Sobre Tecnologia

Tecnologia, de acordo com a Wikpedia, provém do grego “tecne” (arte, habilidade) e “logia”, plural de login, que significa messagem divina. Entende-se como conhecimento (ciência) posto em prática para resolver problemas. Tecnologia é algo útil e sem o que a vida humana seria impossível. Sabe-se que à diferença dos animais, a utilização combinada de instrumentos e procedimentos, que são a essência da tecnologia, foi crucial para o desenvolvimento da espécie humana e sua, pelo menos aparente, dominação sobre a Terra. Não que a tecnologia até o momento permita que a espécie humana supere a natureza, ainda longe disso, mas não faltam visões de que isso poderá acontecer no futuro.

Enquanto a tecnologia era representada apenas por ferramentas simples, como um martelo, sua importãncia na vida humana não era conspícuamente notada. Até invenções que se pode qualificar como geniais, como a roda, não chamavam a atenção para a tecnologia. A evolução da tecnologia não pode prescindir de fontes mais sofisticadas de energia, substituindo a energia humana e animal. Veio a revolução industrial, que se beneficiou da invenção da máquina a vapor, depois movida a eletricidade. A tecnologia revolucionou os sistemas de produção, aumentou a produtividade, criou uma nova organização social e concentrou as populações nos centros urbanos. Criaram-se novos problemas que a tecnologia se propõe resolver.

Uma nova fase da revolução tecnológica se iniciou com o processamento de dados, aumentando a eficiência da atividade humana, e mudando de forma radical a maneira de encarar tarefas repetitivas. Hoje em dia já se fala em inteligência artifical, com máquinas capazes de tomar decisões não apenas ditadas pela simples lógica incluída na estrutura de um programa, mas a partir de um aprendizado. Por exemplo, se eu digo que João entra no restaurante, pede lagosta, paga a conta e sai, é fácil de entender para um ser humano, mas não para um computador. Pela bagagem cultural que possuímos sabemos que João entrou no restaurante, sentou, olhou o menu, ordenou lagosta, comeu a lagosta, pediu a conta, pagou, levantou-se e depois saiu. Alguém pescou ou comprou a lagosta, alguém produziu os ingredientes, transportou até o restaurante, preparou a refeição, serviu a mesa, etc. Muita coisa implícita que não precisa ser dita para um ser humano compreender a estória. Mas para um computador é necessário explicar tudo. Contudo, com o progresso e cada vez maior capacidade de memória dos computadores, não existiriam mais obstáculos para fornecer para a máquina um amplo capital cultural. Para implementar a inteligência artificial, seria necessário, além de algorítimo para usar essas informações e traduzí-las em decisões, uma conjunto dos valores prevalescentes na sociedade, refletidos ou não por legislação, e emoções e consciência, ou seja, capacidade da máquina de entender se está certo ou errado.

Hoje em dia existem máquinas possantes, com altíssima capacidade de processamento, e com capacidade cada vez maior de armazenamento. No começo, os computadores pessoais funcionavam com 4K de mémoria, ou seja máximo 4.000 bytes ou caracteres, para programa e dados, ou até 16k, 16 mil bytes caracteres para o programa e dados. Hoje, um computador pessoal avançado pode usar até 12 GIGA, ou seja 12 vezes 10.73.741.824 bytes. Dá então para imaginar quanto devem ter os computadores mais sofisticados, usados pelos governos em grandes aplicações, como previsão do tempo ou em sistemas de defesa.

Ia falar de tecnologia e estou falando de computadores, que são, contudo, um bom exemplo da atual sofisticação tecnológica, utilizada em sistemas de produção, defesa, administração, saúde, etc... Tecnologia, portanto, está relacionada com a ciência, é a ciência aplicada. O que gostaria de indagar é saber se a ênfase, ou grande ênfase, que se põe na tecnologia não seria uma atitude que põe o ser humano em segundo plano. Verdade que se diz que a tecnologia vai terminar com as doenças, ou vai prolongar a vida, mas tudo isso, me dá a impressão, é feito por motivações econômicas, de defesa, ou outras, independentemente de uma preocupação direta com o ser humano. Porque se quisermos salvar vidas, bastaria gastarmos alguns bilhões de dólares a mais com saúde e alimentos, em algumas partes do mundo, e com a tecnologia existente. Por exemplo, quando se combate epidemias como a ébola na África, com o desenvolvimento de inovadoras tecnologias, às vezes me parece que a intenção é sobretudo evitar que a epidemia chegue aos países ricos. Se não houvesse esse perigo ...

