Etimologia da Líbngua Portuguesa Nº 156

Etimologia da Língua Portuguesa por Deonísio da Silva Nº 156

Em muitas famílias protegido pela mãe, caçula veio do Quimbundo kasule, último filho, tendo como sinônimo benjamim, do Hebraico Benjamin. Entendida também como fertilidade, fecundidade originou-se do Latim fecunditate, declinação de fecunditas, indicando a fecundação.

Assassinato: provavelmente do Francês assassinat, derivado de assassino, do Árabe hassas ou haxxixin, fumador de háxix, haxixe, cânhamo, como era conhecido o indivíduo pertencente a uma seita oriental que, drogado, obedecia cegamente às ordens de matar viajantes das Cruzadas, dadas pelo Velho da Montanha ( século XIII), praticando homicídios com fins religiosos. O chefe também foi assassinado por Gêngis Khan (1167-1227). Homicídio (matar um homem) e suicídio (matar a si mesmo) são formas de assassinato. Já matar reis, rainhas, príncipes ou assemelhados é regicídios. Famosos soberanos foram assassinados ao longo da História, entre os quais Felipe II (382-336 a, C.) rei da Macedônia, pai de Alexandre, o Grande (356-323 a. C.), e o imperador chinês Cao Mao (241-260). Em tempos mais recentes foram mortos o rei do Nepal Birenda (1945-2001), assassinado em um banquete por um filho, que também morreu; Faiçal II (1906-1958), último rei do Iraque, executado por fuzilamento.

Caçula: do Quimbundo kasule, último filho, tendo o sinônimo de benjamim, do Hebraico Benjamim, nome próprio que passou a substantivo comum por ser este o nome do segundo e último filho de Jacó e Raquel, que morreu logo depois do parto. Tendo sofrido muito, ela o chamou “filho da minha dor”, mas o pai mudou para “filho da minha felicidade”.

Fecundidade: do Latim fecunditate, declinação de fecunditas, indicando a fecundação, entendida também como fertilidade: da terra e das fêmeas do reino animal, que inclui as mulheres. Outras línguas diferencial fertilidade de fecundidade, a segunda sendo entendida como frequência produção, e a primeira apenas como capacidade de reproduzir. Há casos célebres de dificuldade de gerar filhos. O Conde d’Eu (1842-1922) neto do último rei da França, Luis Felipe I (1773-1850), e a princesa Isabel (1846-1921), por demorarem a ter filhos, pressionados pela milícia popular e pela situação da irmã dela, a princesa Leopoldina (1847-1871), que, casada com o primo do cunhado, tinha um filho atrás do outro, recorreram até orações e promessas. O casal até então infértil, esteve, por sugestão médica, em estâncias de “águas virtuosas” mineiras. Mas acreditava à visita que fez a Nossa Senhora Aparecida em Guaratinguetá (SP) a solução do problema após 11 anos de casados, tiveram três filhos.

Meliante: do Espanhol maleante, de malo, mau, burlador, que tomou no Português o significado preferencial de bandido, mau-caráter, enganador, velhaco, patife, malandro, trapaceiro, indivíduo no qual não se deve confiar. Tinha sentido menos pejorativo no passado, como neste texto do português Aquilino Gomes Ribeiro (1885-1963), em Aldeia: “Há os meliantes que devastam o rio e o monte de suas espécies animais”. Os restos mortais do escritor repousam no Panteão Nacional, na outrora Igreja de Santa Engrácia, aquela construção que levou mais de três séculos para ser concluída.

Politburo: do Russo politbyro, comitê político central, colegiado dirigente da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Étimos assemelhados estão nas palavras “política” e “burocracia”, conservados em várias línguas para designar esfera de poder. Na burocracia, o kratia (poder, em Grego ) do bureau (escrivaninha, mesa em Francês), em democracias e repúblicas. Nem todas as repúblicas ( do Latim res publica, coisa pública) foram ou são democráticas, isto é, dão o poder ao dêmos (povo). Ao contrário do que muitos textos nos fazem crer, o filósofo grego Platão (428-348 a. C.) não usou a palavra república, que é latina, mas “politeía”, para designar uma cidade governada por assembleia de seus cidadãos.

Regicídio: do Latim medieval regicidium, assassinato de um rei ou de uma rainha, como aconteceu no dia 1º de fevereiro de 1908, em Lisboa, na Praça do Comércio. No atentado morreram o penúltimo rei de Portugal, dom Carlos I (1863-1908), e o príncipe herdeiro, deu filho dom Luís Felipe (1887-1963), que matou um dos regicidas. O filho sobrevivente, dom Manuel II (1889-1910), foi o último rei de Portugal. O trágico acontecimento foi um dos momentos decisivos na luta pela Proclamação da República. Adaptado para uma série da televisão, dom Luís Felipe foi vivido pelo ator José Afonso Dias Pimentel.

Deonísio da Silva, da Academia brasileira de Filologia, é escritor, doutor em Letras pela USP, professor (aposentado) da UFSCar(SP), autor contratado pela Estácio (RJ), diretor-adjunto da Editora da Unisul (SC) e colunista da Bandnews, com Ricardo Boechat e Pollyanna Bretas., Alguns de seus romances e contos foram publicados também em Portugal, Cuba, Itália, México, Alemanha, Suécia etc., e é autor de De Onde Vêm as Palavras (17ª edição) www.lexikon.com.br

Revista Caras

2014

Doutor Deonísio da Silva
Enviado por zelia prímola em 21/11/2018
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