Perfect Blue - Estação

Gustavo estava na ponta da estação, parte essa que era descoberta pela chuva.

Ele estava sosinho e sentado no chão enquanto a chuva o enxarcava.

Muitas pessoas viam a cena daquele rapaz com expressão séria ignorando a águaceira.

Uma menina com um guarda-chuva foi se aproximando dele.

Era Alessandra que coincidentemente estava lá naquele dia,

já se faziam três meses desde que os dois não se viam.

Gustavo pôde notar sua presença com certa velocidade

e hesitando quase virou seu rosto na direção dela, porém voltando seus olhos, continuou firme olhando para frente.

Quando ela o alcança, divide seu guarda-chuva com ele e diz:

- Suas roupas estão molhadas, vamos voltar para o seco...

Ele sem demonstrar reação quanto ao ato,

apenas diz:

- Eu já perdi tudo, por favor não me tire também essa chuva.

Ela fica com um nó na garganta, não consegue fazer nada por quem ela ama e nem por si mesma

há tantas coisas que ela gostaria de o dizer porém o silêncio já era escandaloso demais.

Ela olha para baixo pensando em algo, porém nada lhe vem a mente e ela percebe que o próprio silêncio é a melhor resposta para aquela situação.

Ela então fecha seu guarda-chuva e lentamente as gotas de água vão lhe atingindo.

Alessandra se encosta na mesma parede que Gustavo e lentamente vai também sentando no chão, da mesma forma que ele.

Suas calças e sapatos começam a se enxarcar mas ela ignora e pretende ficar lá tanto tempo quanto seu amado.

A chuva continua a cair e a molhar seus corpos,

As gotas que desciam pelo rosto de Gustavo se misturavam a timidas lágrimas.

Alessandra está olhando para baixo como sinal de aceitação e culpa.

Não se sente digna de dividir a dor dele consigo própria.

Ela baixinho diz:

- O que você vai fazer agora então?

Gustavo prontamente responde em um tom de voz mais altivo:

- Estou esperando que essa chuva lave minha alma, será que ela pode?

Alessandra respeita o momento daquela resposta e dado a oportunidade ela puxa ainda mais assunto:

- Eu sei que não mereço seu perdão, mas por favor me escute.

Eu não entendo bem o que amor ou amizade significam,

na verdade eu n sei se já tive algum amigo verdadeiro, ou seu eu sequer já amei de verdade.

Foi a primeira vez que me vi rodeada de tanta gente boa e acabei me esquecendo de alguém importante.

Eu cometi um grande erro quando me esqueci de você, por favor leve em conta minhas desculpas.

Eu estou me sentindo uma idiota por ter feito isso e eu não consigo nunca fazer nada para te ajudar...

Por favor me deixe fazer algo por você, igual você já fez por mim...

Eu não me importo se eu vou ficar gripada, mas eu vou ficar aqui com você. Mesmo que apenas como companhia.

Se eu não sou capaz de compartilhar sua dor, então isso significa que eu não mereço ser sua amiga.

Gustavo a olha e sorri:

- Eu não estou bravo com você, não precisa me pedir desculpas. Se você é minha amiga eu também devo te entender.

Eu também fiz coisas erradas, não mereço suas desculpas para ser sincero.

Eu fiquei com inveja da atenção que você estava recebendo e eu peço mil desculpas por ter sido tão egoísta,

eu não fiz isso de propósito. Eu gosto de você e nada vai mudar minha admiração que tenho por você...

Mas eu sinto como se você fosse muita areia pro meu caminhãozinho.

Tipo, você é demais. É mais bonita e mais inteligente do que eu.

E eu me sinto tão desqualificado perto de você que acabo não controlando meus sentimentos.

Eu quem não mereço sua amizade, você é pura de coração e alma. Eu sou só um verme sem futuro...

Depois dessas palavras, Gus pega o guarda chuva e se levanta.

- Vamos voltar para o seco, eu me enjoei de ficar aqui me molhando.

Ela dá a mão a ele e se apoia para levantar. Calada pela última frase não conseguiu esboçar resposta.

Era algo fora do normal, de modo que ela ainda processava o que acabou de ouvir...