A PUREZA DE UM SENTIMENTO

Um casal de amiguinhos está sentado num banco de praça. O jovenzinho, com os pés balançando, aguarda pensativo o que sua coleguinha, um ano mais nova que ele, tem a dizer.

-Sabe, meus pais vão embora. – diz a dama tristinha.

-Eu sei – responde ele. Que não sabe ao certo por que sente o que sente naquele momento, mas sabe que é por causa dela – Num vai não...

A pequena dama observa seu amigo. Nunca mais poderão brincar juntos. O mundo dos adultos é muito complicado. Então, ela tem uma idéia. Segura a mão do jovenzinho e põe algo dentro dela, fechando-a em seguida.

-O que é? – o jovenzinho pergunta.

-Guarda pra mim. Não abra. – diz a pequena dama – Já volto.

-Mas o que é? – Ele pergunta de novo. Mas não teve tempo de ouvir a resposta. A pequena dama lhe dá um gentil beijo no rosto, se levanta e vai embora.

O jovenzinho ficou ali parado. Olhando para sua mão com vontade de abri-la e ver o que ela deixara a seus cuidados. Contudo, como gostava muito de sua amiga, decidiu fazer o que ela pediu.

O pequeno jovenzinho ficou ali no banco da praça, esperando ela voltar.

O tempo foi passando. Os anos foram passando. As pessoas queriam ver o que havia em sua mão. Mas ele não deixava. Mantendo-se firme em seu lugar.

Passaram-se os anos. O menino, agora adolescente, permanecia no banco da praça, com sua mão firme e forte, protegendo com unhas e dentes o que sua coleguinha lhe confiou com todo carinho. Lutando contra as artimanhas do mundo, que queriam persuadi-lo e revelar o que tinha ali.

O menino se tornou um homem. E viu um mundo à sua volta acontecer; Construções de puro aço serem formadas à sua frente. Tecnologias para melhorar a vida das pessoas foram desenvolvidas. E com o tempo; para escravizá-las. Viu guerras, mortes, Inundações, terremotos, tempestades. Viu o homem encarar o espaço novamente. Pisar em novos planetas. Viu a civilização ter seu primeiro contato com vida inteligente. Viu essa mesma raça ajudar o ser humano. E viu também esses mesmos serem humanos atacarem pelas costas esses povos. Mas o menino-jovem-homem permanecia firme em seu banco protegendo com toda a força o que lhe fora incumbido.

O homem agora se tornou idoso. E presenciou mais coisas maravilhosas no curso da vida. A cura de muitas doenças foi uma delas, mas havia a pior de todas que ainda não podia ser curada, e essa ainda dizia respeito ao ser humano. Mas o cansado e valente idoso lá, firme e forte, em seu banco permanecia.

Até que, em seus últimos momentos de vida, presenciou a última chance da humanidade de redenção – que não sobreviveria com tanta ganância e violência se não fosse por uma pequena intervenção divina...

Este menino, agora fragilizado com a impiedosa corrente do tempo, em seu último suspiro, conseguiu proteger com todo amor, carinho e determinação aquilo que sua pequena dama deixou com toda a pureza aos seus cuidados e que nem mesmo ele viu o que era.

Agora... seus olhos se fecham para sempre.

Seu coração para.

Até que...

Duas mãos elegantemente enrugadas pelo tempo e exalando uma áurea pura e bondosa segura à do que um dia foi a de um jovenzinho sonhador.

E como num amanhecer de primavera, num desabrochar de uma rosa; essas duas mãos generosas abrem a sua, tirando o que tem lá... colocando seu coração de volta no lugar.

E tal como numa sublime criação da natureza, na gentil e pura verdade de um simples sorriso; seu coração bate mais uma única e agradável vez.

FIM

ESCRITO POR edi miller

Edi Miller
Enviado por Edi Miller em 08/12/2018
Código do texto: T6522270
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