AÇÃO DOCENTE E SEUS CAMINHOS DE CONSTRUÇÃO

INTRODUÇÃO

A educação assim como as diversas áreas contempladas pelo ser humano foi atingida pelas interferências do homem. Desde os tempos fordistas a mesma é vista como um instrumento de mobilidade social, capaz de dar, como também retirar do homem a inserção em um mercado de trabalho melhor e mais competitivo. No entanto, essa busca da educação como uma ferramenta de conquista acabou por tornar-se vaga, já que essa procura desvalorizava o ato de especializar-se, fazendo com que poucos procurassem se dedicar a sua formação pessoal.

Muitos acabam por se questionar se ação docente é considerada uma profissão em que consiste especialização, autorregularão, valor de serviço público e afins. Sim, e diferente das demais profissões ela abrange complexidades únicas, que outras profissões não tendem a se preocupar. Uma delas é a aprendizagem informal, fundamenta-se nas emoções, à docência inicialmente exige mais aspectos emocionais ao invés de racionais. Segundo Van Veen, Sleegers e Van den vem, ‘’As emoções constituem um elemento essencial no trabalho e na identidade dos professores” (2005, p. 918), e que devem ser consideradas ao associar a construção da ação docente.

Portanto a dura realidade enfrentada pela maioria dos professores nos faz refletir sobre a falta de preparo perante estes desafios, que muitas vezes se inserem mais em campos racionais quando deviam ser emocionais diante das situações. Levando-se a considerar em que caminhos percorre a construção da ação docente desde estes tempos até hoje, e como sua má formação pode gerar consequências para os demais.

DESENVOLVIMENTO

A escolhe de tornar-se docente, ou seja, de ensinar vai além das práticas educacionais, abrange ter a noção de construir cidadãos críticos e capazes de questionar sobre o meio em que vivem, visando sempre os seus objetivos finais de professor a serem alcançados. Esta missão de lecionar sempre esteve presente na sociedade como uma prática comum que pretendia repassar conteúdo. Ensinar deixou de ser um mero ato em que se transfere conhecimento, e que o domínio mesmo sendo pouco era disponível e ‘’acessível’’.

Conforme os autores Cochran-Smith e Lytle (1999), o conhecimento perante à docência pode estar presente de duas formas: conhecimento para a prática e o conhecimento na prática. Conhecer para a prática condiz em organizar a prática, buscar conteúdos, teorias educacionais, estratégias de ensino para uma prática eficaz.

Já o conhecimento na prática, enfatiza o ato de aprender a ensinar, constituído na busca do conhecimento na ação, tornando em ensino uma atividade espontânea e contextualizada ‘’ e construída em resposta às particularidades da vida diária nas escolas e nas classes. O conhecimento está situado na ação, nas decisões e nos juízos feitos pelos professores. Esse conhecimento é adquirido por meio da experiência e da deliberação ‘’ Cochran-Smith e Lytle (1999). O conhecimento na prática por ser contextualizado é o mais adequado para a ação docente, onde trataremos do mesmo e suas vertentes.

Atualmente a construção de transmitir o ensino envolve um contexto que nem sempre diz respeito somente a ser professor, pleiteia que antes de ser docente se seja um cidadão crítico o bastante para instigar criticidade em seus discentes. A forma como se ensina uma determinada disciplina diz muito sobre como ela irá ser ensinada, por conseguinte é importante que a própria seja bem apresentada aos seus alunos. Portanto, educar requer a imensa especialidade de refletir para quem estou ensinando, o que estou ensinando e como vou ensinar. Como afirmar o Roldão:

‘’ Do nosso ponto de vista, a dialética do ensino transmissivo versus o ensino ativo faz parte de uma história relevante, mas passada, e remete, na sua origem, para momentos e situações contextuais e sócio históricas específicas. À luz do conhecimento mais atual, importa avançar a análise para um plano mais integrador da efetiva complexidade da ação em causa e da sua relação profunda com o estatuto profissional daqueles que ensinam: a função específica de ensinar já não é hoje definível pela simples passagem do saber, não por razões ideológicas ou apenas por opções pedagógicas, mas por razões sócio históricas. ’’ (Roldão, 2007, p.95)

A construção de ser professor como um ser único do saber não permeia mais a sociedade moderna, hoje é preciso uma atual construção para formar novos professores, que possam entender, visualizar a sociedade contemporânea e buscar formas de transpor os desafios que a mesma propõe.

