Etimologia da Língua Portuguesa nº 149

Etimologia da Língua Portuguesa por Deonísio da Silva Nº149

Réptil escamado da subordem dos sáurios que habita terras, árvores e regiões aquáticas, lagarto originou-se do termo latino lacertus. Malefício veio do Latim maleficium, do étimo de facer, fazer, malum, mal, desgraça, designando também crime, malfeito, delito e pecado.

Arrecadar: do modo de dizer no Português arcaico o Latim vulgar recaptare, duplicando captare, pegar, recolher. Nas origens teve o sentido de guardar, proteger, prover segurança ao que é guardado, como no caso de pedras e metais preciosos. Ganhou depois o significado com oi qual se consolidou, de recolher, cobrar, receber. No Brasil, deve ser o verbo mais conjugado pelos governos atuais, por arrecadar mais do que prover os serviços e bens para os quais foi feita a arrecadação, vinda de impostos, contribuições, taxas, pedágios. O governo sabe, porém, quanto arrecadou exatamente de quem, mas houve uma insólita forma de arrecadar depois que os mensaleiros foram presos: as multas aplicadas pelas autoridades judiciárias foram cobertas por arrecadações anônimas, que, pelas altas quantias, despertaram desconfiança sobre a fonte desses recursos.

Esquentar: do Latim excalentare, tornar calentem declinação de calens, que deu caente, depois queente e por fim quente em Português. É um verbo transitivo --- “o Sol esquenta a terra” ---, mas também intransitivo --- “o clima da discórdia esquentou “ ---, e ainda pronominal --- “ esquentou-se com o que ouviu do desafeto “. No Português arcaico, chegou a ser escrito escaentar. A advertência ou aviso “ não esquenta! “ tem significado de “não pense nisso, não se preocupe “. Tem também o sentido de dinheiro sujo, sendo sinônimo de lavar.

Lagarto: do Latim lacertus, lagarto, que por desvio e alteração da forma culta passou a ser pronunciado lacartus., depois lagartus e por fim lagarto., para designar o réptil escamado, da subordem dos sáurios --- em Grego, lagarto, lagartixa e salamandra são conhecidos por saúra:, houve deslocamento da sílaba tônica ---, que habitam em terras, árvores e regiões aquáticas. A parte de trás da coxa do boi também tem este nome, talvez pela aparência que adquire quando o animal caminha, tomando a forma assemelhada ao réptil. Desse modo, nos cardápios pode aparecer um prato com lagarto no nome, mas é carne de vaca.

Malefício: do Latim maleficium, do étimo de facere, fazer, malum, mal, desgraça, designando também crime, malfeito, delito, pecado. Exemplos de malefícios: Adão e Eva comeram o fruto proibido numa sexta-feira; o dilúvio começou numa sexta-feira; Jesus morreu numa sexta-feira. Aumenta o malefício quando a sexta-feira é associada ao número 13. Eram 13 à mesa da Última Ceia, e um era o traidor, Judas; 12 divindades nórdicas fizeram uma reunião, e o excluído, Loki, veio sem ser convidado e matou Balder, favorito do deus Asgard. O dia 13 de outubro de 1307 caiu numa sexta-feira, quando a Ordem dos Templários foi extinta e muitos de seus chefes foram torturados e mortos. Numa narrativa lendária e apócrifa, diz-se que para acabar com a superstição a Marinha Britânica, já no século XIX, lançou ao mar numa sexta-feira um navio Friday, comandado pelo capitão James Friday, que nunca mais retornou. A vassoura, meio de transporte das bruxas, e o gato preto, incluído pelo papa Inocêncio VIII ( 1432 – 1492 ) entre os perseguidos pela Inquisição, aumentaram os indicadores de azar para a sexta-feira 13.

Nirvana: do Sânscrito nivana, extinção, desaparecimento. Designa o fim dos sofrimentos, que é obtido com a eliminação dos desejos. Se não deseja nada que não possa ser conseguido, não há sofrimento. Segundo diversas religiões, mas especialmente de acordo com o budismo, o desapego das coisas terrenas e das paixões conduz a esse estado da alma, denominado nirvana. É uma atitude de beatitude e de indiferença diante dos outros e de si mesmo.

Sexta-feira: do Latim sexta, sexta, e feira, festa, mas que tomou também o significado de feira porque os dias de festa eram muito favoráveis ao comércio, pela reunião de todos os lugares. O étimo remoto é o Latim sex, indicador de seis: sexta-feira é o sexto dia, Agosto chamava-se sextilis, pois era o sexto mês antes da homenagem recebida pelo primeiro imperador romano, Caio Júlio César Otaviano Augusto ( 63 a. C. – 14 d. C. ). No Inglês, sexta-feira virou Friday, do mesmo étimo de Friga, deusa equivalente a Afrodite. Banida dos cultos após o cristianismo, Friga tornou-se bruxa e em todas as sextas-feiras fazia reunião com as colegas, reforçando a sexta-feira como dia de azar.

Deonísio da Silva, da Academia Brasileira de Filologia, é escritor, doutor em Letras pela USP, professor ( aposentado ) da UFSCar ( SP ) e colunista da Bandnews, com Ricardo Boechat e Pollyanna Bretas. Alguns de seus romances e contos foram publicados também em Portugal, Cuba, Itália, México, Alemanha, Suécia etc., e é autor de De Onde Vêm as Palavras ( 17ª edição ). www.lexikon.com.br

Revista Caras

2014

Etimologia da Língua Portuguesa por Deonísio da Silva Nº149

Réptil escamado da subordem dos sáurios que habita terras, árvores e regiões aquáticas, lagarto originou-se do termo latino lacertus. Malefício veio do Latim maleficium, do étimo de facer, fazer, malum, mal, desgraça, designando também crime, malfeito, delito e pecado.

