Chá da Cesta -6: História Natural do Chá

História Natural do Chá

Porém, uma advertência aos leitores, antes de avançarmos, vou recuar aos primórdios do chá porque acredito que ‘Quanto mais para trás se olha, mais para a frente se consegue ver.’ (Winston Churchill)

Proponho-vos uma viagem. Antes do embarque, é necessário chegarmos ao nome do passageiro. Que nome? Desde que foi atribuído um nome à planta, ela tem sido conhecida por diversos nomes, tanto comuns como científicos. Tomando como tese de que nem todos derivam do Chinês (Cantonês, Mandarim, etc.), comecemos pelos comuns. Pode ser te ou chá, como se nomeia em Portugal, designação adoptada da forma fonética do dialecto Mandarim.

O carácter chinês para chá é 茶, mas tem duas formas completamente distintas de se pronunciar. Uma é “te” que vem da palavra malaia para a bebida, usada pelo Dialecto Minque que se encontra em Amoy. Outra é usada em cantonês e mandarim, que soa como cha e significa “apanhar, colher”.

João Teles e Cunha, em trabalho de 2005, explica-nos os caminhos e os agentes da propagação dos termos “te” e “chá.” “cha,” diz ele, foi a palavra mãe, difundida por via terrestre, entrando nas línguas russa, árabe, persa turca, grega e eslavas; o vocábulo “te”, por seu lado, vem do dialecto hokkien de Amoy, no Fuquiém (Fujian) e terá sido divulgada pela sua população, por via marítima pelo sueste asiático, de onde os holandeses a irradiaram para o resto do mundo, o que explica a predominância do vocábulo derivado deste (tea, té, thé, thee) nos léxicos da Europa ocidental e América; a excepção a este processo de difusão é Portugal, o que se explica, segundo Teles e Cunha, pelo facto de os portugueses terem recebido o vocábulo da zona de influência de “cha”, na China meridional e no Japão.

O nome científico admitido, no presente, segundo a estudiosa da flora ultramarina portuguesa Maria Cândida Liberato, alicerça-se no avanço dos estudos da genética molecular. Sendo revistos periodicamente (o mais recente data de 2009), declara-se que o “chazeiro, planta-do-chá ou chá é o nome vulgar atribuído às plantas que cientificamente pertencem à espécie Camellia sinensis (L.) Kuntze,” acrescentando-se que a espécie pertence à família botânica Theaceae e, dentro desta, ao género Camellia, sendo que o Grupo de Filogenia das Angiospermas inclui a família na ordem “Ericales.” Distinguem-se ainda duas variedades de plantas cujas folhas são usadas na preparação do chá para infusão, que são a “Camellia sinensis (L.) Kuntze var. sinensis” e a “Camellia sinensis var. assamica (J.W. Mast) Kitam.” Considerando somente algumas características externas, pode fazer-se a seguinte distinção: a primeira apresenta o limbo das folhas com 5 a 8 cm de comprimento e 2 a 3 cm de largura, com o ápice abruptamente agudo e extremidade obtusa, sendo a página inferior glabra a esparsamente pubescente apenas quando muito nova; a segunda tem o limbo das folhas com 8 a 14 cm de comprimento e 3,5 a 7,5 cm de largura, de ápice acuminado, com a página inferior a apresentar um indumento viloso ao longo da nervura principal.

Quanto à sua identificação, ao acompanhar o processo de conhecimento científico, o chá adquiriu e afastou diversos nomes e classificações. Desde logo, refira-se que a designação “camélia” deriva do nome do missionário jesuíta Georg Joseph Kamel. Em 1753, Lineu, elaborando um sistema sexual de classificação hierárquica, usou a descrição de Kaempfer e atribuiu-lhe o nome latinizado que este usou para a planta – Thea sinensis. Em 1762, o mesmo Lineu, sabendo da existência dos chás verde e preto e julgando-os provenientes de plantas diversas, identificou-as como Thea viridis (chá verde) e Thea bohea (chá preto). Foi já no séc. XIX que os europeus descobriram tratar-se de chás provenientes da mesma planta, através do escocês Robert Fortune. Em 1905, o Código Internacional de Nomenclatura Botânica admitiu que, onde quer que crescessem, o nome correcto das plantas de chá seria Camellia sinensis (L.) O. Kuntze. `

Mário Moura

Doutor em História do Atlântico

Universidade dos Açores

Lugar Areias, Rabo de Peixe, Setembro de 2019

Mário Moura
Enviado por Mário Moura em 02/02/2020
Reeditado em 02/02/2020
Código do texto: T6856652
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