A formação constitui em si um pensamento no outro, nas próximas gerações e não no campo atual, ela busca os desafios atuais para tratá-los com o futuro. Ser formador atualmente requer desenvolver habilidades que até alguns tempos atrás não tinham um papel social importante, inclui tomar decisões que determinarão as de futuros profissionais.

A formação docente tem encontrado adversidades em sua construção, por viés a mais traiçoeira de todas são as consequências de uma má preparação, pois não se trata de apenas a formação, a construção do ensino se dá desde a vida de estudante, se consolida na formação e faz-se prolongada no exercício da profissão, é através deste caminho que a mesma nasce, para ser moldada e aperfeiçoada ao longo dos tempos. Por conseguinte, as consequências caem sobre os alunos, por tratar-se de uma profissão que intervém e ao mesmo tempo edifica seus educandos, por menores que sejam as lacunas que lhe faltam recairão sobre aqueles ao seu redor.

Cabe ao professor a construção de uma identidade profissional, esta é advinda de sua identidade pessoal, é o resultado de seus aspectos pessoais, sociais e cognitivos. Quanto melhor for o destaque da identidade pessoal de um professor mais forte será sua identidade profissional, logo que é por meio dela que se constituirá um ‘’ser bom docente’’.

‘’ Feiman (2001) já chamava a atenção sobre o divórcio que existe entre a formação inicial e a realidade escolar. Os estudantes em formação costumam perceber que tanto os conhecimentos como as normas de atuação transmitidos na instituição de formação pouco têm a ver com os conhecimentos e as práticas profissionais. Tendem, finalmente, a descartar, por considerá-la menos importante, a necessidade de incorporar certos conhecimentos que fundamentam o trabalho prático. ’’

. Bons alunos provêm de boas instruções, orientações e preceitos advindos de bons professores, posto que um educador adequado domina bem os múltiplos conhecimentos além de sua teoria, aliando-os as vastas experiências para ser capaz de incluí-los ao contexto correto, enfim somente assim englobá-los em uma prática eficaz que percorra as esferas escolares. Formar é isto, é fundamentar princípios concretos, sejam eles acadêmicos ou sociais.‘’O saber de uma dada disciplina não é, por si só, suficiente para se ser capaz de a ensinar’’ (Zeicnher, 1993, p.38).

De acordo com Pacheco (1995), formar professores implica debater questões conceituais e discutir critérios metodológicos, subsequentemente, o estudo dos processos cognitivos dos professores fornece diretrizes válidas para a implementação de novos currículos de formação. Pois é a partir dos professores, do exemplo de como ser um professor que o círculo da sociedade será iniciado.

A ação de prática solicita de o docente portar habilidades múltiplas em diversos conhecimentos, bem como uma vasta experiência para que possa contextualizar seus saberes, afim de construir e alimentar a sua vida de formação docente. Entretanto a constituição do currículo seja a do formador ou formante impossibilitam esses aspectos, é através da inserção curricular que se defende uma base sólida e proveitosa. Perante a implantação com relação ao ensino no Brasil deixou-se de lado os aspectos multiculturais que modificam a metodologia a ser manuseada.

Outro fator também presente na construção desse processo já foi abordado aqui, quanto ao tradicionalismo de uma eficiência social, obrigando formações docentes para se instaurar nos âmbitos sociais. Por tais questões tem-se implantando um ambiente desenvolvimentista para converter mestres e alunos em um espaço natural e familiarizado, afim de que o primeiro tenha condições abrangentes para desenvolver-se sistematicamente e artisticamente também. Associar cada trabalho cotidiano contribui para o mesmo construir, visto que ministrar conteúdos próximos da vivência dos próprios torna-se mais fácil para ser trabalhado no ambiente escolar.

Sabe-se o quão a economia mundial tange as demais esferas, como é de se esperar esta também permeia a ação docente, é a partir dos destinos financeiros que se impõem os limites para até onde vamos investir em formar professores e alunos. Os incentivos monetários encontram-se divergentes dos currículos, distanciando mais ainda a teoria da prática. Ainda que professores possuam recursos, já não se é mais suficiente por que agora a construção docente incorpora mais do que finanças, trata-se da longitude atrelada a prática e a teoria.

