Considerações sobre a Beleza

continuação de “Considerações sobre a Estética”

IV

18/07/18

Delimitados os componentes da Estética geral, falemos agora da Estética Subjetiva. Sabemos que o Belo é um julgamento do Sujeito, pois a Forma essencial do Objeto não compreende a Beleza, compreende tão somente a sua completude física e metafísica objetiva. A beleza se encontra então na Imagem do Objeto, na forma como compreendemos o Objeto, sendo assim, a beleza é um subjectivismo do Sujeito para com o Objeto. A beleza, como também sabemos tem sua “essência” fundamentada na sociedade. Algo que é belo aqui pode não ser belo, ou tão belo em outros lugares ou em outros tempos, como pode também ser belo dependendo tão somente da construção do belo nas outras sociedades. E quando dois construtos sociais em relação à beleza de algo são semelhantes há aí a beleza comum. E como Sujeitos somos também Objetos, e à luz de outros Sujeitos, o belo estará também em nossa Imagem, e verão beleza em nossa Imagem mediante os construtos sociais de beleza, ou “padrões sociais” e o prazer que nossa imagem proporciona(como já apontado num ensaio antigo “A Metafísica do Belo”), se não atendermos a nenhum desses dois critérios básicos da Beleza Sujeito-Sujeito não seremos belos, sofreremos na mão da Metafísica do Não-Belo.

25/07/18

Podemos pois, definir a Beleza a partir de duas maneiras, e tão somente duas maneiras. Sendo elas a Beleza Sujeito-Sujeito, e a Beleza Sujeito-Objeto. Claro que não podemos definir Beleza como Estética aprioriamente falando, pois a beleza, como antes dito, está no julgamento do Sujeito, e não nas características intrínsecas do Objeto em si; dizer que o Objeto causa a partir de sí o julgamento do belo no Sujeito, isso é, dizer que o Objeto provoca a beleza, é como dizer que é a Cadeira que causa no Sujeito a vontade de sentar, e não que a vontade de sentar vem da fadiga do Sujeito…

A Beleza Sujeito-Sujeito não pode ser considerada como uma Beleza Sujeito-Objeto, pois, estéticamente Sujeitos são Objetos, mas num âmbito social não é possível julgar a beleza de uma pessoa da mesma forma que você julga a beleza de uma obra de Picasso, o sentimento de belo que você vê em uma pessoa e o sentimento de belo que você vê na obra tem uma mesma raiz(a beleza) mas ramificações diferentes.

A Beleza Sujeito-Sujeito é pois, o julgamento do belo que fazemos para com as outras pessoas, os outros Sujeitos, como visto num ensaio antigo, alguém só será belo para mim se atender ao construto social do belo(isso é, a estrutura conceitual de beleza que há em minha mente, construída pela sociedade e também por mim como Ser-em-sociedade, um construto social) e se atender à minha necessidade de prazer, pois o belo é uma forma de prazer, o belo é prazeroso. Quando eu olho para alguém, e vejo nessa pessoa Beleza, o que estou vendo é na verdade um Objeto que em teoria atende às minhas necessidades intrínsecas de ter prazer e também as exigências estéticas que minha mente construiu no decorrer do anos, essa construção se dá microscópicamente a partir dos conceitos primitivos de beleza que teve o indivíduo; seu primeiro amor(isso é, seu primeiro desejo, pois todo amor implica um desejo) seja lá qual foi, não foi seu primeiro amor devido ao conceito de beleza, pois até então, esse conceito não existia no indivíduo. Ao se ver em posse desse primeiro amor, desse desejo primordial ele se verá em prazer e aí e criará no indivíduo o primeiro parâmetro para a beleza, que se desenvolverá no decorrer de sua vida mediante outros desejos e prazeres que serão, ou não, atendidos e também pelas influências que a sociedade terá no indivíduo. Muitas vezes o desejo do indivíduo só é um desejo dele por uma influência que lhe é externa, um ADE(além-do-eu) como eu chamo.

Achamos pessoas bonitas e delimitamos a beleza porque construímos e cultivamos esse julgamento durante anos ao ponto em que ele nos é indissociável. Temos a pulsão do prazer, o desejo do prazer e o belo é uma forma de prazer, todo o procurar e delimitar da beleza é na verdade um procurar e delimitar do prazer. Estratificar, monopolizar uma beleza é diminuir as possibilidades de prazer, temos que, tudo o que é belo me causa um sentimento positivo, um interesse, que é por sua vez uma pulsão à um prazer em potencial tudo enquanto tudo o que não é belo ou não me causa interesse ou me causa um sentimento de repudiação. Se víssemos tudo(falo aqui de Objetos) como belo, viveríamos em êxtase constante, isso é, em desejo constante do prazer por meio do Objeto da Beleza, destarte uma realidade onde tudo é belo é inalcançável. De mesmo modo é inalcançável uma realidade onde nada é belo, visto a pulsão essencial do prazer.

