Hawking e Santo Agostinho

A objeção que Stephen Hawking faz à existência de milagres é mais antiga do que ele mesmo imagina. E nem por isso tem sido suficiente para eliminar a fé, como ele aparentemente acredita que seria. O que Hawking diz é que não se pode conceber um Deus que, para promover um milagre, venha a quebrar as próprias leis que determinou para o funcionamento do Universo. É uma observação perspicaz e que pode render boas reflexões, só que não é nenhuma novidade.

Santo Agostinho, ainda no século V, já tinha em mente esse problema, para o qual sugeriu também uma solução: “Milagres não são contrários à natureza, mas apenas contrários ao que sabemos sobre a natureza”.

Talvez, um dia, surjam explicações naturais para o que hoje classificamos como milagre simplesmente por não termos conhecimento suficiente sobre os fenômenos envolvidos. Mas Hawking parece acreditar que não exista nada de muito importante que a humanidade ainda desconheça a respeito do funcionamento do Universo. Bastariam alguns ajustes aqui e ali para conciliar a gravidade com a mecânica quântica e pronto: eis aí a “teoria de tudo”.

Seja como for, a posição de Santo Agostinho dá a entender que todos os milagres podem ser explicados de acordo com as leis da natureza, e que, portanto, elas não seriam quebradas em hipótese alguma. E mesmo sendo assim, nem por isso estará completamente eliminada a ideia de uma intervenção divina no caso.

É a mesma coisa que acontece quando Hawking diz que não é preciso recorrer a Deus para explicar como o Universo funciona, achando que isso o eliminaria definitivamente. Elimina apenas o “deus das lacunas.”

A uma pessoa como Santo Agostinho, os milagres não quebram lei nenhuma, e continuam sendo milagres.

Frederico Milkau
Enviado por Frederico Milkau em 29/12/2017
Reeditado em 29/12/2017
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