INSÔNIA MINHA DE CADA DIA

É assim toda madrugada, as horas fazem birra para não passar, viro de lado e o sono não vem, o abajur ligado dá contraste à escuridão, e nem a lua mostrou seu brilho pela janela como de costume, as estrelas que sempre serviram de plateia também foram dormir deixando um ar ainda mais cruel para a noite solitária. A mente inquieta, ansiedade talvez, só o corpo está em repouso, esticando o braço alcanço um livro há muito esquecido sobre o criado mudo, o silêncio reinando, folheio o livro rapidamente porque não há tesão pela leitura, só uma imagem ou outra prende meu olhar por um segundo a mais. Devolvo o livro ao criado e a passos lentos dirijo-me em direção à janela que rouba um pouco do vento frio que sopra lá fora e distribui no breu do quarto, os cotovelos apoiados na base de madeira e a mão a sustentar o queixo, direciono o olhar para a imensidão colorida de preto como se fosse possível ver alguma coisa. Sinto a presença do vento a correr para lá e para cá em total liberdade brincando entre as folhas das árvores. Chega aos meus ouvidos o som da água que desce pela cascata há poucos metros da minha janela... Está tudo tranquilo lá fora, só do lado de cá que a inoportuna insônia insiste em perturbar.

Horas e horas descalço a vagar pelo quarto, vez ou outra, um breve descanso no banquinho de madeira que fica no canto enquanto pensamentos bobos vagueiam pela mente. No relógio soam a 3ª... a 4ª... a 5ª hora da manhã e o sono só expulsa a intrusa na meia hora final da noite, mas ela se afasta esperançosa de que mais uma madrugada e o silêncio em breve voltarão, para novamente me fazer cumprir sem descanso esta sina de noite após noite vagar, como um castigo sem data prevista para findar.