Etimologia da Língua Portuguesa Nº163

Etimologia da Língua Portuguesa por Deonísio da Silva Nº 163.

Sensação de medo comum nas grandes cidades, ansiedade veio do Latim anxietate, declinação de anxietas. Pessoa que faz um trabalho não renumerado por livre iniciativa, voluntário formou-se do substantivo latino voluntarius, que age por volutas, vontade.

Ansiedade: do Latim anxietate, declinação de anxietas, sensação de medo, acompanhada às vezes de taquicardia (aumento de batimentos cardíacos por minuto) e sudorese (secreção irregular de suor), entre outros sintomas. A ansiedade gera mal- estar físico e psíquico, pois o paciente imagina ser real e próximo um perigo indeterminado e impreciso. Ansiedade entrou para língua portuguesa em fins do século XVIII, às vezes escrita “anciedade”, pois o primeiro Formulário Ortográfico do Português, ainda não um Acordo, fixando a forma de escrever com base na etimologia e na fonética, data de 1911. Até então cada qual escrevia como achava correto, havendo, então, duas ou mais grafias para a mesma palavra. O médico austríaco Sigmund Freud (1856-1939), fundador da Psicanálise, sempre atento aos étimos gregos e latinos de seus conceitos, preferiu designá-la Angst, em alemão, vindo do Latim angere, apertar, e angina (angina, dificuldade de respirar, aperto na garganta, sintoma de desordem cardíaca). Ele usou várias palavras com esse étimo: Angstentituwicklung (desenvolvimento da angústia), Angstsignal ( sinal de angústia), Angstfall (ataque de angústia) e Angstszustand (estão em angústia).

Constitucionalista: de constitucional, e esta de constituição, do Latim constitutione, declinação de constitutio, constituição conjunto de leis que regem a vida de uma nação, mas modernamente com o sentido jurídico restrito da Carta Magna, isto é, a Constituição por excelência, embora a palavra possa ser aplicada a tudo o que se refira a constituir, formar, integrar. Chama-se Revolução Constitucionalista o movimento armado deflagrado no dia 9 de julho de 1932, dois anos depois da deposição de Washington Luís Pereira de Sousa (1869-1957), então presidente da República, ao indicar como candidato à sua sucessão o paulista Júlio Prestes de Albuquerque (1882-1946). Ele foi eleito, no entanto não chegou a tomar posse, impedido pela Revolução de 1930, sob a acusação de fraude nas eleições.

Estado Novo: do Latim status (romanus), nação soberana, mas também com o significado de província ou região, como ente regional que integra a federação, e novus, novo. Designa a ditadura imposta pelo advogado e político brasileiro Getúlio Vargas (1883-1954), em 1937, que terminaria somente em 1945.

Gaudério: do Latim gaudium, alegria, presente em Gaudium et Spes (Alegria e Esperança, encíclica do papa Paulo VI (1897-1978), depois de escala na variedade do Espanhol falado nos países da região do Rio da Prata, gaudério, já com o significado de vagabundo palavra que em seus primórdios não foi pejorativa, pois vagabundo era apenas o sujeito sem rumo definido. Na variedade gaúcha do Português, especialmente na região dos pampas, gaudério é o sujeito livre de compromissos, solteiro sem vínculo empregatício, que hoje está num lugar amanhã em outro. Cobre significados positivos --- livre, independente ---, mas também negativos, gerando controvérsia sobre interpretação de um dos vocábulos-símbolos do gaúcho.

Rola: de provável origem onomatopaica, isto é, palavra formada de reprodução de som aproximado da sílaba ou sílabas que compõem; no caso, do rumor das pombas, arrulhar, vindo do Espanhol arrular, verbo que designa murmúrios amorosos feitos pelo pombo macho ao procurar a pomba para acasalamento. No Português medieval era rolla, tal como atesta o primeiro registro escrito, no século XV, quando a ace aparece ao lado da codorna e da andorinha, numa frase do historiador português Gomes de Eanes Zurara (1410-1474) no livro Crônica dos Feitos Notáveis que se Passaram na Conquista da Guiné por Mandado do Infante Don Henrique.

Voluntário: do Latim volumtarius, que age por voluntas, vontade. No sentido pejorativo é voluntarioso, como se diz de criança que só quer fazer o que tem vontade. No sentido geral, aplica-se a quem faz algum ofício ou trabalho por livre iniciativa e renumeração. O Brasil tem várias ruas e avenidas chamadas Voluntários da Pátria, como eram chamados aqueles que se alistavam no serviço militar de livre escolha, sem serem conscritos ou convocados.

Deonísio da Silva, da Academia Brasileira de Filologia, recebeu o Prêmio Internacional Casa das Américas, em júri presidido pelo escritor português José Saramago, Prêmio Nobel de Literatura. Escritor, professor e doutor em Letras pela USP, é professor (aposentado) da UFSCar (SP), curador de Língua Portuguesa da Universidade Estácio de Sá (RJ), onde ministra videoaulas, coordenador de projetos editorias na Unisul (SC) e colunista da Bandnews, com Ricardo Boechat. Livros de sua autoria estão publicados também no exterior. É autor de De Onde Vêm as Palavras (17ª edição). www.lexikon.com.br

Revista Caras

2015

Doutor Deonísio da Silva
Enviado por zelia prímola em 16/02/2019
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