90% de cristãos

O sujeito fez uma experiência. Ficou sem camisa na frente de um shopping, aonde não conseguiria entrar se não estivesse de camisa. E começou a abordar os homens para ver se eles podiam lhe emprestar a sua própria camisa para que ele entrasse no shopping, comprasse uma e aí devolvesse a que emprestou.

Como era de se esperar, não conseguiu nada. Todo mundo achou um absurdo tirar a sua própria camisa e dar para o desconhecido que a pedia. Só foi conseguir ajuda com um morador de rua. Eu me pergunto: não somos um país com quase 90% de cristãos, isto é, sujeitos que acreditam no “amor ao próximo”? Que diabos de amor ao próximo é esse é que não considera sequer a possibilidade de tirar uma camisa e emprestá-la a quem pede?

Acaso há o medo de que sejamos prejudicados, de que o sujeito não volte mais e fiquemos sem a camisa? Ora, pode um amor ser realmente amor se ele está preocupado com as suas consequências? Porventura não há, nas palavras de Jesus, a ideia de que se deve amar inclusive ao ponto de ser prejudicado pessoalmente?

Não era preciso sequer que a pessoa tirasse a camisa. Ela poderia ter bons motivos para não tirá-la. No entanto, também não apareceu ninguém que se dispusesse a entrar ela mesma no shopping e comprar a camisa para o sujeito. Não apareceu ninguém oferecendo qualquer tipo de ajuda.

Teremos, daqui a alguns anos, um país de maioria evangélica. É esse o “Brasil para Cristo” pretendido pelos evangélicos? Há algum indício de que quando o número de evangélicos for maior que o de católicos as pessoas se colocarão mais à disposição do próximo, mesmo que ele seja um estranho, um samaritano, um ímpio e pecador, mesmo que isso não me traga qualquer benefício e que possa inclusive me prejudicar pessoalmente?

Se não há indício, então para que servem esses números?

Frederico Milkau
Enviado por Frederico Milkau em 31/05/2018
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