Insigh - Apanhado total dos pensamentos que levam ao Insigth

Insigth

Viajo quando reflito; nesse momento é como se tudo parasse e eu entrasse num mundo só meu onde tudo pode ser perfeito ou explicável. É claro que nem sempre o pensar me leva a coisas inefáveis. As perguntas que me faço são muitas e minhas buscas em lhes perceber as respostas, outras tantas. Minha cabeça é um mundo de interrogações, de dilemas, de projetos e explicações às coisas que percebo ao meu redor e tomada também de um turbilhão de sentimentos e emoções que experimento e procuro entender, em mim e nas outras pessoas.

Talvez possa parecer um hábito, ou não sei se é porque faz parte da minha natureza o observar as pessoas e seus comportamentos; eu tento desesperadamente compreender suas atitudes, seu gestual e maneirismos que para minha cabeça tudo tem sempre uma explicação, ainda que não seja a que se convenciona. Eu me pego estudando as pessoas numa fila, no supermercado, na igreja, esteja ela conversando comigo ou distraída nos seus atos, sem sequer me notar por perto. Não que eu procure por isso, mas, muito mais do que averiguar a vida do outro; é como se buscasse em cada uma delas uma resposta para as minhas indagações sobre a vida, o mundo ou eu mesma.

Não estou muito certa de que saiba realmente quem sou, embora tenha aprendido muito mais sobre mim mesma depois de ter feito terapia e pela observação constante do meu comportamento, das minhas vocações e da minha comparação com o outrem, certo é de que sempre me sinto uma estrangeira dentro do meu circulo familiar e muitas vezes uma incógnita para mim mesma.

Não devem existir palavras eficazes ou suficientemente capazes para explicarem o que está no íntimo de cada um. Há circunstâncias que um olhar, um gesto diz mais que palavras, mas ao dizer isso caio no lugar comum, entretanto se paro para pensar que palavras poderiam exprimir o sentimento dessa hora, concluo que não encontro palavra alguma que alcance a dimensão para o gesto ou olhar experimentado nessa ocasião. Isso me aflige, porque isso me deixa claro que da mesma forma há coisas que quero registrar com palavras para compartilhar, e não as encontro.

Minha intimidade com tantos sentimentos não me deixa confusa, sei exatamente o que sinto em cada situação vivida ou imaginada, o que não sei é traduzir em palavras. Uma vez alguém me disse que não valia à pena querer entrar tanto dentro de mim mesma, poderia enlouquecer, confesso que temi e cheguei mesmo a acreditar podia haver um fundo de razão nessa perspectiva, porém pensei que se não fizesse isso de maneira compulsiva e desastrada não correria riscos e voltei a me perguntar e investigar sempre mais e mais sobre tudo que me incomoda.

Como disse, à medida que fui tomando conhecimento e vivência dos sentimentos e emoções, as perguntas foram surgindo e assim o pensar e investigar acabou por virar rotina; aqui a rotina não cabe como uma coisa cansativa e sim como uma coisa que se faz constantemente sem que isso seja programado, portanto, sem ser chato ou cansativo.

A rotina nesse caso é quase um estudo profundo e auto-didático, ainda que não tenha valor acadêmico porque é só a minha visão, meu sentir do mundo e das pessoas com seus dramas, verdades, mentiras e emoções. A percepção do outro é discreta e constante como um ato de amor e respeito. Ao entender o outro nas suas misérias ou nas suas alegrias eu posso aprender a conviver com elas, mas não é só em proveito próprio que procuro entender, é para descobrir o sentido real de cada uma dessas vivências e com isso o diferencial entre uma e outra pessoa.

Acreditar em Deus é inerente ao meu ser, mas ficam muitas perguntas sem respostas, e é para essas perguntas que me vejo olhando para o céu, para a natureza e para cada pessoa vivente que atravessa o meu caminho.

A introspecção reflexiva é um benefício de auto-ajuda poderoso, mas que nem todos praticam por medo do que vão encontrar dentro desse espelho que põe a nu tudo que se pretende esconder até de si próprio. É doloroso reconhecer falhas no nosso caráter, identificar quando temos pensamentos mesquinhos, quando bradamos contra a mentira e escorregamos nas nossas. O homem teme o julgamento do seu semelhante e na maioria do tempo vive de aparências, na verdade vestimos máscaras adequadas para cada situação que enfrentamos, seja por polidez ou por medo de mostrar exatamente como nosso eu realmente é.

