Com afinco

Numa inspiração cabe o arrepio, num vulto sinto o vazio.

Procuro acudir-me em meio à transição.

Tragam-no aqui, perdoem meu coração.

O culpado do meu doce calafrio, o mundo me faz solitário e frio.

A ver navios ou neves. Leve este casaco contigo, não mais me serve.

Imberbe lição que acabei de descobrir, sentindo o meu querer me faz querer não o sentir.

Respiro fundo novamente e, no oco, ecoa minha voz.

Tem almas que vem conosco, nosso "eu" não somos nós.

Calma... segure-me neste degrau logo acima. Não sente minhas lágrimas tocar teu rosto? Olhe para minha face de menina.

Caminhando só, em busca de algo que, no futuro, saberei. Por enquanto só o busco algo que me integre. Aliás, de tentar, cansei.

Onde se guarda o peso dos sacrifícios? Pobre, temente à si mesmo, não enxerga além do próprio umbigo.

Respiro, repito, me envolvo e distraio. Em um pouco, a cada ponto, do meu fim eu me valho.

Não consigo mais respirar, nunca foi do meu feitio. Ter que depender de vento que não me preenche, um ar sombrio.

Prefiro aquele lírio, logo ali plantado. Não se pergunte o porquê não o enxerga. Um dia, quem sabe, de ti me valho, enquanto a luz te penetra.

Te mostrarei as voltas que a ventania dá no fundo daqueles mares. Aqueles cálices dourados, todos bordados com detalhes.

Por enquanto, respira, não se contenha. Sente os ares do corpo e da alma. O encontro da evolução está no acerto e nas falhas.

Maísa C. Lobo, 01:16h, 24/11/2017.

Maisalobo
Enviado por Maisalobo em 24/11/2017
Reeditado em 20/04/2018
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