Carta para uma garota jovem de amor

Tudo começou muito longe daqui, há dois séculos atrás, mas foi no século passado que Rosa Luxemburgo realmente viveu seus melhores e piores dias. Em apenas cinco linhas as coisas humanas escritas por ela exigiram de mim estar aqui para escrever esta carta de amor. Tomando banho à luz de velas, a água quente estonteante era amena perto do que carregava em meu âmago completamente desassossegado. Por causa daquela conversa antiga de que a vida é tão morna, mas tão morna que é necessário cachaça, sexo, loucuras, qualquer paraíso artificial em nome do descanso e do desejo. Nem o choro, nem o grito, nem mesmo a nudez mais amedrontadora poderia expressar o que existe numa garota quando a vida lhe apresenta o pior dos desafios. A faca de dentro, nascida da saudade ou da impotência, madura de morte ou infantilmente ingênua, seja o sorriso perdido na janela de um carro ou o horizonte desconhecido de um futuro imaginário. Uma garota habita o tempo e o tempo nos habita perpetuamente sem dizer nenhuma palavra, sem ao menos expressar suas intenções, sem ao menos ouvir os lamentos e os anseios jovens ou maduros. O tempo é uma escada invisível e as vezes sem degrau. No ceú, um risco de lua e névoa. Se alguma tristeza existe, e é claro que existe, fortemente em certos momentos, à noite, a aparência do medo estende e estar sozinha é ainda um remédio muito mais amargo, assim, o amor se assemelha a solidão, o estar sozinha se confunde com o estar sozinha para sempre, para sempre é uma expressão da juventude, seja negando o eterno, seja desejando a felicidade. A vida é para sempre fim. Isto não basta, não concorre com o que ela sente, nem com que pensa, muito menos com que se deseja, a garota não sabe, não sabemos também, não sabemos o que é o amor, duvidamos do amor para amar de novo, amar o amor é quase amar alguém, quase mas não é o amor por alguém. Quando se ama alguém, passado a fase de ser engolido por este alguém, o amor realmente aparece ou não, normalmente não, o que se descobre é que ninguém é digno de ser amado ou que todos são passíveis de ser amado, pelo menos em parte, em uma parte inteira, em parte metade, em parte nunca é inteira. Frustração ou amor, garota ou solidão, solidão todos temos, sempre existe uma garota que nos habita, que laceia nossas vontades, que faz emergir os mais poderosos desejos. Rosa Luxemburgo foi uma garota, tornou-se uma mulher, depois uma personagem da história na qual me coloca a simples questão que amar alguém é antes de mais nada ser alguém digno de amor.

Toya Libânio
Enviado por Toya Libânio em 01/05/2019
Código do texto: T6636392
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