Sobre a Alma - I

Hoje ela se envolve de Maria Rita.

Acordou estranha, não sabendo sentir o que sentia até antes do sono chegar.

"É uma pena, mas você não vale a pena". E ela tem uma vã certeza que esse você é ninguém além de propriamente ela.

Mirando relógios, espelhos, tudo lhe entorpece de um tédio morno que vai corroendo a alma.

Por que acordou assim ? Por que é tão inconstante, fria, relapsa nos momentos em que deveria e desejava ser inteira e intensa ?

Já deixou - embora não sem dor - tanta coisa pra trás ... tanta gente. Mas dessa vez ela queria ficar, queria conservar esse sentimento. Não deixar escorrer pelos dedos.

"Pagar pra ver o invisível e depois enxergar" - Mas estás tão cega.

Quando queria somente ser doce.

Quando queria apenas ser menina, ser Alice, ser Maria (por que raios não deixou migalhas de pão pra marcar o caminho de volta ????).

Ela se acha, depois se perde mirando os ponteiros, tudo é tão rápido, tão rápido como a fumaça solta do cigarro no cinzeiro.

Hoje ela também queria se desfazer no ar.

Sabe que hoje vai se perder em devaneios insanos, dos quais não mais distingue os gostos.

Mas ela também sabe que volta... Volta sempre... Pra sempre...

Kari Capraro
Enviado por Kari Capraro em 05/11/2005
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