Amado
Enviado por Jurubiara Zeloso Amado em 08/07/2017
Código do texto: T6049164
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