Educomunicação: resultado da aproximação entre Comunicação/Educação

Há décadas, escola e mídia caminham juntas, “ora se namoravam ora se divorciavam ” na tentativa de resguardar sua autonomia e especificidade. Ao mesmo tempo em que a educação formal – ou informal – via o poder da mídia e trazia sua reflexão para dentro do seu âmbito, se deparava com sua “incapacidade” – às vezes, inconsciente – de trabalhar o tema.

Surgiram tantos caminhos ao longo dos tempos. Primeiro vieram as leituras críticas dos programas, dos telejornais, jornais, revistas, dentre outros. Logo percebeu-se que era pouco. Faltava algo que fizesse uma revolução significativa, isso porque até então, o estudo contemplava o poderio da mídia e/ou enfocava a questão da alienação que os mesmos provocavam no receptor – um ser passivo.

Como os estudos de Jesus Martín-Barbero sobre a recepção foi possível encontrar o caminho ideal para o estudo. Dessa forma, deixou-se o lugar comum praticado até então, com a leitura crítica dos meios para uma significativa postura – a da negociação. Isso mesmo, o receptor tem sua história, sua cultura, suas preferências e, portanto, pode escolher, optar pelo que vê e ouve e fazer negociação de sentidos.

Revolução eletrônica

Com a chegada dos anos 90, o mundo assistiu a revolução tecnológica modificar o cenário e derrubar limites. A informática deixou de ser sinônimo de lazer para se unir ao trabalho. O texto escrito se aliou ao imagético, a ciência fez parceria com a arte e o entretenimento anda junto com a pesquisa. Essa revolução trouxe novos desafios para dentro da escola e mais precisamente para dentro da sala de aula, que agrega educadores e estudantes imersos nesse contexto. A escola, no entanto, foi pega de surpresa. Mas não pode desprezar os conhecimentos necessários para lidar com essa realidade sob pena de frustrar as expectativas do seu educando que tenha por objetivo de sua formação a capacitação para o trabalho.

Conhecer o computador como um meio de comunicação que transpõe os muros escolares é o primeiro passo. Mais importante é apropriar-se dele e de sua linguagem multimídia, quebrando, assim, a resistência daqueles que ainda estão presos ao texto escrito. O momento é interdisciplinar. Educação e Comunicação unem o construtivismo como proposta pedagógica e as mediações como ciência da comunicação na tentativa de elaborar projetos que centrem seu interesse no público receptor.

A educomunicação no Brasil, América Latina e EUA

O Núcleo de Estudos de Educação ligado à Escola de Comunicação e Artes – NCE/ECA – da USP tem fomentado a criação desse novo campo do conhecimento, resultante da aproximação da educação e comunicação, a educomunicação. Em 1999, organizou o primeiro Encontro Internacional de Comunicação e Educação, em São Paulo. Nesse mesmo ano, o MEC organiza o Fórum de Mídia e Educação dando abertura aos meios na educação. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996 abriu espaço para a introdução da comunicação na educação, no entanto, a lacuna continua por falta de formação dos educadores, uma vez que as faculdades de educação desconhecem o tema. Ainda, o NCE em parceria com a Secretaria de Educação Municipal de São Paulo implantou o projeto “Educomunicação nas ondas do rádio” em 450 escolas públicas da cidade.

Na América Latina não tem sido diferente. A Família Salesiana (congregação religiosa) das Américas tem estudado com afinco a área. Em Cumbayá, em 2000, mais de 1200 representantes de escolas incluíram metas de gestão comunicativa em seus projetos. Na Venezuela, o Estatuto da Criança e do Adolescente tem artigos garantindo o “direito da jovem geração à expressão e a uma pedagogia da educação para a recepção crítica dos meios de comunicação”.

Nos Estados Unidos, o estudo da educomunicação se manifesta em duas áreas: mediação tecnológica (information literacy – amplia o campo da expressividade das novas gerações) e educação para a comunicação (media literacy – educação frente aos meios de comunicação). Na América Latina, a educomunicação se manifesta também numa terceira área, a gestão da comunicação em espaços educativos – ecossistemas comunicativos.

Gestão comunicativa

Essa área de intervenção vem se destacando por estar voltado ao planejamento e a execução de políticas de comunicação educativa, “tendo por objetivo a criação e o desenvolvimento de ecossistemas comunicativos pelos processos de comunicação e por suas tecnologias,” como lembra Ismar de Oliveira Soares.

