Sobre o outro em nós

Há alguns anos venho pensando sobre as frustrações e desilusões que a relação com o outro traz, esse outro que tem um inconsciente que é estranho a mim e às vezes a ele mesmo. Com tempo aprendi que somos apenas responsáveis por nós mesmo. Percebi também minha necessidade de controlar tudo para ficar bem. Aprendi também que muitas vezes não conseguimos controlar nem a nós mesmos e desistir de controlar os outros. Mas como essa é uma tarefa difícil, separar o que é meu do que é do outro. Saber o que lhe cabe, e o que cabe ao outro. Isso chama-se respeito, e para respeitar o outro é preciso maturidade e serenidade para entender que o que se passa na cabeça do outro nada tem a ver com minhas verdades. O que temos de aprender é respeitar a nós mesma e manter nossa integridade, só nós sabemos da nossa dor, só nós a sentimos na nossas vísceras e coração, e se não há empatia da parte do outro, cabe a nós saber se vale a pena um companhia que não se importa com nossa dor. Assim muitos amigos e amores ficam pelos caminhos de nossas histórias. Nos identificamos com pessoas que aparentemente pensam como nós. Fica mais fácil a convivência com valores comum. Entretanto cada um só lê o mundo e as relações a partir da sua história e experiências. Ninguém nunca saberá de suas necessidades mais íntimas, ninguém é responsável por elas além de você. Algo que você acha inadmissível o outro nem percebe. Assim ao longo da vida vamos aprendendo a conviver e a escolher as pessoas que ficarão ao nosso lado, as que de fato valem a pena. Esse processo é doloroso, porque temos que deixar pelo caminho pessoas que amamos mas que percebemos que não se importam de verdade conosco. Pessoas inconsequentes com sentimentos dos outros, pessoas egoístas, pessoas duras e vingativas, pessoas incapazes de pedir desculpas quando sabem que o que fizeram foi errado. A convivência com algumas pessoas pesam, dão trabalho. E você pode escolher. Existem pessoas leves e doces. Com tempo você larga o peso pelo caminho e segue sua tragetória resignificando sua vida e escolhas. Essa maturidade se chama valor, valor próprio, a virtude de se colocar em primeiro lugar e a capacidade de aceitar que o outro tem o direito de ser como é, mas você não tem a obrigação de conviver com quem muitas vezes nem percebe a dor que causa ao outro. Aprendi que empatia é condição essencial para criação de laços afetivos, e isso me fez crescer, mudar e amadurecer. E superar a ideia de que nós mulheres temos de suportar tudo, tentar sempre reatar laços e ser boazinhas. Não precisamos ser más, mas sim firmes e decididas na escolha de caminhos que de fato façam bem a nossa alma.

Ane Barros