Nada de errado no vestir máscaras o perigoso é quando essas máscaras não são só para os outros, e sim para nós mesmos. Quando isso acontece nos perdemos do nosso eu para vivermos um personagem, ou outras pessoas.

Cada um de nós é uma usina perfeita e diferente, imagine um mundo povoado por mais de dois bilhões de pessoas e nenhuma é igual a você! Não é fantástico? Eu disse usina porque no meu entender somos máquinas carregadas de muita energia para mover o mundo, e o combustível dessa máquina que somos, são as emoções, desejos e sentimentos; porque são eles que nos movem para todo e qualquer empreendimento.

Uma usina é um arsenal de energia e se não bem cuidada pode implodir, como um ser humano poderá, não no sentido literal, claro.

Mas mesmo que não tenhamos nesse mundo ninguém parecido conosco nem física nem interiormente, há padrões comportamentais, sociais, culturais, regionais e outros que acabam por traçar perfis para as semelhanças e para as diferenças.

Talvez para ficar mais fácil de entender como os iguais se comportam: rotulamos, ou para fugir dos diferentes.

Rotular é uma invenção do homem.

Dentro da minha prosa vai um mundo de sentimentos que jorram; seja pelo meu espírito inquieto, seja pelo meu refletir incessante sobre as pessoas, minhas relações para com elas ou minha e delas para com o mundo. O meu sofrer nas letras nem sempre representa só o meu coração, algumas vezes é a interiorização de emoções que sinto ao meu redor, ou imagino em mim.

Para os que têm como eu, a veia entupida pelas letras, a sensibilidade na pele e a cabeça em constante ebulição pelos pensamentos, a inspiração insiste em dotar com criações, que para alguns pode parecer incompreensíveis, mas que para outros tantos que o sentem e não conseguem exteriorizar, nessas criações se enxerguem pura e simplesmente.

O corpo só vai onde a cabeça comandar para ir, o mesmo não acontece com os pensamentos que são livres e nunca cessam.

O fascínio do pensar, de refletir está justamente na relação que se pode ter com as palavras e as letras; que pode ser para espelhar sonhos intangíveis ou simplesmente colocar no papel verdades advindas da observação constante e criteriosa.

O laboratório da prosa

Angélica T. Almstadter

O mundo da minha prosa vai além das palavras. O que parece um

quebra-cabeças bem montado, ou um intrincado bem organizado de palavras escolhidas com cuidado é também um registro de emoções e sensações variadas. Jamais uma prosa é simplesmente um conjunto de palavras, dentro desse contexto de sentimentos explicitados há uma dose considerável de fantasias, que se misturam a cheiros imagináveis, delírios e devaneios.

Algumas pessoas nem tem a sensibilidade para perceber que dentro de uma prosa, as vezes desconexas ou desprovidas de razão, salta aos olhos sentimentos tão vivos e tão palpitantes, muitos até desconhecidos por uma porção de pessoas, porque incluem vivência, experimentação. Dizer que o poeta é um fingidor e que finge tão bem, que acredita no que vive,

O poeta é um fingidor.

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente.

como disse Pessoa, é uma verdade de que não se pode fugir, entretanto a alma do poeta é por si só um grande laboratório para sua escrita, assim ele só será verdadeiro se viver o que escreve, ainda que seja solitário nessa vivência.

Ou se seja, é preciso experimentar todas as sensações e emoções, mesmo empiricamente, para se poder traduzi-las em palavras. Ninguém domina na escrita o que não conhece profundamente, ou antes, ninguém finge tão bem se não conhecer na própria carne a dor do corte. Parece fácil falar de sentimentos e coisas íntimas quando se tem as palavras à mão, mas palavras ditas sem sentimentos são vazias e sem o menor valor, eu não saberia dispor em linhas ou entrelinhas palavras simplesmente ocas, penso em cada verbete que uso como um veículo para carregar sentido para o conjunto que componho. O meu mundo é pleno de sentidos, sensações provadas ou à serem experimentadas, emoções, e uma carga enorme de paixão. Minhas mãos podem eventualmente estarem vazias, o meu espaço físico pode ser solitário, mas o meu mundo interno é complexo e extremamente povoado.

