Thomas S. Kuhn

Rapaz, estive fazendo uma leitura dinâmica daquele livro do Thomas S. Kuhn, o “A estrutura das revoluções científicas”, e ele me pareceu soberbo. Muito interessante a ideia de que a ciência “normal” é apenas um paradigma que, durante certo tempo, se mostrou mais eficiente do que seus concorrentes. Ele contraria a ideia de que a ciência é sempre um esforço acumulativo, com o momento atual sendo praticamente uma consequência natural do grau de desenvolvimento passado. Ele aponta que, por vezes, há anomalias, fenômenos que não se encaixaram no desenvolvimento normal de um paradigma, levando a uma crise na Ciência que só poderá ser resolvida por meio de uma “revolução”, quando outro paradigma sairá vencedor.

O processo de substituição de um paradigma por outro, naturalmente, não é dos mais simples, já que haverá todo tipo de oposição por aqueles que estão tão apegados ao paradigma passado que nada poderá demovê-los. Contudo, chega um momento em que o novo paradigma é irresistível e passa a dominar o conhecimento científico. São os jovens os que estão em melhores condições de mudar os paradigmas, visto que não possuem tantas ideias prontas sobre aquilo a que devem se dedicar como os mais experientes. Eles podem “pensar fora da caixa” com maior facilidade, e assim descobrir coisas que não seriam a consequência lógica do pensamento de quem está “dentro da caixa”.

São saltos evolutivos, sendo que, nesses momentos, a ciência deixa de ser normal para se tornar “extraordinária”. Em momentos de crise e de quebra de paradigma, cogita-se “todas as coisas”, pois se reconhece que o conhecimento atual não é suficiente para explicar um determinado fenômeno. Cogitar “todas as coisas” é algo que se imagina que a Ciência faça sempre, mas há sempre certos limites que ela não pode transpor, pois, do contrário, fará com que “desabe” todo o paradigma sob o qual ela se sustenta. É uma leitura das mais interessantes, o livro do Kuhn.

Há quem diga – isso não está no livro – que vivemos um momento em que o paradigma da ciência está para ser quebrado, diante das alegadas evidências ufológicas. Pode ser, pode ser. Mas se for pensar em coisas “fora da caixa” que sejam capazes de mudar o paradigma, então poderiam estar legitimados mesmo pretensões mais esdrúxulas, como a de que a Terra é plana. Sei que a pretensão do Kuhn não era tão relativista, mas não é difícil que qualquer teoria que seja não somente “fora da caixa”, mas também “fora da casinha” aproveite a sua visão para se considerar portadora do novo paradigma da Ciência.

Frederico Milkau
Enviado por Frederico Milkau em 17/12/2018
Reeditado em 17/12/2018
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