A tecnologia reflete a ciência de hoje, e esta última palavra pode a qualquer momento ser superada. Por isso, a confiança na ciência não pode ser cega, pois ela mesma pode se contradizer de um dia para o outro. O mesmo vale também para a tecnologia, e essa evolução no tempo da tecnologia é muito mais perceptível para o homem comum do que a evolução da ciência, quando se compara os primeiros aviões com os aviões de hoje ou os primeiros automóveis com os automóveis de hoje.

Um outro aspecto pertinente, é quem controla a tecnologia. A reposta é ninguém exatamente, pois ninguém centraliza o controle dos grupos que tem capacidade para desenvolvê-la. Tanto a legislação nacional dos países como alguns tratados internacionais tentam controlar o desenvovimento de certas tecnologias, que podem contudo continuar a serem desenvolvidas secretamente. Faço referência ao cientista chinês que ilegalmente criou os primeiros bebês geneticamente modificados. A Igreja, de seu lado, pode impor limites, mas tampouco é capaz de controle. A tecnologia parece ser algo bom, pelo menos de modo aparente, mas, evidentemente pode ser bom ou não, dependendo do que se pretende desenvolver. No fundo, desenvolver a tecnologia é realçar o próprio poder, e ninguém vai renunciar a isso, ou aceitar limites para esse desenvolvimento.

É importante considerar que a tecnologia é neutra. Ela produz instrumentos e processos que podem ser usados para o bem ou para o mal. Cientista em Paris afirmou ter logrado pela primeira vez eliminar em laboratório uma inteira população de mosquitos transmissores da malária, utilizando um editor de genes para programar essa extinção. Desse modo, esse cientista logrou forçar a direção da evolução natural. É absolutamente assustador quando se pensa que essa tecnologia pode ser usada com outras finalidade menos nobres.

O filósofo alemão Martin Heidegger comenta que a teconologia trata os seres humanos como meros recursos a serem utilizados, redistribuídos ou descartados. Num rio a tecnologia exergaria uma hidroelétrica, numa floresta uma produção de madeira, e assim por diante, em uma visão distorcida e desumana da realidade. Em Minas Gerais, existem montanhas de minério de ferro. Montanhas que compõem uma paisagem, influenciam o clima, são fontes vitais de água doce e criam oportunidade para esportes e lazer. No entanto, o que o ser humano faz é quebrar a montanha de ferro em pedaços, que envia para o exterior. Pedaços de montanha que servem para produzir aço e fabricar automóveis , canhões, pontes, edifícios. Nao é só o Brasil; todos os países fazem coisas semelhantes. Uma bela administração da natureza pelo ser humano, como se a natureza não fosse seu supremo refúgio.

Heidegger comenta ainda que "a ciência não pensa" , o que significa, segundo ele, que a "ciência não se move na dimensão da filosofia". A ciência deveria deliberar, me parece, sobre as consequências práticas do desenvolvimento que promove, dos benefícios ou não para a humanidade de sus ações. Por exemplo, ou bem ou mal, os cientistas que criaram a bomba atômica tinham o objetivo maior de vencer a corrida com o nazismo na produção de um artefato militar nuclear. Mas, à sombra de governos, a ciência desenvolve outras invenções sem estar comprometida necessariamente com os valores morais e éticos que balizam a sociedade . Assim sendo, a tecnologia que ninguém controla, não está atrelada a respeitar barreiras morais ou religiosas . Heidegger comenta ainda que a possibilidade de a tecnologia "criar um (ser) humano ... construir ele exatamente como precisamos que ele seja, especializado ou não, esperto ou estúpido..." Heidegger conclui dizendo que "o que eu vejo na tecnologia, na sua essência, é que o ser humano está em pé no raio de ação de um poder, que o desafia, e em relação ao qual ele não é mais livre".

A propósito de tudo issso, vale recordar citação do filme Stalker":"não sou partidário do conhecimento a qualquer preço. O conhecimento só é valido se se sustenta na moral".

É aí que eu queria chegar.

Ugly
Enviado por Ugly em 25/09/2018
Reeditado em 04/09/2022
Código do texto: T6459085
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