Naturalismo x Sociologismo

Há muito conflitam paradigmas naturalizadores e sociológicos; eu mesmo recorrentemente classifico a humanidade enquanto produto estrito dos processos sociológicos, especialmente com o intuito de eliminar os discursos que naturalizam as disposições axiológicas dadas nas sociedades.

Porém, eis que estava aqui errante pelos pensamentos, e algo me ocorreu: que de fato esses paradigmas não conflitam, mas fazem parte de uma mesma forma de compreender o desenvolvimento da humanidade. Independente da doutrina antropológica que se escolha, seja a evolucionista unidirecionalista, a difusionista, a culturalista, enfim, independente delas, todas compreendem a ideia do surgimento inicial em grupos. Antes mesmo do processo de hominização-humanização, as espécies sempre viveram em associações, salvo na elucubração rousseauista, qual ele mesmo admitiu tratar-se de uma construção teórica hipotética.

Pois bem, posto que não exista na origem das sociedades humanas nenhuma que o tenha sido constituída por um único indivíduo, deduzimos que o viver em sociedade esteja circunscrito à esfera da natureza, como Aristóteles já nos dissera (mesmo que pautado noutras características que ele atribuíra exclusivamente ao homem - logos); de modo que quaisquer disposições dos elementos desta sociedade, por silogismo, também o seriam naturais.

De imediato surge disto um desconforto, (aparente como veremos), pois todas aquelas naturalizações das contingências aparentam estar legitimadas. Mas essa legitimação cai por terra porque ela não anula o fato de que tais disposições ainda sejam de caráter sociológico, isto é, sejam contingenciais, podendo ser de outras formas. Oras, qualquer disposição dos elementos sociais são,portanto, naturais, tanto naquelas opressoras e desiguais, quanto nas igualitárias, mas o que rege tais arranjos pertence à esfera do sociológico.

O argumento da naturalidade das disposições sociais não anula, pois, a presença das contingências. As questões devem deslocar-se da natureza das estruturas sociais para discutir sobre a qualidade de seus arranjos. A psiquê humana, ou nossa peculiaridade natural, parece possibilitar o melhor e o pior de sua manifestação, e nenhuma é mais natural do que a outra; porém, uma é nociva e outra construtiva, tal qual os arranjos sociais. Cabe trabalhar nesta esfera, e fugir da discussão improdutiva entre escolas de pensamento.

Evidente que qualquer conceito equivocado coloca por terra esse pensamento, vê-los apontados não me causarão constrangimento, mas ao contrário, permitirão que eu os corrija e evolua.