Homossexualidade e exílio

A homossexualidade não existe, quer dizer, existe como para servir de contraponto à hegemonia dos valores heterossexuais. É uma invenção política, portanto. A política é a atividade pela qual se define a ordem da associação humana. Nesse sentido, ser homossexual é estar numa relação de dentro e fora da comunidade humana, em exílio permanente, ser um desterrado em sua própria cultura.

Quando alguém identifica um outro alguém como homossexual, é para marcá-lo como diferente, dispensando-lhe tratamento desumanizador. Acusar alguém de homossexualidade é se sentir autorizado a usar xingamentos, injúrias, insultos e ofensas sem a preocupação de constrangimento público. O riso ou o deboche se fundam na certeza da ausência do constrangimento, no pacto narcísico entre os pares heterossexuais, em suas cumplicidades tácitas.

A perseguição física e simbólica a que muitos homossexuais estão submetidos justifica a distribuição de poder desigual na cosmo-política. Tal perseguição tende a criar estados de ansiedade e de depressão que, como mecanismos psíquicos, funcionam para que as relações assimétricas de poder operem de forma automática.

A humilhação pública segue sendo uma das estratégias mais utilizadas pela violência normalizadora e negadora da diversidade humana. Não causa surpresa saber que o número de suicídios entre homossexuais é proporcionalmente maior do que entre a população heterossexual, já que a ameaça de despersonalização é uma constante na vida de gays. Ela contribui para engendrar sujeitos que devem se manter em estado constante de alerta diante da iminência da violência ou do pior.

Muitas famílias expulsam seus filhos de casa ao saber da homossexualidade, contribuindo para o sentimento de exílio. A escola como segunda experiência de desterro exclui aqueles que não se enquadram ou que apresentam ligeiro desvio dos códigos hegemônicos de masculinidade e feminilidade. O mercado de trabalho, por seu turno, segrega para que os corpos se adequem à moralidade da época com vistas à acumulação do capital. As instituições sociais – família, escola e trabalho – cumprem, portanto, uma função disciplinadora e desenraizadora.

Perseguição. Exclusão. Humilhação. Violência. Ameaça. Tudo isso descreve o campo existencial de possibilidade das homossexualidades. O exílio simbólico força os homossexuais a experienciarem suas vidas, seus corpos e suas subjetividades como algo que não é propriamente seu. O sentimento de deslocamento mesclado de medo parece ser um fato inescapável em culturas marcadas pela hegemonia dos valores heterossexuais.