Há quem diga que expor as sensações todas de forma tão nua, é uma forma narcisista de se colocar no mundo ou um apelo de carência, eu não diria que concordo ou discordo, mas que tenho sim outra visão; penso e acredito na troca de energia entre pessoas que comungam de ideais e idéias, e partindo dessa premissa, essa exposição vira um grande balão de ensaio, onde todos os envolvidos doam e recebem, crescem todos emocionalmente, espiritualmente e enriquecem todos intelectualmente.

Por pensar dessa forma e por pensar num mundo onde a harmonia das palavras e de sentimentos é fundamental para a união das pessoas e para o autoconhecimento, é que decidi soltar a minha voz, sem me perturbar com o ruído que ela possa causar. Enquanto cá dentro de mim, há uma revolução interminável, e uma imensa vontade de experimentar a vida em toda a sua essência, eu me permito ouvir os meus barulhos; esses demonstram a vida aprisionada cá dentro querendo explodir em muitas lavras.

O mistério que há dentro de cada um de nós é o que nos torna fascinantes. Por mais que se possam espionar as pessoas, aonde vão e como se comportam: seus pensamentos são invioláveis e nesse grande mistério é que reside, a beleza do descobrir o outro, a incerteza do futuro.

O dia de amanhã está por ser escrito e cada um terá a sua parte na construção desse amanhã; alguns contribuirão com gestos, outros com palavras, outros com suas invenções, criações e até com seus erros e dessa experimentação é que se faz a vida.

Dentro de cada pessoa se move uma história paralela a que se move do lado de fora, nos gestos e na experimentação da vida, que quase não vem à tona. A pessoa que somos interiormente quase nunca é conhecida pelos outros e muitas vezes nem por nós mesmos.

Poucas são as pessoas que se interiorizam a ponto de se questionarem a fim de se conhecerem mais intimamente, falta tempo e sobra falta de interesse e até muito medo. Medo do que se possa encontrar nesse desconhecido eu que temos lá no fundo. É muito mais fácil lidar com o eu que levamos para o mundo, já que esse eu é o que sabe vestir máscaras, sabe mentir e sabe representar.

Brincamos de esconde-esconde para fazer da vida alguma coisa muito mais agradável do que é realmente e quando somos surpreendidos com o peso da realidade o resultado quase sempre é desastroso; adoecemos. Entretanto não se pode viver como num conto de fadas se escondendo da realidade; ninguém agüenta viver de realidade 24 horas, como não se pode viver 24 horas de sonhos. Mas quem saberia o limite considerado equilibrado, já que cada um tem necessidades diferentes e constituição física também diferente.

Não há regra para se viver no tocante à experimentação emocional, nem poderia, o que há são pessoas mais ligadas às coisas da matéria e pessoas com maior intimidade com as coisas do espírito, o que não quer dizer que uma e outra não possa ter experiência com as duas coisas. A cada um, segundo a sua sensibilidade.

É assim poeticamente que é possível traduzir em palavras um pouco de  todo o sentimento que vai dentro da alma de uma pessoa “radar”; sim os poetas são radares abertos para o mundo. Deles toda a energia emerge em forma de emoções e sentimentos registrado por palavras, poesias, prosas. Uma espécie de comunicação emocional que só pode ser dita de alma para alma, como se fosse uma confissão.

Infelizmente nem todas as pessoas “radares “ ou “captadores” conseguem extravasar as suas comportas e vão enrijecendo, adoecendo por não se saberem capazes de experimentarem a si mesmas. A face oculta de cada um de nós esconde um mundo que se não entendido pode virar um transtorno psicótico, ou uma patologia.

Se eu posso me olhar defronte o espelho, se eu posso exorcizar meus fantasmas, é claro que qualquer pessoa munida de boa vontade também pode, entretanto é preciso se despir dos preconceitos e aprender a se enxergar por dentro, e a única maneira de se enxergar por dentro é deixar fluírem os pensamentos, aprendendo a pensar e dar ouvido ao que pede o coração.

