Dormência

Fico olhando ao meu redor e não consigo entender como simplesmente não há como ser. Não compreendo como as situações acontecem, tampouco a razão disso tanto doer.

A minha vida já não é mais minha. Talvez nunca tenha sido. Em algum momento eu achei que fosse, e que poderia ser feliz. Digo, tive momentos de alegria e satisfação, mas eles eram e/ou são tão passageiros. São tão superficiais que desaparecem num piscar de olhos. Numa palavra. Num ato.

Minha mão dói. A expressão “dar murro em ponta de faca” nunca foi tão real. Bem, talvez não tão literalmente, mas pedras doem igualmente. Talvez até mais. E só senti quando toda a fúria passou. A raiva se foi e fez questão de me deixar com a dor. Já nem sei o que dói mais.

A minha vida já não é mais minha. Talvez sempre tenha sido outra pessoa vivendo e eu pensando que era eu mesma. Em algum momento pensei que era ou seria. E nunca foi. Nem será. Não sei mais o que dizer. Não sei nem quem sou, como saber o que quero. Não consigo mais verbalizar. Não entendo mais.

Quando eu penso no que poderia vir daqui para frente, um misto de desespero e ansiedade me invadem e vão me corroendo. Isso vem de dentro pra fora, e se reflete nas mínimas coisas. Eu paraliso. Eu tento reagir, brigo comigo mesma, meu subconsciente me diz para ficar consciente. Mas eu não obedeço. Eu escuto, mas uma dormência toma conta de mim. E eu não reajo.

A minha vida já não é mais minha. Talvez eu esteja esperando por algo enorme que sequer me pertence. Em algum momento, pensei que alguém seguraria minha mão e de fato não me deixaria sozinha nesse escuro. Não porque não tinha alguém para fazê-lo, mas porque não poderiam compreender.

Meu coração dói. Sinto como se uma faca tivesse sido enfiada em cada pedaço dele e girasse por cada fragmento restante para que a dor fosse ainda maior. Como se um simples golpe já não fosse o suficiente para me fazer sangrar. O sangramento continua. Fica maior. Intensifica a ponto de me fazer gritar e implorar pra que pare. Em vão.

A minha vida já não é mais minha. Talvez eu só quisesse ser ouvida. Em algum momento, achei que pudesse me ouvir. Mas ninguém escuta. Não porque ignoram, mas porque não podem compreender meus gritos. Estou paralisada. Estou dormente. Estou sem reação. Estou sozinha. Estou aqui.

Mai Perske
Enviado por Mai Perske em 20/01/2019
Código do texto: T6555026
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