Os mortos divergem

Lendo outro livro do padre François Brune (novamente o negócio da transcomunicação), chamou-me a atenção a questão das contradições existentes entre as mensagens que, supostamente, se recebe lá do Além.

Isto é, quando essas entidades ou coisa que o valha passam, pelas ondas do rádio, mensagens de conteúdo mais abrangente e destinado a toda a humanidade, descrevendo detalhes da vida do outro lado e dos processos a que estão sujeitos, frequentemente elas dizem coisas contraditórias entre si.

E o padre mostra, inclusive, um caso em que uma mesma entidade entra em contradição consigo mesma. Esse tipo de diferença também pode ser percebida se compararmos diferentes relatos obtidos através de métodos como a psicografia: sempre há detalhes importantes que se mostram divergentes. Admitindo que não seja o caso de todas elas serem fraudes, mas que sejam, de fato, comunicações genuínas, o que explica essas contradições?

O padre Brune sugere a existência de diferentes níveis de vida no Além, sendo que a que pode entrar em contato conosco habitaria meramente os “subúrbios” do mundo espiritual. Isso tem implicações interessantíssimas, porque então todos os mortos a que tanta gente se empenha em ouvir, embora estejam, de fato, em um plano superior ao nosso, não estariam no plano mais superior de todos, de tal maneira que elas também não estão em condições de falar do que está acima deles. Nem por isso, como nós, eles deixariam de tentar e ter as suas próprias teorias a respeito do funcionamento de tudo, e que seriam as que passam a nós, quando instados.

Parece loucura, mas existe uma possibilidade de que exista vida após a morte e que, do lado de lá, continuemos tão perdidos quanto aqui, cada um com a sua própria interpretação e explicação para a pergunta “por que estamos aqui?”.

E da mesma forma que aqui na Terra muita gente considera a realidade da matéria como a única possível, no outro lado haveria gente considerando que não existe mais do que aquilo que eles já estão vivendo lá. No entanto, todos podem estar sinceramente enganados e passar a nós, os vivos, uma visão apenas parcial da vida após a morte.

Se tamanha confusão, que tanto nos emaranha, também acontece entre espíritos, é de se imaginar que o próprio Deus, se existe, não se faz revelar nos primeiros estágios da vida que segue à morte. Não seria absurdo, então, encontrarmos um espírito ateu, ao mesmo tempo em que haveria um espírito cristão, e um espírito de qualquer outra religião – tantas quantas temos aqui.

Todo mundo, no entanto, precisaria passar por alguma etapa a fim de chegar a um nível superior, da mesma forma que nós passaríamos no momento da nossa morte a um estágio acima. Mas como os mortos “não morrem”, não sabemos que tipo de passagem seria a responsável por fazer um morto subir de nível e se afastar dos interesses da vida na Terra.

Uma vez conseguido, no entanto, ele estaria cada vez mais longe da realidade terrestre, vivendo com interesses que nós nem somos capazes de imaginar, e apenas muito eventualmente, por propósitos bem específicos, se “dignaria” a fazer algum tipo de comunicação com esse nosso mundinho sofredor.

O que nos leva a uma pergunta: teria sido um desses momentos a decodificação passada a Allan Kardec ou, ao contrário, os espíritos que ouviu não eram tão superiores como ele julgava, mas, como os outros, apenas espíritos ainda ligados à Terra e que acreditavam firmemente no que diziam, como também nós que aqui estamos acreditamos firmemente em uma porção de coisas?

Para admitir a hipótese de que não estavam no mais superior dos níveis possíveis, bastaria encontrar uma única contradiçãozinha, um único equívoco nas informações prestadas a Kardec, uma única informação que, à luz do conhecimento atual da humanidade, tenha se revelado falsa ou mesmo inexata.

Receio que essa informação possa existir.

Frederico Milkau
Enviado por Frederico Milkau em 15/12/2017
Reeditado em 15/12/2017
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