Banalidade do Mal
Falar em banalidade do mal é lembrar de Hannah Arendt. Eichmann não era um monstro perverso nem um sádico. Era apenas um burocrata que trabalhava com eficiência e, sobretudo, segundo ele, cumpria ordens. Segundo disse, jamais matou pessoalmente uma só pessoa, mas reconheceu que contribuiu (auxiliou) para a morte de milhares. Eichmann é um caso clássico de banalidade do mal. Mas há outros. E deve haver milhares de outros. Lendo o livro de Michel Voslensly, deparei-me com Ejov na União Soviética, que cumpria com diligência qualquer tarefa que lhe fosse confiada: na Comissão da Indústria ele organizou a construção de fábricas; e no NKVD ele recebeu ordens para torturar e matar e, portanto, torturou e matou. Foi um dos carrascos mais sangrentos da história, mas não era, segundo Voslensly, um sádico assassino ou uma criatura saída do inferno. Era só um eficiente burocrata sob Stalin oriundo da “Nomemklatura” soviética. Li um livro que trazia a opinião de um Coronel norte-americano sobre as vítimas de Stalin, nos anos trinta do século passado. Segundo ele, as vítimas dos expurgos “eram incontestavelmente culpadas”. Caso típico de diplomatas que querem agradar o país em que estão acreditados Muitas vezes diante de uma realidade inaceitável, tem-se a tendência de culpar as vítimas, de modo a não se indispor com os carrascos. Mais uma reação típica do burocrata que prefere "lavar as mãos". Lembro, por fim, os homens do Batalhão de Reserva 101 da Polícia Alemã que, durante a II Guerra Mundial cometeu atrocidades na Rússia, embora composto por simples homens de meia idade, oriundos da classe trabalhadora, sem quaisquer antecedentes criminais.