Fazendo uma pausa no ensaio, temos que entender a necessidade de se falar da beleza em sociedade, isso é, da Beleza Sujeito-Sujeito, que ao contrário da Beleza Sujeito-Objeto implica diretamente não só num prazer em potencial mas também num desprazer em potencial, numa frustração. Visto que a Beleza é soberana entre os julgamentos, Sujeitos cujos quais a Imagem não atende à Beleza do outro Sujeito estão em um lugar de desprazer em potencial. Em sociedade, a Beleza é muitas vezes algo que traz tristeza e desprazer, que impede ou muitas vezes impossibilita o prazer visto que, por mero capricho social o indivíduo pode se achar feio, insuficientemente belo. Um objeto cuja qual a aparência é indiferenttus se entristece na ausência de algo que não existe, se entristece pelo subjectivismo de outros Objetos que se acham na capacidade do pleno julgamento do belo, os tiranos da beleza. Em sociedade ninguém deveria ter direito de dizer o que é suficientemente belo, a partir de um julgamento universal em outra pessoa. Em sociedade, a beleza é e será sempre subjetiva, e ela pode existir em harmonia para com todos os sujeitos, mas a tirania que exerce impede isso. Pretendo desenvolver melhor meus pensamentos sobre a sociologia e a tirania da beleza em ensaios posteriores.

V

28/07/18

A Beleza Sujeito-Objeto é a característica que damos ao objeto mediante a subjetividade de nossas próprias considerações, diferencia-se claramente da Beleza Sujeito-Sujeito pois é facilmente perceptível a diferença do julgamento do belo que uma pessoa tem para com uma pessoa e o julgamento do belo que uma pessoa tem para com um objeto. Em ambos há a presença do prazer em potencial, mas prazeres que partem de diferentes quereres, como visto em Dos tipos de satisfação o prazer se dá de diferentes formas, e existe para diferentes objetos do prazer, e como o prazer é belo, a beleza existe de diferentes formas para diferentes objetos da beleza. Se quero eu a satisfação material não poderia procurar ela em uma pessoa, mas poderia encontrar prazer nesta como sub-consequência do desejo de um objeto que eu conseguiria por meio dela, o que é popularmente[coloquialmente] chamado de “interesse” é na verdade um querer por meio de algo ou alguém. Pois bem, todo a beleza implica em uma escolha, visto os construtos sociais e a pulsão ao prazer há a delimitação do que me traz o prazer, ou seja, a dicotomização das coisas entre: o que é prazeroso e o que não é; E a isso dou o nome de “Escolha do prazer” pois toda escolha implica em um preferir e um preterir. Preferimos o que, em nós, é prazeroso e portanto belo, e tudo o que não objeto de prazer é a nossa preterência; não prazeroso e portanto feio, ou simplesmente indiferente.

Temos que podemos dividir as coisas, relacionadas à beleza em 3 categorias, o Belo, o Feio e o Indiferente. E é incrivelmente fácil deduzir o segmento destas; O Belo, como dito, será o objeto de nosso prazer, ou o objeto que servirá de ponte entre o Sujeito e o Prazer, visto o Diagrama do Belo, em suma, a beleza relaciona-se com o Prazer, e delimita-se socialmente visto os fatores limitantes que a sociedade impõe sobre o Sujeito. O indiferente é todo o Objeto para o qual somos indiferentes, em relação à sua beleza; somos indiferentes á beleza de um rolo de papel higiênico, por exemplo, pois não há em nós qualquer pulsão ou visão de prazer em tal Objeto. Podemos construir tal visão em nós, adestrar a nossa mente para ver Beleza em um Objeto que antes era indiferente, fazer um construto social individual; mas em nosso estado primário de Ser-em-sociedade onde os fatores sociais limitantes nos guiam o rolo de papel higiênico é, e tão somente será, um simples rolo de papel higiênico.

