E AÍ, DOUTOR HONORIS, QUAL É A SUA CAUSA?

Hoje, frequentemente nos deparamos com a discussão sociológica sobre o tal vocativo “doutor”, uma palavra super interessante porque permeia várias situações inusitadas da vida, as de sentido conotativo e/ou denotativo.

O assunto já virou polêmica, quase uma “guerra fria” ... e “DOUTOR”, entre nós, a depender da hora e do lugar, é quase um vocábulo de conotação pejorativa. Uma saia justa.

Em certas ocasiões que exigem óbvio “respeito” ao título de outrem já é preciso até se pedir pela tal qualificação de direito em ambiente de sutil zombaria.

“então, como devo chamá-lo, seria...de doutor?”

Dia desses, por aí, num fórum de debates, me deparei com um texto muito elucidativo do ponto de vista didático, que explicava que o vocábulo DOUTOR funcionalmente não é um apetrecho linguístico disponível ao mero sonho de consumo dum ser em sê-lo, ou só um enfeite que se coloca pré-nome com a facilidade que hoje o colocamos pela vida, e sim um nobre título acadêmico que qualifica o profissional que o defendeu em “ tese de doutorado” em algum assunto das ciências do conhecimento.

Perfeito, e convenhamos, em tese, algo cada vez mais raro entre nós.

Todavia, muito há que ser repensado sobre a devida “honraria” já aculturada como vocativo.

“E aí doutor, vai encher o tanque hoje?”

Culturalmente, desde lá atrás, o tal pronome hoje tão discutido em certo demérito, dirigido até com um certo e notório ranço social a quem o conquistou por mérito de vida, é concedido historicamente a quem se gradua em ciências médicas e ciências jurídicas.

E assim seguiu tal direito pelo tempo, hoje a incomodar "gregos e troianos".

Curiosa...essa dinâmica.

Sequer imaginariam a confusão social dos diabos que tal conotação "doutor" daria lá na frente...pelo todo decorrido.

Não saberia dizer a quem me lê se o tal conhecido e honorífico carimbo de “doutor” foi incorporado ao nome de Hipócrates, quiçá naquela época não merecesse ele o seu título acadêmico de doutorado, nem a hoje tida como equivocada reverência vocativa, todavia, pelo tempo Hipócrates se consagraria notavelmente pela sua "honoris causa" de vida: hoje ,ele a receber o título acadêmico de direito público pela História: O Pai da Medicina.

Talvez ele nem soubesse da sua honraria de hoje em dia e eu não saberia quantificar o que isso mudaria sua vida, lá atrás.

Ouso dizer que absolutamente nada mudaria.

Talvez tenha morrido sem saber que era doutor...

Confesso que ainda não presenciei ninguém contestando seu merecimento, todavia, é apenas questão de tempo e acredito que Hipócrates terá que negociar sua Honra pelos mesmos ranços da História da Humanidade.

E por falar em tempo, o tempo passou demais, a humanidade mudou, as revoluções axiológicas hoje ocorrem a cada segundo, nem sempre para melhor , é verdade, o espaço ficou pequeno demais para tantos títulos de doutores "lato senso" gritados ao término das diversas vidas acadêmicas, e em tese, talvez fosse até mais fácil defender uma hipótese sobre um “stricto” assunto da extensa área do saber para se deitar na cama da fama honorífica duma vida inteira graduada na causa, e assim, se ser um “doutor” de Direitos linguístico e acadêmico justificados e aceitos socialmente e sem contestação rançosa.

Hoje, o tal vocativo passou a ser causa social e política a enfeitar todas as horas.

O mundo começou a reivindicar o tal vocativo a todo custo, em nome da igualdade de direitos, inclusive.

Como se fosse uma sublimação da vida dura, um ópio social a ser reivindicado a qualquer preço.

Entendo que num planeta tão descaracterizado de sentido em vida talvez se acredite que o título “doutor” amenize toda a dor.

Mas isso é só poesia.

E assim, como uma necessidade premente de se criar um atalho menos sofrido ao título de “doutor”, se criou a figura da HONORIS CAUSA; várias causas na quais se pode ser doutor em tudo sem se ser doutor em nada, título em coroa, advindo do latim e a significar “ um ser douto possuidor duma honra pelo trabalho laborado com mérito humanístico, ainda que em tese, uma nobre causa defendida em vida e em prol da vida”.

Algo que já é uma douta missão natural e implícita a todo ser humano...

Aí a tal coroa de doutor desandou de vez e a toque de caixa, no estalar das intenções, hoje se faz um doutor para quaisquer causas.

Eu explico sem mérito, longe de conhecimento douto algum em sociologia, só em tese de observação assertiva: é porque nem sempre a conotação do título doutor em mérito corrobora a denotação honorífica dos seus feitos em vida.

Corre-se o risco pífio de se carregar um título vazio no mérito das causas, portanto.

Ainda que seja ele um elixir de título ao meio faminto de tudo.

Mas o academicismo nas ciências políticas... ninguém o discute.

Volto lá em cima a fazer a pergunta do meu tema: E aí doutor Honoris, qual é a sua causa de hoje? “ vamos encher o tanque ?”

Só para, em tese, concluir o meu ensaio: num meio em que as crianças sequer conhecem o alfabeto da língua mãe é praticamente impossível se ser "doutor" linguístico ou acadêmico em alguma coisa...

O que nos torna mais fácil se ser um prático doutor em alguma coisa.

Se se Doutor em vida...do verbo viver, já nos basta.

Partamos portanto, para o urgente doutoramento nas nossas HONORIS CAUSAS, então.

ÀS NOSSAS NOBRES TESES DO DIA-A DIA!

Essa, a exemplo, a de se sobreviver em vida dignamente, acreditem, já nos garante o reverente título de DOUTOR HONORIS CAUSA a todos nós, LATO SENSO, todos igualmente na dura lida, tão pobres que somos todos de nobres causas defendidas, na igualdade sonhada e tão proclamada, com toda a honra do mundo e o que é mais louvável, sem ofender e nem constranger ninguém.

Em conclusão:

Talvez seja por isso que a nobre e anônima SABEDORIA dispensa títulos e falsos status, virtude cuja nobreza e honra naturais jamais se renderiam às negociações imediatas das tantas coroas vazias da nossa atual vida.