Pertenço a porra do mundo real

Um sentimento. Senti mais e senti menos nesse tempo que se passou. Mas senti, ele vem, ele vai. Às vezes vem acompanhado de um breve rio de lágrimas, e outras de uma raiva quase descomunal de tudo e de todos.

Que sentimento é esse? Saudade. O sentimento do miss you. Os dias tem se passado e parece que eu estou parado, parado em sentimentos que mudam de rosto, de cor, mudam a sensação que os acompanha. Mas essencialmente é o mesmo: saudade.

Acho que a primeira vez que experimentei a saudade de fato foi quando perdi minha mãe. Aquela coisa toda de lidar com o luto e depois a fase da aceitação que alguém tão marcante (note que usei a palavra “marcante e não “importante”) saiu da sua vida definitivamente.

Depois, em meados de 2017, quando eu ainda me via de uma forma completamente diferente de como me vejo hoje. Eu era um carinha de vinte e dois anos, cursando seu terceiro ano de uma faculdade mal feita, mas na qual eu ainda insistia por achar que no final me levaria a lugares, não levou. Falarei dela em um texto posterior. Então, em 2017 eu me envolvi com essa moça, Claudia (nome fictício) e nos tornamos próximos muito rápido. Ela se mostrava uma pessoa presente e bem preocupada com o que dizia respeito a mim e as minhas coisas, isso era bom, fazia eu me sentir querido.

Mas eu, agora falarei de mim, não se o problema foi ela ou se de fato o problema sou eu ou ambas as duas porcarias, só sei que a relação se degradou muito rápido. Como já dizia Buarque “Foi tudo ilusão passageira que a brisa primeira levou.” Levou, levou sim. Mas deixou pra trás algumas coisas muito legais.

Primeiro a sensação enorme de vazio que se estendeu por algumas semanas. Tudo acabou em agosto de 2017 (Começou em março). De agosto em diante foi só declínio. Se eu fosse escrever um conto sobre esse meu romance breve e intenso, talvez ainda o faça, o chamaria de “Ascensão e queda de um ninguém. “ Enfim, tive uma grave depressão que, pela falta de grana pra pagar um terapeuta e pelo fato de a minha família não levar essa coisa toda de problema mental muito a sério, eu tratei como qualquer jovem idiota trataria, na base de bebida e algumas drogas. Sempre tive um certo apoio de alguns dos meus irmãos e de uns poucos amigos da faculdade, é claro. Mas eu, querendo ou não, me enfiei num buraco bem fundinho viu. Além de ter sobrado também um ácido vício em cigarros que me persegue ate o momento em que escrevo esse texto.

Na virada do ano de 2017 para 2018 foi quando eu decidi desabafar de vez meu coração. Comprei duas garrafas de vinho barato, me fechei em meu quarto e fiquei a beber, bebia, chorava um pouco, ouvia minhas músicas favoritas. Estava agindo como quem estivesse se preparando para o fim dos tempos. E com a bebedeira e os vômitos subseqüentes que a acompanharam, eu realmente achei que fosse mesmo o fim dos tempos. Mas não, era só a porra da saudade e um cara lidando com isso de uma maneira bem idiota. O resultado foi uma ressaca sem precedentes e eu ajoelhado ao lado da minha cama as oito horas da manhã limpando o gosma roxa com cheiro de vinho que lavou o chão durante a madrugada.

Ela passou. Ainda penso nela de vez em quando, mas agora virou apenas um borrão. Ainda lido com a minha depressão e a minha ansiedade, que agora são resultado da minha falta de emprego, do fato de eu morar de favor na casa da minha irmã e me sentir um mero parasita inútil e do medo que eu tenho tido dos rumos que vou tomar a partir daqui.

E a saudade? O que tem a ver com isso? Não tenho saudades da minha mãe, nem da Claudia, nem dos amigos da faculdade e nem de alguns membros da minha família que não vejo há tempos e nem quero. Esse texto não é sobre a saudades qe eu sinto, é sobre algo que eu já não sinto mais tanto quanto sentia antes. Agora minha saudade se concentra em um tempo em que eu achava que eu era feliz. Pois se era tudo uma ilusão, sei que mesmo sendo, eu gostava dela. Pois pra mim o mundo real nunca foi tão chato e tão mórbido. Mas como já disse um autor que li faz muito tempo e não me lembro o nome, “A mais dura das realidades ainda assim é melhor que a mais doce das ilusões.”E é por isso que eu estou aqui, de olhos abertos, escrevendo essa merda. Porque é a esse mundo que eu pertenço, pertenço a porra do mundo real.