O corpo costuma acusar a necessidade de parar da mesma forma que a alma e o coração costumam dar sinais de que precisam se comunicar através dos sentimentos.

Parindo palavras

E aí que o meu poema "Gestação" não foi muito bem digerido, questão de título, pouco se quer gestar hoje em dia, nem palavras, o imediatismo de parir, faz com que se bote pra fora das entranhas cada palavra e cada impaciência, o que também de todo não é ruim, mas gestar palavras, embalar no ventre do peito é tão gostoso; porque o parto não sai laborioso; uma vez que já foi mimado e acalentado.

Mas não se deve confundir a gestação de palavras com o "Infarto", porque às vezes pensamos estar gestando palavras, estamos gestando sentimentos, que poderiam nascer em forma de palavras, e por guardar essas palavras enfartamos, simplesmente, e entramos no inferno dos gestos abrutalhados, das palavras azedas, ou pior engolimos as nossas próprias palavras e o peito não agüenta tanta pressão, e enfartarmos inexoravelmente.

Antes que enfarta e perca de vez o chão, ou o pouco de razão que me resta, aceito placidamente a minha gravidez de palavras, embalo-as com cânticos mansos ou com marchas, dependendo de quanto elas me pesarem no peito; acaricio-as para que se sintam em mim confortáveis e num átimo de insensatez ou volúpia, vou parindo uma a uma, lambendo o gosto da placenta, para que venham limpas ao mundo, fortes e atrevidas como pede a vida que elas carregam.

Eu me descubro grávida todos os dias de uma multidão de sentimentos e emoções que nem sempre nascem em palavras...e quando me percebo enfartar; solto minhas crias no mundo, e enquanto elas passeiam eu mimo-as de longe; lembrando de como nasceram.

Embora poético, não quero morrer enfartada de palavras, quero ter sim muitas passagens pela UTI, já que a minha urgência pede socorro imediato, só assim enquanto reclusa na sala de espera da vida, eu possa me dedicar exclusivamente às minhas gestações e partos de amor puro e exagerado às palavras que se aninham dentro de mim.

Com o crescimento tecnológico o homem vai ficando cada vez mais só, porque temos ao nosso dispor maquininhas de todos os modelos e tamanhos, com tantas funções que começa a faltar tempo para o convívio com o outro. Se por um lado o grande ganho desse século é a tecnologia que facilita a vida, que garante conforto, beleza e comodidades, por outro afasta as pessoas, joga-as numa solidão desenfreada. E eis que teremos nas próximas gerações pessoas voltadas para seu próprio eu, tristemente solitárias e depressivas.

Tomara esteja eu redondamente enganada ou as pessoas vão perder a alegria de ser uma obra divina e sem igual.

A troca entre pessoas é saudável e permite que cada um cresça justamente por causa dessa troca indispensável e salutar.

Os sentimentos é que não mudam, temos hoje, como terão amanhã nossos sucessores os mesmos que experimentaram nossos antecessores, o que muda talvez seja a qualidade deles, penso que os sentimentos experimentados em circunstâncias mais simples têm um grau de pureza muito maior. Da mesma forma, que ficam banalizados os sentimentos quando rodeados de outras tantas paixões ou necessidades.

O que muda sempre são os comportamentos, os maneirismos ainda que acompanhados dos nossos velhos e conhecidos sentimentos e emoções. Dentro desse contexto é que é maravilhoso observar como se portam as pessoas, ou como me porto eu mesma diante dessa mudança tão fantástica e rápida; desde a minha adolescência até a adolescência dos de hoje. Como é assustador o salto de comportamento que deu a geração dos meus pais para a idade adulta da minha geração; como rompemos fronteiras, como fizemos concessões e como nos distanciamos dos nossos pais em tão pouco tempo. 

Apesar do ganho de liberdade que conquistamos com tanta luta, criticamos hoje o excesso dela; escancaramos tanto a porta que já não encontramos freios para tanta abertura.

O passar do tempo não mudou, no entanto, a essência do homem que depois de tantos séculos continua reagindo de forma muito semelhante. 

O que mudou então se não foram os sentimentos as emoções e se continuamos a reagir a eles de forma similar? Mudou a maneira como nos encaramos a nós mesmos assim como mudamos também a forma de encarar o outro.

