Stalkear os mortos

Confesso que, quando fico sabendo que morreu alguma pessoa do Facebook, eu faço uma visita ao perfil dela em busca das suas últimas postagens. Que quero com isso? Não sei, quem sabe ver se, de alguma maneira, havia algum sinal de que a morte estava se aproximando. Principalmente nos casos repentinos. Se há alguém que tenha o controle das nossas vidas, se não é o puro acaso que guia o nosso destino, então é de se imaginar que haja certa preparação antes de chegarmos ao fim, isto é, não morreremos de qualquer jeito. E talvez seja possível perceber sinais dessa preparação por meio de um canal tão popular e em que as pessoas expõem tanto a sua vida como o Facebook. Falo em algo inconsciente mesmo, algo que só depois, consumada a tragédia, é que iremos compreender o significado. E provavelmente vamos achar que é irônico, as coincidências, quando trágicas, sempre nos parecem irônicas.

Bem, mas isso tudo é simples especulação. Normalmente eu não vejo, nos perfis dos recém-mortos no Facebook, nada que pudesse denunciar a aproximação do fim. Todos parecem tão alheios, por vezes estão, no dia da própria morte, compartilhando um meme ou um vídeo engraçado. E, no entanto, dali a pouco estarão mortos. Há alguns dias uma menina compartilhou uma mensagem falando sobre a gratidão que é acordar de manhã e ouvir do céu: “Hoje tudo dará certo”. Ela postou isso pela manhã e morreu à noite.

Trágico. E irônico.