O feio não se dá contraposto ao prazer que há no belo, mas contrapõe-se ao que a sociedade define como o que é belo. O feio é indiferente em sí, mas a sociedade ao Escolher, prefere o belo, e em toda escolha, como visto em Ferreira dos Santos, há um preferir e um preterir, e o Objeto da preterência social do belo é o que chamamos de “Feio”. O indiferente não é feio porque está simplesmente intocado pela sociedade, os objetos que nos são indiferentes são belos em potencial e feios em potencial. A pulsão do prazer no belo, que é guiada pela sociedade implica por sua vez na repulsão do feio, do não-prazer. O feio é a antinomia, o módulo oposto do belo e do prazer, e se há uma pulsão ao belo como prazer há uma repulsão do feio enquanto não prazer, e essa repulsão ao feio gera por sua vez um desprazer mútuo quando ocorre entre o Sujeito e o Sujeito, onde há o desprazer de ver o Feio e há o desprazer de ser o Feio. E esse desprazer ocorre porque a beleza é vista muitas vezes como uma pré-exigência social, onde os Sujeitos não vêem para além do que é Estético, não vêem para a além da Imagem, se em sociedade a Imagem é tudo e essa Imagem não for socialmente bela, ou seja, feia, haverá uma repulsão, um desprazer mútuo entre o Sujeito observador e o Objeto(Sujeito) da Imagem.

VI

A Beleza subjetiva que damos ao Objeto não é únicamente o que guia nosso julgamento para com o tal, mas outros critérios podem guiar o julgamento do indivíduo em relação ao objeto, sendo eles a artisticidade e a utilidade.

Falarei da artisticidade dos Objetos em um outro ensaio, onde procurarei dissertar das minhas considerações sobre a arte, vale ressaltar que a maioria das ideias que apresento nestes ensaios são meramente embrionárias, são apenas rascunhos das ideias de minha mente, que pretendo desenvolver quando sentir que meu pensamento crítico e filosófico estiver melhor desenvolvido. Em suma, os ensaios que escrevi agora são apenas rascunhos para o desenvolvimento de uma ideia maior que pretendo produzir posteriormente, um livro muito provavelmente; mas por enquanto são apenas uma miscelânea de ideias jogadas em papéis e anotações.

Percebe-se que acontece de os indivíduos afeiçoarem-se a determinados objetos claro que uma grande carga da subjetividade de seus sentimentos guia essa afeição para com o objeto, mas não é somente a subjetividade que guia essa afeição. Outros critérios podem estar presentes no processo de afeição ou beleza ou qualquer outra característica subjetiva que pode ter o Objeto. A utilidade que tem o objeto é um dos guias da afeição, ou da beleza que pode ter esse objeto, e muitas vezes a beleza aliada à utilidade deste. Este notebook no qual escrevo tem diversas utilidades em sua completude, com ele posso escutar músicas, responder mensagens e digitar esse ensaio de uma única vez, e ainda acessar diversas outras de suas utilidades se me for conveniente, aliado à carga subjetiva de beleza que dou ao computador e ao meu psiquismo, à estrutura da minha mente enquanto Ser-em-sociedade cria-se pois uma afeição minha como Sujeito ao Objeto computador mediante a utilidade que tem esse objeto.

A utilidade e a afeição ou beleza por meio da utilidade podem estar relacionadas à dependência(muitas vezes virtual) do indivíduo para com o Objeto. Isso é, tal Objeto realiza e assiste à várias funções que são de minha necessidade na cotidianeidade do meu dia-a-dia; tal Objeto realiza tantas funções que, sem ele, a estrutura que tem o meu dia-a-dia mudaria completamente, logo, dependo de tal Objeto e de suas funções para meu bem-estar. Isso ocorre geralmente com objetos multi-funções como celulares e aparelhos Smart em geral, claro que a utilidade que tem o Objeto não é a completude da dependência que possa ter o Sujeito para com estes Objetos, a beleza como fonte do prazer é também importante, e é aí onde há o que chamo de Design que em minha filosofia atua como a coloquialidade da palavra mas também atua como parte desse sistema filosófico que aos poucos desenvolvo. O Design alia a dependência das utilidades do Objeto à uma beleza pré-estabelecida por ADEs e construtos sociais, isso é, alia a utilidade à beleza(muitas vezes por via da publicidade) e cria, em nossa mente, uma extra-dependência e uma satisfação material do indivíduo para com o Objeto, isso é, o Design tem a função de ligar o Objeto e a completude de suas funções à beleza e criar o prazer do Ter.

Pretendo desenvolver os conceitos de Arte e de Design em ensaios posteriores, portanto encerro este por aqui.