Os valores com o passar do tempo foram se transformando; com isso as pessoas foram deixando de dar importância ao que por muito tempo regulou os comportamentos; ou seja, as regras. A conseqüência mais desastrosa dessa mudança de valores é que, diminuiu a distância entre as pessoas na mesma proporção que o respeito.

É impossível falar da mudança de valores sem citar a falta de ética que se espalhou por todos os setores da vida moderna. Dizia-se antigamente que um fio de bigode valia pela palavra de um homem, hoje nem assinatura registrada em cartório mais vale.

Anjo e Demônio

Trago dentro do corpo uma prece e um pecado...uma prece que me guia e um pecado que me consome...

Trago dentro de mim um templo e um altar... um para o recolhimento outro para encantamento...enquanto num chora o anjo no outro arde a chama da carne...

Sou o avesso da orgia e uma porta para a utopia...em mim tudo habita...no prazer de cada gesto ou na loucura de cada movimento brusco...na mão pousada em repouso, pela delicadeza de um momento ou na dança dos corpos em muitos movimentos...entre um átomo e o universo o início e o fim de cada ato...

No fio tênue que balança num riso hilário, passeia minha pele e minha sensatez, uma porque é acesa e a outra que me mantém no fio do equilíbrio...uma que sustenta a linearidade e outra que desliza no fio da navalha, têmpera de igual textura, afiada na mesma forja.

Trago dentro de mim uma anjo e um demônio...um que me segura e outro que me empurra...um que me mima e outro que me alucina...

Tenho dentro das minhas entranhas fel e mel, fogo e água, nem sempre na mesma proporção, mas sempre em profusão...nunca uma mistura, na essência que me segura, cada manifestação é pura.

Sanidade ou loucura nem pouca nem muita, doses exatas para o bom rendimento...diante da veia torta que explode ou diante da santidade que me agita...E só uma que em mim grita...a minha alma aflita....que nunca sabe onde se prostra, onde se encosta, se na polaridade da minha vontade ou na liberdade que o vento mostra...

Trago dentro de mim a vida e a morte...em doses não muito precisas...Num talho da vida o amor jorra...e num jorro sem norte, a ceifa colhe a sorte...

Os consultórios dos psiquiatras estão cada vez mais disputados pelas psicoses dos tempos modernos, pela diminuição de preconceito contra os psiquiatras e muito pela perda de pudor das pessoas tratarem seus “diferentes”, e sua própria diferença comportamental. É evidente que não só apareceram agora os esquizofrênicos, os autistas, os maníacos depressivos e os portadores de T.O.C. entre outros, infelizmente a medicina não dispunha desse jorro de informações e tecnologias que se tem hoje para lidar com esses padrões diferenciados de comportamento ( nossos diferentes, ou antes; especiais), nem tantos haviam saído da obscuridade como agora. A partir do crescimento da mídia escrita e falada, da necessidade de produzir notícias e da vigília constante dessa mesma imprensa, nada mais passa despercebido.

É difícil não pensar na diversidade de problemas mentais, mas é mais difícil ainda pensar que os que não estão nessa categoria, e são classificados, se assim se pode dizer, como emocionalmente descompensados, e os de comportamentos perigosos, nefastos ou aflitivos, refletem afora isso um reflexo dos novos tempos.

Nem os pacientes notadamente comprometidos psiquiatricamente para o convívio social têm um atendimento adequado, que dizer então dos que podem e devem conviver socialmente, dos produtivos em tempo onde as pessoas se devoram, consomem e se descartam com tanta facilidade.

Apesar do conhecimento de todas as psicoses inclusive das modernas e apesar de toda a movimentação dos consultórios psiquiátricos estamos longe de conseguir dar um suporte adequado tanto para pacientes como familiares.

Loucura

Quem pode dizer onde termina a razão e começa a loucura. Até onde vai a sanidade de cada pessoa? Será que existe mesmo sanidade ou a loucura nossa de cada dia tem lampejos de lucidez entremeada por um excesso de cuidados.

Quem dirá ser prova concreta da razão em estado de tensão absoluta, atado aos desmandos da cruel domesticação da vontade, ou circunscrito num lúdico jogo de pedras marcadas.

