Era uma vez

“Era uma vez uma princesa que se salvou sozinha.”

Hoje vi uma imagem no Instagram que carregava exatamente este dito... sem dúvidas um dos jargões mais fortes do universo feminista nos últimos tempos, contrariando os mais renomados filmes da Disney e os contos de fadas republicados ao avesso do sentido original proposto pelos Irmãos Grimm.

Mas eu passo longe de ser uma feminista. Sou cristã, apoio a família tradicional e acredito, conforme a exegese calvinista, que ninguém pode se salvar sozinho no que diz respeito aos próprios pecados. Isso somente é possível através dos méritos de Cristo e da sua benevolente vontade.

Todavia, o propósito deste texto não é arguir sobre a doutrina da soteriologia - quanto a isso, teólogos brilhantes o fizeram. Meu propósito aqui é falar sobre ser mulher nos tempos atuais.

Vivemos em uma época de transições. As mulheres adultas desta era, que apregoa que os homens não servem para nada, que temos força suficiente para fazermos tudo o que quisermos e que podemos ditar as regras do nosso corpo e atitudes como se não houvesse uma moral social, consequências ou ainda um Criador, são as mesmas mulheres que cresceram suspirando pelo momento em que tudo acabaria bem e se viveria feliz para sempre ao lado de um grande amor, filhos e até quem sabe um mordomo.

Como lidar com esta esquizofrenia?

Não se trata de casar ou não casar, de ter ou não uma profissão bem sucedida. Se trata de amor e felicidade.

O feminismo (embora tenha inegáveis contribuições que, penso eu, teriam vindo de outra forma - portanto não o enalteço) já provou o seu fracasso no que se refere a esta suposta força interior.

Cada vez mais me deparo com mulheres cansadas... basta conversar com muitas delas na espera do médico, na fila do banco ou no restaurante universitário. Cansadas de maridos orgulhosos e em sua maioria infiéis, de estudos sem fim, de tantas contas à pagar para sustentar uma vida minimamente confortável, ou ainda cansadas de serem abandonadas, deixadas com promessas vazias e feridas, nunca tendo sido realmente quistas porque os nenéns barbados, atualmente chamados de homens, só cresceram em estatura e egoísmo. Maioria deles são simplesmente incapazes de se relacionar e amar outra pessoa.

São cansadas de esperar por qualquer coisa, e, por isso, veem-se na obrigação licita de salvarem a si mesmas deste vale deserto que é a vida. O problema é que afogam-se em seus próprios vazios e medos, tropeçam em suas dores emocionais e precisam carregar os fardos de casamentos falidos, profissões escravizantes ou a caminhada solitária de quem decidiu caminhar léguas adiante - com bagagem e tudo.

Foram criadas como princesas sem castelo, sem príncipes e sem cavalos brancos, e ao se darem conta disso, salvaram-se. Salvaram-se?

Parece que somente da ilusão.

Como boas damas, aprenderam a construir as próprias fortalezas e se adaptaram a elas, chamando o feito de amor próprio. No entanto, o que poucas falam em público é que esse tipo de amor também chora durante à noite.

Salvaram-se exatamente do que, me pergunto? E do que precisam então ser salvas agora? Princesas...

Raynara Karenina
Enviado por Raynara Karenina em 17/02/2019
Código do texto: T6576912
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