Arrecadar: do modo de dizer no Português arcaico o Latim vulgar recaptare, duplicando captare, pegar, recolher. Nas origens teve o sentido de guardar, proteger, prover segurança ao que é guardado, como no caso de pedras e metais preciosos. Ganhou depois o significado com oi qual se consolidou, de recolher, cobrar, receber. No Brasil, deve ser o verbo mais conjugado pelos governos atuais, por arrecadar mais do que prover os serviços e bens para os quais foi feita a arrecadação, vinda de impostos, contribuições, taxas, pedágios. O governo sabe, porém, quanto arrecadou exatamente de quem, mas houve uma insólita forma de arrecadar depois que os mensaleiros foram presos: as multas aplicadas pelas autoridades judiciárias foram cobertas por arrecadações anônimas, que, pelas altas quantias, despertaram desconfiança sobre a fonte desses recursos.

Esquentar: do Latim excalentare, tornar calentem declinação de calens, que deu caente, depois queente e por fim quente em Português. É um verbo transitivo --- “o Sol esquenta a terra” ---, mas também intransitivo --- “o clima da discórdia esquentou “ ---, e ainda pronominal --- “ esquentou-se com o que ouviu do desafeto “. No Português arcaico, chegou a ser escrito escaentar. A advertência ou aviso “ não esquenta! “ tem significado de “não pense nisso, não se preocupe “. Tem também o sentido de dinheiro sujo, sendo sinônimo de lavar.

Lagarto: do Latim lacertus, lagarto, que por desvio e alteração da forma culta passou a ser pronunciado lacartus., depois lagartus e por fim lagarto., para designar o réptil escamado, da subordem dos sáurios --- em Grego, lagarto, lagartixa e salamandra são conhecidos por saúra:, houve deslocamento da sílaba tônica ---, que habitam em terras, árvores e regiões aquáticas. A parte de trás da coxa do boi também tem este nome, talvez pela aparência que adquire quando o animal caminha, tomando a forma assemelhada ao réptil. Desse modo, nos cardápios pode aparecer um prato com lagarto no nome, mas é carne de vaca.

Malefício: do Latim maleficium, do étimo de facere, fazer, malum, mal, desgraça, designando também crime, malfeito, delito, pecado. Exemplos de malefícios: Adão e Eva comeram o fruto proibido numa sexta-feira; o dilúvio começou numa sexta-feira; Jesus morreu numa sexta-feira. Aumenta o malefício quando a sexta-feira é associada ao número 13. Eram 13 à mesa da Última Ceia, e um era o traidor, Judas; 12 divindades nórdicas fizeram uma reunião, e o excluído, Loki, veio sem ser convidado e matou Balder, favorito do deus Asgard. O dia 13 de outubro de 1307 caiu numa sexta-feira, quando a Ordem dos Templários foi extinta e muitos de seus chefes foram torturados e mortos. Numa narrativa lendária e apócrifa, diz-se que para acabar com a superstição a Marinha Britânica, já no século XIX, lançou ao mar numa sexta-feira um navio Friday, comandado pelo capitão James Friday, que nunca mais retornou. A vassoura, meio de transporte das bruxas, e o gato preto, incluído pelo papa Inocêncio VIII ( 1432 – 1492 ) entre os perseguidos pela Inquisição, aumentaram os indicadores de azar para a sexta-feira 13.

Nirvana: do Sânscrito nivana, extinção, desaparecimento. Designa o fim dos sofrimentos, que é obtido com a eliminação dos desejos. Se não deseja nada que não possa ser conseguido, não há sofrimento. Segundo diversas religiões, mas especialmente de acordo com o budismo, o desapego das coisas terrenas e das paixões conduz a esse estado da alma, denominado nirvana. É uma atitude de beatitude e de indiferença diante dos outros e de si mesmo.

Sexta-feira: do Latim sexta, sexta, e feira, festa, mas que tomou também o significado de feira porque os dias de festa eram muito favoráveis ao comércio, pela reunião de todos os lugares. O étimo remoto é o Latim sex, indicador de seis: sexta-feira é o sexto dia, Agosto chamava-se sextilis, pois era o sexto mês antes da homenagem recebida pelo primeiro imperador romano, Caio Júlio César Otaviano Augusto ( 63 a. C. – 14 d. C. ). No Inglês, sexta-feira virou Friday, do mesmo étimo de Friga, deusa equivalente a Afrodite. Banida dos cultos após o cristianismo, Friga tornou-se bruxa e em todas as sextas-feiras fazia reunião com as colegas, reforçando a sexta-feira como dia de azar.

Deonísio da Silva, da Academia Brasileira de Filologia, é escritor, doutor em Letras pela USP, professor ( aposentado ) da UFSCar ( SP ) e colunista da Bandnews, com Ricardo Boechat e Pollyanna Bretas. Alguns de seus romances e contos foram publicados também em Portugal, Cuba, Itália, México, Alemanha, Suécia etc., e é autor de De Onde Vêm as Palavras ( 17ª edição ). www.lexikon.com.br

Revista Caras

2014

deonísio da Silva
Enviado por zelia prímola em 29/09/2018
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