VIVENDO NUMA CONCHA QUE ME CONDENA

VIVENDO NUMA CONCHA QUE ME CONDENA

Percebo que a grande maioria dos seres humanos vivem como se ainda estivéssemos no limiar da história, em que os conhecimentos buscados e alcançados padecem de amplitude, de contextualização e realismo, na medida que nossa concha neural só acomoda o que visualizamos, seja com os olhos ou com o ideário formado pelo parco cabedal que desfrutamos e pela ação do que cremos, mas que está sujeito às influências dos espertalhões que nos cercam e seduzem.

E os tempos contemporâneos se insurgem contra esse sedentarismo cerebral, que se acomodou no secularismo social, o qual não faz questão de enxergar a tecnologia a nos influenciar os costumes e os tabus, bem como a facilidade de acessar a tudo e a todos, onde nada propicia a atitude discreta e a privacidade pretendida por uns, mas que busca publicizar o que possa ser íntimo de outrem.

Tivemos um grande ciclo social primordial, em que o mundo só existia na medida em que nossa vista alcançasse, nos levando a crer numa terra plana, no geocentrismo ou até no heliocentrismo.

Mas, finalmente chegamos no limiar do alcance virtual, do que alçamos em nosso prescrutar inefavelmente curioso, rompendo a barreira do palpável, para adentrarmos nos sonhos e nos delírios do acesso a tudo que nos está disponível ou permitido, em que vivenciamos ainda o cerceamento ocasional, ou seletivo, de acesso aos bens de consumo materiais ou fruto do conhecimento e da cultura transmitidos.

Sem um querer consciente, talvez, vivemos criando castas sociais que não se coadunam com a necessidade intrínseca de ampliação do consumo e de universalização do acesso aos avanços da medicina, da astronomia, da gastronomia, da robótica, da indústria, da agricultura, dos serviços e demais ramos do conhecimento científico, que proporcionam uma sensação de segurança e bem estar adequados aos novos tempos.

Estamos a viver novamente como trogloditas, visto que parece estarmos a tentar maximar nosso transmitir genético, como a impor à natureza um padrão de vida, que contraria a multiplicidade necessária à perpetuação de uma espécie, contrastando com a miscigenação crescente que a globalização impõe a todos os clãs e etnias, extinguindo línguas e dialetos (quando uma não impregna na outra), alterando culturas e leis locais, em prol daquilo que possa ser mais abrangente.

Dizem que só os fortes sobrevivem, mas essa força não pode ser entendida como apenas física, mas sobretudo como uma proeza da nossa capacidade intelectual, cognitiva e dialética.

Só assim é que seremos fortes, pelas nossas ações impregnadas de responsabilidade social e deificadas pela busca incessante de altruísmo, no que pensamos e almejamos para o futuro da humanidade, que difere da longevidade planetária, a qual nos impõe eventuais e necessárias migrações ou mudanças no nosso 'modus vivendi' para sobrevivermos.

Só nos imbricaremos nos mistérios do Universo quando buscarmos saber mais, ampliando o uso de nossos neurônios num crescente, que rompa finalmente os decantados dez por cento, para buscarmos o conhecimento acumulado na energia das dimensões estelares do Cosmo misterioso e encantador.

Somente assim sairemos da concha de tradições que nos condena, sendo como plânctons a alimentar os oceanos e almejando a imortalidade das nossas ações ou do que transmitimos aos que ainda estão por vir, sem flertar com a morte ou com a cegueira do nosso terceiro olho, de um sexto sentido.


Publicado no Facebook em 06/06/2019