Memorial do Convento e a metáfora de Ícaro

Memorial do Convento e a metáfora de Ícaro

Conta a mitologia grega que Dédalo, o genial construtor de Atenas e pai de Ícaro, construiu o labirinto para encerrar o Minotauro, a pedido do deus Minos, e para que o segredo fosse mantido, pai e filho foram trancafiados no labirinto. Com a ajuda de Persifae, eles escaparam, mas ambos precisavam fugir da ilha de Creta. Dédalo inventou dois pares de asas com penas e cera, para que pai e filho pudessem fugir.Dédalo recomenda a Ícaro, que este não se aproxime do sol, sob pena de ter suas asas derretidas, porém o filho entusiasmado pela emoção do vôo, não obedece ao pai, caindo no mar e morrendo. Depois de enterrar o filho, Dédalo alça vôo até chegar ao sul da Itália. Minos passa a perseguir Dédalo, fazendo parada em todas as ilhas, levando consigo uma concha fechada em espiral, pretendendo que Dédalo fosse capaz de passar um fio de um extremo a outro, pois sabia que somente Dédalo saberia o segredo. Dédalo chega à Sicília e lá dedica suas asas ao deus Apolo e empenha-se na construção de um magnífico templo, com telhado de ouro e portas de bronze. Desde então passa a ser protegido pelo poder de Apolo.

A intertextualidade entre a obra Memorial do Convento e o Mito de Ícaro e seu sonho de voar, é claramente perceptível na substituição das metáforas. Pe. Bartolomeu, como Dédalo é dotado de genialidade e perseguido pela igreja. Ícaro morre como vítima da invenção do pai, o sol é o agente da destruição de suas asas. Assim aconteceu com Baltazar, quando a passarola repentinamente voa, levando-lhe sem rumo e sem volta. A busca de Blimunda por Baltazar, de um canto a outro metaforiza o sonho da união dos extremos e porque não dizer, do próprio labirinto. A peregrinação de Dédalo e sua decisão de construir o magnífico templo de Apolo, após o vôo solitário, se observa no retorno de Baltazar como trabalhador da construção do Convento, pois após ter alimentado o sonho de liberdade, há um visível retorno à submissão. Fogueira e sol são fontes de energia responsáveis pela morte de Baltazar. A frustração do sonho de liberdade está presente nas duas leituras, através da dispersão e da opressão sofrida por seus idealizadores.

José Saramago em sua genialidade consegue com maestria transpor o mito do sonho de liberdade inerente aos humanos, para a história real de seu país, mostrando que, independentemente, do espaço e do tempo, o sonho de ser livre vai se perpetuando no imaginário do homem, faltando sempre unidade e vontade.

Tanto quanto o mito de Ícaro, Memorial do Convento fala de liberdade e opressão, e ambas metaforizam o sonho de liberdade inerente ao homem, porém, sempre vencido pelo poder e pela opressão ao longo da história da humanidade.

Bibliografia

SARAMAGO, José. Memorial do Convento. Círculo do Livro, 1987.

Wikipédia- Héroes de la mitologia griega.

Lislopes
Enviado por Lislopes em 13/08/2007
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