Mãe Rainha e um novo coração

Mãe Rainha e um novo coração

Antes de iniciar este texto, é preciso explicar que ele foi escrito por um agnóstico. Definição que foi obtida através de tanto quebrar a cabeça tentando desvendar qual religião é a correta e depois de estudar um pouco de história e ciência e considerar que as igrejas só trouxeram prejuízo para a humanidade. Mas este não é o assunto que preciso ressaltar, mas é só para entenderem como uma ideologia e um sentimento podem ser coisas bem diferentes.

Acho que toda pessoa antes de desacreditar em algo, tem que conhecer os dois lados. Fiz tudo que o catolicismo pede: fui batizado e crismado, porém depois deixei de lado a igreja. Não gostava de ficar em pé repetindo respostas pré-moduladas ou completando as ideias dos padres. Também odiava sair da igreja e ver todo mundo fofocando sobre o término de fulana, sobre a roupa de ciclana e por ai vai. Era hipocrisia demais para mim. Cheguei a ser ateu para conhecer o outro lado e vi que é pior ainda. Ateus se dizem cheios de conhecimento mas são repletos de uma ignorancia total, pois para odiar Deus eles tem que acreditar nele de certo modo e entre Deus e o Diabo, acredito que se for para ter um amigo imaginário é melhor escolher um que te pune mas pelo menos promete uma coisa boa para aqueles que forem bons em vida. Mesmo em toda essa minha blasfemia, nunca rejeitei um “vai com Deus” ou evitei usar um “graças a Deus” como agradecimento. Independente de acreditar ou não, você está sendo educado e desejando algo de bom para alguém ou a si mesmo, então isso é válido.

O que acontece é que parece que quanto mais discrente da fé você fica, mais ela insiste em te dar sinais inexplicáveis. Deus é tudo aquilo que não tem explicação. Quando você não consegue dar uma resposta para algo, foi obra de Deus. E nesse meu conflito interno, dois exemplos aconteceram ultimamente que valem a pena serem colocados nesta balança entre o crer e o saber.

O primeiro caso ocorreu ano passado. Meu pai tinha uma briga com um vizinho. Rixa fútil, por causa de uma briga minha com o filho dele, os pais entraram no meio e não se falavam há 20 anos. Como se adultos tivessem que se envolver em briga de criança. Mas se envolveram e tiveram que morar todo esse tempo evitando olhares um com o outro e também fazendo com que minha mãe não conversasse com a esposa dele. Porém, Deus (aqui entra o inexplicável) fez com que meu pai sofresse uma parada cardíaca. Foi uma correria, ele esteve a beira da morte e teve de ser transferido para um hospital maior em uma cidade vizinha e ser submetido a duas cirurgias. Com o coração renascendo, ele é transferido para um quarto, porém como o convênio não permitia quartos individuais, ele teria que dividir com outro paciente que também estava com um problema cardíaco. Para a surpresa dele este paciente era exatamente o meu vizinho.

Quais as chances desse encontro acontecer justo em um momento em que os dois estavam fragilizados, viram a vida deles quase se extinguir e estavam praticamente renascidos, percebendo que a vida deve ser mais valorizada ao invés de se preocupar com coisas pequenas? Praticamente zero. Sem outra alternativa, o perdão logo aconteceu. Os dois lados se entenderam, assumiram sua ignorancia e o orgulho idiota e se ajudaram a passar por esse momento difícil. Hoje conversam todo o dia na esquina sobre os remédios e as datas dos próximos exames. Meu pai pode ter saído do hospital sem um novo coração físico, mas que ele ganhou um novo coração subjetivo isso é incontestável. E acredito que até de maior valor.

Como se isso não bastasse, pouco tempo depois minha cunhada ficou grávida. A gestação ocorria bem, a cesariana já estava agendada para o próximo mês, mas aos 8 meses de gestação ela começou a sentir dores fortes. Primeiro acharam que eram apenas contrações, depois uma infecção na urina e quando foram descobrir tardiamente era apendicite. Ela teve que ir às pressas para uma cirurgia de risco e nisso estavamos em casa aguardando notícias. O médico foi bem sincero e disse que tanto ela como a filha corriam risco de vida.

Aos prantos e desesperada, minha mãe corrida de um lado para outro pela casa. Meu irmão mandou uma mensagem do hospital dizendo que a cirurgia ia começar em instantes e que teriam que fazer o parto da criança. Neste momento, a campainha toca. Minha mãe imaginando que já fosse algum vizinho curioso pedindo informação abre a janela e se depara com o vizinho da frente trazendo a imagem da Mãe Rainha (que passa de casa em casa no período de um mês). Minha mãe caiu de joelhos de tamanha alegria. Para mim, ela sempre foi uma imagem qualquer e o fato dela vir acompanha de um cofre para doações me deixava com mais repúdio contra essa crença. Mas, naquele momento, minha mãe encheu-se de esperança e alívio e não deu outra: em menos de vinte minutos o telefone tocou com a notícia de que a menina havia nascido e que a cirurgia havia sido um sucesso.

Dizem que Deus é igual ao ar: não podemos ver mas podemos sentir. Isso para mim provou-se verdade. Sei que a ciência pode explicar diversos fatos, cura para as doenças e tudo mais. A história também registra vários crimes e atrocidades cometidos pela igreja e os notíciarios abundam de notícias de pastores corruptos, pessoas sendo enganadas pela fé e outras coisas. Mas não acreditar em algo superior, uma força que nos rege e tenta nos fazer melhor ainda é algo estranho. Mas queria deixar esse relato para tentar explicar que independente de você crer em uma instituição, em Deus ou no Diabo, negar a existência de uma presença superior inexplicável é besteira. Chame de Mãe Natureza, Cosmos, Deus, Diabo, Buda, Vishinu... mas só não negue sua existência e ganhe também um novo coração.

Lalinho
Enviado por Lalinho em 15/05/2018
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