Política na igreja
Mal começou 2018 e já há relatos de candidatos usando o púlpito de igrejas para fazer campanha velada. Eu mesmo presenciei alguns desses momentos no meu tempo de igreja evangélica. Embora ninguém te aponte uma arma na cabeça e te obrigue a votar no candidato apoiado pela igreja, você fica constrangido se não votar nele.
Em 2010, eu votei contra a minha consciência. Votei pensando em uma estratégia que me havia sido passada pela liderança da igreja e com a qual eu não chegava a concordar. Mas a coisa é passada de tal modo que, se não votar, você se sente indo contra o próprio Cristo. Foi um grande alívio para mim quando descobri, alguns anos mais tarde, que era possível ser cristão e defender a separação entre a igreja e o Estado.
De maneira que deixou de ser compreensível e mesmo aceitável a intromissão de políticos no púlpito de igrejas. Quando isso acontece, é grande o risco de “vazar” a informação, isto é, de o “mundo” saber que um pastor chamou um político para falar durante os cultos.
Ora, a imagem que a igreja tem perante os não crentes já não é das melhores, e se torna ainda pior quando eles descobrem a sua relação com a política - que, para nós, ainda é sinônimo de sujeira. A aproximação com a política afasta os não crentes não apenas dessas igrejas, mas do próprio Cristo que nelas é confessado.
Caso a igreja consiga o seu intento e eleja os seus candidatos, nem por isso causará melhor impressão entre os que não creem. Pelo contrário. Não há até hoje o relato de uma única conversão causada pela ação da bancada evangélica em defesa da família e dos valores cristãos.
Há, isso sim, muita gente que, diante de tudo o que os deputados evangélicos têm feito, desistiu de vez de frequentar alguma igreja, e sabe-se lá se não desistiu também de acreditar na existência de Jesus. A bancada evangélica, em sua desastrosa ligação entre política e fé, não tem feito mais do que afastar pessoas de Jesus.
Talvez esses deputados e esses pastores que chamam candidatos ao púlpito não tenham percebido ainda que não se faz cristãos na base da canetada, e que o ser humano, quando lhe tiram a liberdade de escolha, acaba sempre se voltando contra os que lhe tiraram. Não há Cristo que possa ser aceito sem uma consciência livre.