Quem se arvora bater no peito e proclamar senhor dos seus atos, consciente dos reflexos, estando ladeado de risos e grunhidos torturadores e incessantes quando nem se pode fugir do palco da tragicomédia?

Quem pode na platéia esconder o riso ou as lágrimas? Demonstrar mansidão comedida enquanto o espetáculo da vida é tecido e regido pelos fios tênues da suas próprias mãos.

Até quando se pode manter contido num frasco frágil tantos dilemas e perguntas sem respostas, sem que o estopim se acenda pela própria ação do calor inflamado pela pressão interior?

Não existem delitos advindos da loucura que grassa no grande circo dos horrores. Nem tampouco sanidade suficiente para segurar ao pé da razão os marionetes do grande espetáculo.

Fia-se todos os dias a paciência como num mosaico de peças miúdas colhidas uma a uma, com a única finalidade de demonstrar uma aparente sanidade.

E ao final, quem pode assegurar que a vida não passa de uma grande e vil mentira?

Onde a loucura transvestida de razão passeia pelo palco em busca de aplausos, e a sanidade; esta se diverte loucamente nos botecos enchendo a cara.

Por mais que eu observe e por mais que eu procure explicações há coisas que não ficam muito claras; se os sentimentos não mudaram, as emoções também não, por que as pessoas se descartam com tanta facilidade? Talvez seja porque a busca interior de cada um ficou mais exigente, ou será porque as pessoas perderam o mistério? Só isso pode explicar, a meu ver, porque os relacionamentos se descortinam tão facilmente, já desde o primeiro encontro, aí outra pergunta me assalta: Por que devorar-se um ao outro tão sem reservas desde o começo?

É como se as pessoas tivessem uma sede urgente, por isso a pressa de consumar tudo tão rapidamente e sem que elas se dêem conta uma enorme insatisfação que nelas se instala; é o início de um círculo vicioso. O que percebo aqui, é que as pessoas no afã de se satisfazerem tornam-se cada vez mais egoístas, mais e mais voltadas para a sua satisfação que parece nunca saciar, consequentemente vão ficando mais frustradas.

Sobre os relacionamentos modernos

Em meio às tintas de tantas palavras e carinhos sempre uma dúvida me assalta; somos cada um, um universo, e dentro desse espaço que nos acolhe , vivemos soltos sem rastros, sem laços e sem fronteiras, como saber se dentro dessas linhas a sinceridade é pintada com cores fixas...

Já não há segredos tão bem guardados, mas ainda há a perplexidade de se saber que em cada esquina uma nova emoção te colhe e para cada sorriso enviado um novo desejo nasce porque os afetos nem sempre se fecham dentro de uns poucos braços...

Fica a sensação de que não se conhece mais a distância, nem física nem emocional, quando se trata de emoções e de ligações, e quem há de dizer que não existe lealdade estampada nesses semblantes que parecem tão serenos tão vivamente próximos e reais.

Quanto mais o tempo escoa, e mais as relações se estendem como braços em todas as direções, mais se vê a face de cada um. E quanto mais se revela a intimidade, mais se maquia a realidade, fica-se exposto como fruta pronta para ser consumida. Vira-se platéia nesse palco de tantas alegorias e representações onde cada um recolhe seu quinhão de alegria e guarda sua cota de choro, pelas frustrações que entram pelos olhos adentro sem pedir licença, sem ao menos se preocupar se o outro resiste.

Cruéis são os tempos de liberdade exacerbada, de experimentos e novidades onde se paga caro demais para se ter braços abertos e relações estreitas, quando os valores de cada um são diferentes, quando há uma deturpação de conceitos e uma revolução nos sentimentos e nas ligações.

Seria o paraíso, se não houvesse más intenções, mas humanos são os homens e sujeitos a todos os tipos de tentações; frágil na sua estrutura perde-se irremediavelmente sem saber como se comportar num mundo onde tudo está a mostra e pronto para ser consumido, rapidamente.

Escolhas: são elas que nortearão os nossos sentidos, mas antes de optar, há que se conhecer as próprias defesas e monitorar as ações, para que o abismo não seja o ponto final de cada um de nós.

Angélica Teresa Faiz Almstadter
Enviado por Angélica Teresa Faiz Almstadter em 17/04/2019
Código do texto: T6625957
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