Existe um grande fosso entre a formação que o professor recebe e o ensino que se espera que ele ministre. (Rocha,2007, p. 62). Segundo a autora citada, de fato há um abismo entre os dois maiores alicerces que compõe os mais diversos cursos de licenciatura. Sua causa deriva da teoria aplicacionista, que por ora propõe a transmissão árdua de conhecimento e por outro lado isoladamente apresentam-se estágios das disciplinas trabalhadas na formação docente.

Construir um professor como já foi dito é construir um ser de ação, é levar em consideração que não somente conhecimentos o farão um grande professor, se faz necessário incluir os saberes, inserir e observar as questões do aluno que está ali para se tornar um docente. Ao longo dos tempos, a sistematização de conteúdos também percorre as licenciaturas, jogando para as laterais às ações a serem pensadas em ‘’como vou ser um docente? ’’, e de outra forma acadêmicos vivem sob a luz de serem inocentes, juntamente com o pensamento de suas crenças e representações quanto ao ensino.

A formação de professores é a área de conhecimento, investigação e de propostas teóricas e práticas que, no âmbito da Didática e da Organização Escolar, estuda os processos através dos quais os professores – em formação ou em exercício – se implicam individualmente ou em equipe, em experiências de aprendizagem através das quais adquirem ou melhoram os seus conhecimentos, competências e disposições, e que lhes permite intervir profissionalmente no desenvolvimento do seu ensino, do currículo ou da escola, com o objetivo de melhorar a qualidade da educação que os alunos recebem. (GARCIA, 1999, p.26)

A visão moderna de ação docente resumisse a um ato que apesar de parecer simples encadeia diversas outras ações, planejar. O ato de planejar consiste em analisar a realidade proposta, observando suas dificuldades e visando objetivos a serem almejados, então consequentemente surgem os resultados. Delimitar a ação docente somente ao resultado a distorce do que ela realmente é, à docência exige que se seja bem mais do que professor, acaba por tornar cada um dos discentes em observadores, analisadores, pesquisadores para usar dos melhores recursos para atender ao seu pública. Exercer o domínio de professor requer antes de tudo saber planejar um bom currículo que será rodeado de saberes, tanto dos professores quanto dos alunos.

A formação do docente diz muito sobre sua construção, isto já é de praxe. Mas o que dizer da construção de um mestre de sala quando este deixa de ser um mero aluno para tornar-se professor. Saber inserir suas vivências, buscar conhecimentos amplos, instigar criticidade são ações refletoras de uma vida e uma formação, mas entre o curto espaço de formando para formador um fator determinante, a prática de planejar.

O primeiro papel do docente ao estar inserido no espaço de construção da prática docente é este, é de fato a construção de si, de sua metodologia, de seus conteúdos e domínios. Por muitas vezes o planejamento não está totalmente a disponibilidade do professor, já que há diversas maneiras de planejar, por meio de sistematização, cientificamente e organizacionalmente, estes planejamentos são os alicerces que englobaram perguntamos que professores devem ter sempre em mente, ‘’para quem estou ensinando? ’’, ‘’o que estou ensinando?’’, ‘’como vou ensinar?’’, é através do ato de planejar, que o docente vai analisar, observar, buscar métodos e meios que mais na frente mostrem resultados.

No entanto não se trata somente de estratégias, envolve operações mentais como refletir, solucionar, dividir tempo de aprendizagem, prevendo ainda formas de agir e solucionar problemas, que são colocadas no papel antes mesmo de encarar as salas de aula. Este processo faz parte do componente curricular, que é a criação de um documento que contemple as metodologias, conteúdos e formas da escola/professor retratarem os alunos em sociedade, mas ele não é um currículo, por ser apenas uma ferramenta que auxilia e norteia os professores.

Não obstante, a construção não está somente em fazer este componente curricular, e sim em exercê-lo, em colocar em prática a risca todos os pontos, sejam eles pedagógicos-políticos-sociais, este é o papel do professor, levar vida aos seus planejamentos mesmo que sistematicamente simples e abreviados são eles que guiam muitas vezes os alunos. Porém, sabe-se que este processo de planejar pode vir ou não a ser realizado.

O cenário apresentado nas últimas décadas tem sido de muitas reformas para os professores, com relação as suas práticas docentes, de 1980 até então diversas reformas educacionais eclodiram no efeito chamado comportamento ‘’fast-food’’, que por meio dessas reformas buscou dos docentes aplicações automáticas e sem fundamentos somente para realizar as inovações que instituições e administrações impuseram. Essa política de inovar gerou descontextualização, pouca preparação, afastamento dos reais problemas educacionais e uma aplicação prática desconexa perante as demais.

