Vidente irresponsável

Mas há cada vidente irresponsável! Imaginem vocês que houve uma menina que, movida por algum tipo de curiosidade, resolveu acompanhar uma amiga até um centro espírita. Nunca havia estado em um lugar como aquele, nunca havia tido contato com aquele tipo de crença. E eis que de repente vem uma mulher e diz para essa garota que a mãe dela “tem menos de um ano de vida”.

A revelação foi dita de supetão, à queima-roupa. Bela coisa para se dizer para quem vai pela primeira vez a um centro espírita! Ora, não é de se admirar que a menina tenha ficado em estado de choque. Vendo que causara o desmoronamento de uma pessoa, a vidente se desculpou, disse que apenas achou que seria melhor para ela se preparar desde já. E depois foi embora, viver normalmente a sua vida.

A menina, no entanto, teve que ficar com o estrago, e com ele está até hoje. Passou a ser uma pessoa extremamente sensível, que vive chorando e não sabe direito a razão.

Pois bem. Dois meses depois do prognóstico da vidente, eis que a mãe dessa menina descobre um câncer. Certamente, ela imediatamente remeteu às palavras que recebeu no centro. A doença evoluiu, tudo tem sido feito para tentar salvá-la, mas em vão: é provável que ela não chegue a viver um ano desde que a vidente fez a sua revelação.

Ora, vamos admitir que essa vidente tivesse com a razão e que a sua revelação, como parece, se concretize de fato. Muito bem. E quanto ao desespero em que ela deixou essa família, que agora mal pode encontrar forças para lutar contra o que já lhe parece uma sentença irrevogável?

Quer dizer que é só jogar umas palavras de morte na vida de alguém, e então cessam as suas responsabilidades sobre a vida daquela pessoa? Era para que ela pudesse se preparar, disse ela. E isso se diz assim, na lata, para uma pessoa que vai até o centro pela primeira vez?

Ora, não é de espantar que a menina se arrependa hoje, amargamente, do dia em que botou os pés naquele lugar. Que falta de sensibilidade dessa vidente! Imagino que ela ainda tenha muitas encarnações pela frente.

Frederico Milkau
Enviado por Frederico Milkau em 23/12/2017
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