Ainda para Soares educomunicação é “o conjunto das ações inerentes ao planejamento, implementação e avaliação de processos, programas e produtos destinados a criar e a fortalecer ecossistemas comunicativos em espaços educativos presenciais ou virtuais, assim como a melhorar o coeficiente comunicativo das ações educativas, incluindo as relacionadas ao uso dos recursos da informação no processo de aprendizagem”.

E porquê uma gestão comunicativa? Para a busca da convergência de ações, sincronizadas em torno de um objetivo: ampliar o coeficiente comunicativo das ações humanas no âmbito escolar. Para isso, é preciso privilegiar a comunicação dialógica, a ética de responsabilidade social para os produtores culturais (meios de comunicação) e a recepção ativa e criativa por parte das audiências (receptores).

Educomunicador

Com a expressão “Educomunicador é preciso!”, Maria Cristina Castilho Costa ressalta a existência de inúmeras iniciativas no mundo todo que visam uma educação mais “pragmática, eficiente, formadora e crítica e uma mídia mais comprometida, séria, cidadã”. Isso só para evidenciar a importância desse novo profissional no âmbito educativo.

A missão do educomunicador é vasta. Vai desde o assessoramento do uso das mídias em sala de aula às estratégias que possibilitem aos professores o uso didático das mesmas. Trata-se de um agente que capacita os professores na utilização da tecnologia da comunicação, visando a elaboração de seus materiais pedagógicos. Ainda ajuda os alunos a se apropriarem das mídias e tecnologias para produzirem seus próprios veículos e formas de expressão. Sem esquecer que esse profissional é também responsável pela comunicação interna e externa da instituição. Por último, atua no gerenciamento de informações, na criação de centros de pesquisas e laboratórios, na integração entre disciplinas e nos planos de investimento em tecnologia nas escolas.

Investimentos em Assessoria de Imprensa e Marketing

Muitas escolas investem em assessoria de imprensa (contratação de uma empresa jornalística ou um jornalista) na tentativa de fazer-se chegar aos meios de comunicação. Em outras palavras, deseja que a sociedade saiba de sua existência e de seus feitos. Mas se não houver um excelente trabalho de gestão de ecossistemas comunicacionais na instituição, as notícias divulgadas podem parecer apenas ressonância de um som que há muito foi proferido e logo mais não fará sentido.

Outro investimento freqüente nas escolas é com o departamento de marketing responsável pela política de divulgação dos produtos educacionais contidos na instituição ara atrair a clientela desejada. Geralmente, essa atuação se dá por meio de recursos investidos em publicidade, divulgação e propaganda.

Não sou contra esses investimentos, mesmo porque sou jornalista e sei o quanto é importante divulgar os feitos de uma instituição no meio jornalístico. Trabalho jornalístico é o jeito mais barato de fazer publicidade, uma vez que a instituição fala de si como um serviço público à sociedade e não exaltando suas qualidades – o que sensibiliza o público.

Contudo, se esses investimentos fossem canalizados para um investimento em gestão de ecossistemas comunicacionais, em outras palavras, em educomunicação, seria possível atingir os objetivos em torno do jornalismo e do marketing. Assim, a escola deixaria de ser uma gestão administrativa, gestão pedagógica, gestão educacional – enquanto, setores de vida própria – para tornarem-se um elo de convergência e complementaridade.

Todas as pessoas envolvidas no processo educativo, através da criação e do desenvolvimento de ecossistemas comunicativos mediados pelos processos de comunicação, constroem a cibercidadania em seu entorno, onde todas as vozes são ouvidas, expressas, negociadas e reelaboradas. É a democratização da comunicação, do diálogo, da ética e da responsabilidade social.

Assim, a escola pode se transformar. Ao apropriar-se do computador, os educadores cumprem sua missão de educar em tempos mediáticos, revolucionando sua prática pedagógica através da interatividade. Dando espaço às expressões dos educandos – que dominam muito bem a tecnologia – a escola e os educadores só tem a ganhar, pois estão colocando em prática o construtivismo do ensino-aprendizagem, a mediação tecnológica como recurso pedagógico e o currículo escolar como espaço para pensar, ensinar e criticar ao invés de apenas transmitir conteúdos.

As áreas de intervenção se inter-relacionam geridas pela Gestão de Ecossistemas Comunicacionais.

1. Expressão de Maria Cristina Castilho Costa, Educomunicador é preciso! – Caminhos da Educomunicação.

* Por Antonia Alves é jornalista e educomunicadora. Com experiência de mais de dez anos nas áreas da educação e comunicação, tem realizado projetos, oficinas e cursos para educadores, estudantes e grupos afins. Atualmente, é gestora de educomunicação e jornalismo do Portal Educacional Aprendaki.

antoniaalves@aprendaki.com.br