CONCLUSÃO

A construção do processo de docência se dá início antes mesmo da entrada na sala de aula, o ato de planejar tangencia todas as ações de ser professor e para que todos os fatores até aqui citados venham a ocorrer, para que o professor seja cidadão antes de ser somente professor, para que haja condições de levar conteúdos fieis aos seus alunos tem de ser inserido a prática de planejar. Planejar como lidar com o público, o conteúdo que será direcionado a esse público, as abordagens perante os conteúdos, planejar-se como professor o qual o currículo escolar prega e exige. Mas a efetiva construção se dá por meio da retirada do papel, do planejamento, dos planos para transformá-los em resultados.

‘’Começar do começo’’, esta frase é de fato redundante, mas a ação de construção docente começa por ela como também ‘’ensinando é que se aprende’’, de fato a implementação de quanto mais se ensina mais experiências e quanto mais experiências melhor será a construção da ação. Porque ser professor é sentar-se e estudar cada segundo do tempo em sala de aula, é levar em consideração o tempo de seus alunos, das dúvidas, das possibilidades que os mesmos podem desenvolver, selecionar, estruturar, organizar atividades e experimentos para desenvolver aqueles conteúdos trabalhados.

Para enfim, retirar do papel tudo isto e passar a refazer cada ponto no espaço escolar. Pois entender que ensinar não é apenas levar a uma classe pilhas de exercícios e conteúdos torna-se fundamental para compreender que o começo de docência está no ato de humanizar a si e aos seus alunos. Ser capaz de enxergar os limites e as possibilidades é o porquê de muitos professores não serem tão construtores de outros bons profissionais.

Em suma a construção da docência está liga a construir-se antes de formar a outros, é aprender e ensinar só pelo simples ato de estar ensinando. É aliar experiências, conhecimentos, analisar e observar para atribuir os melhores métodos explorando as habilidades de seus alunos, levando em consideração suas possibilidades, direitos e limites. Pois o ato de ensinar diz mais sobre quem ensina do que aquele que aprende. E mesmo que pareça ser permeado de falhas ainda é o único caminho que é capaz de tornar os homens mais críticos, sábios e duvidosos.

Referências:

1) MARCELO, Garcia, 1999, p.26.

2) BOLFER, Maura. Reflexões sobre prática docente. Piracicaba, 2008.

Disponível em:

https://alsafi.ead.unesp.br/bitstream/handle/11449/134894/ISSN1982-5153-2012-05-02-150-188.pdf?sequence=1&isAllowed=y

3) ALENCAR, Glidélia. Planejamento como necessidade da ação docente. Consultado em abril, 2018. Disponivel em:

http://www.bahiana.edu.br/CMS/Uploads/Artigo%20O%20PLANEJAMENTO%20COMO%20NECESSIDADE%20DA%20A%C3%87%C3%83O%20DOCENTE.pdf

4) DA COSTA, Eliane. O planejamento da ação didática. Consultado em abril, 2018.

Disponível em: https://educador.brasilescola.uol.com.br/trabalho-docente/o-planejamento-acao-didatica.htm

5) ANANIAS; FARIA. Vanessa; Helena. A ação docente no século XXI: novos desafios. 2011.

6) ROCHA, Solange. Construção da ação docente. São Carlos, 2007.

7) SILVA; BASTOS. Vania; Fernando. Formação de Professores de Ciências: reflexões sobre a formação continuada. São Paulo.

8) PACHECO, J. A. de B. Formação de professores: teoria e práxis. Braga: Universidade do Minho, 1995.

9) MARCELO GARCIA, C. O professor iniciante, a prática pedagógica e o sentido da experiência. Revista Brasileira de Formação Docente, Belo Horizonte, v. 03, n. 03, p. 11-49, 2010. Consultado em abril, 2018. Disponível em http://formacaodocente.autenticaeditora.com.br.

10) FEIMAN-NEMSER, S. Da Preparação à Prática: Projetando uma continuidade para Fortalecer e Sustentar o Ensino. v. 103, n. 6, p. 1013-1055, 2001.

Cadrinne
Enviado por Cadrinne em 23/03/2019
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