EMERSÕES QUE MALTRATAM

Nas épocas em que as chuvas se escasseiam, não caem e/ou ficam poucas acontecem as secas ou as grandes secas e uma enormidade de consequências se desencadeiam. Afinal chuva é vida não podemos viver sem elas e nem nos esquecermos disto, pois sem elas o sofrimento é muito grande.

Nas cidades ou nos aglomerados urbanos os males são muitos e os sofrimentos maltratam. As torneiras secam ou se tornam intermitente, nelas, a presença da água e o seu uso fica limitado e as rotinas se alteram sobremaneira. Daí sofrem os dirigentes e governantes, sofrem as lideranças e sofre a população. Muitos rezam, outros fazem penitências e simpatias, nestes momentos Deus é lembrado, joelhos se dobram, rosários saem das gavetas e todos padecem.

No meio rural e no campo, não é diferente e as consequências ou sofrimentos parecem ainda mais reais, são muito visíveis e as dores parecem mais intensas. As árvores perdem as folhas e ficam só os seus galhos, a beleza desaparece, a exuberância da natureza se contrai e não se mostra e tudo fica cinzento nos lugares onde antes o verde e a clorofila espargiam vida, alegria dos pássaros e reluzia a vida.

Nas secas as pastagens secam, a vegetação desaparece, a terra ressurge e a poeira a tudo encobre. Os animais domésticos - o gado bovino, bubalino, caprino e ovino, e os muares em geral- padecem, sofrem, emagrecem e ficam esqueléticos, não têm o que comer e nem o que pastar e muito menos o que beber, os pelos perdem o brilho e ficam arrepiados, a estrutura óssea se salienta, a tristeza fica visível e o clamor dos animais machuca e maltrata aos tratadores e proprietários.

As várzeas, o berço das águas, secam e até racham a terra, as nascentes morrem, os cursos d’água perdem a força e o seu vigor, se desmilinguem e se escasseiam e até secam. Os grandes lagos (represas artificiais) cujas águas tocam as usinas hidroelétricas reduzem os seus volumes e até exigem controle e manejo especial para o seu uso, baixam os seus níveis e fazem reaparecerem tantas coisas que haviam sido encobertas (pontes, currais, casas, chiqueiros, etc.) quando das suas construções e represamentos.

Os rios se entrecortam e sobram alguns filetes de água que ligam as poças e os lagos se reduzem a pequenos poços em lamas ou lamaçais e é aí que vemos surgir quantidades enormes de peixes, jacarés e outros muitos animais aquáticos se digladiando, se debatendo com força e veemência em busca de oxigênio na ânsia pela sobrevivência. Dá pena ver a cena!! A televisão mostra, os repórteres ilustram matérias, os locutores e apresentadores noticiam. O mundo daqui, dali e de acolá entra em estado de atenção, os governos decretam calamidade pública, vem o desespero. O povo sofre, a população entra em pânico e/ou ficam atordoados.

Mas em um belo dia a chuva chega de volta, as águas ressurgem, os rios voltam a correr, os lagos se enchem, as represas se recompõem, os pastos nascem e se enverdecem, as árvores rebrotam, o verde ressurge, a vegetação se revigora, os animais se alegram, enchem a barriga e engordam e os pelos ficam bonitos. Os homens e mulheres se alegram e ressurgem, os sorrisos acontecem e a vida, como um todo, renasce. Os regozijos são inúmeros e em diversas formas. Uns agradecem à Deus, outros batem palmas e todos festejam a vida, retomam a rotina do corre corre do dia a dia. Louvado seja Deus!!!

Na história da população humana, muitos outros revezes sempre aconteceram além da falta das chuvas, do escasseamento das águas com a suas decorrentes consequências. Guerras, conflitos, tragédias, calamidades de diversas formas, doenças, pestes, etc.… e nessas ocasiões são tantas as ocorrências, danos, choros, revoltas e dificuldades

A história, os registros, a memória e até marcas e/ou sequelas, nos dão conta de muito desses acontecimentos por que a humanidade passou ou passa. Para não ser prolixo, mas sem deixar de ser enfático, registramos as duas grandes guerras mundiais (1914 e 1939) que, além de causar a morte de milhões de pessoas, ocasionaram a devastação de tantas outras coisas-cidades destruídas, populações dizimadas, genocídios, riquezas usurpadas, economias descontruídas, etc., mundo afora.

Tivemos a febre negra em 1350 que devastou uma grande população da Ásia e da Europa, a gripe espanhola, muito embora ela tenha sido iniciada com um americano em um navio que navegava pelos mares da região, em 1918, que se alastrou pelo mundo e matou mais de 50.000.000 de pessoas e só no Brasil foram mais de 45.000 pessoas foram vítimas daquela doença de triste lembrança e que ainda povoa nossa memória.

Em 1929 aconteceu a quebra da Bolsa de Valores de Nova York, que, num efeito dominó, quebrou não só os Estados Unidos, mas quase todo o mundo e ocasionou uma série de consequências, inclusive ao Brasil que sofreu grandes danos à sua produção cafeeira aconteceu, em tempos mais recentes, o vazamento na usina nuclear de Chernobyl, o ataque terrorista às Torres Gêmeas, nos Estados Unidos em 2001; a explosão da bolha imobiliária americana em 2008 com consequências trágicas mundo afora e tantos outros acontecimentos localizados ali e acolá ao redor do mundo. Tudo em grandes proporções e em forma de grande monta, como foram, também, de grande monta as suas consequências.

Mas agora em 2020, ano de números gêmeos, chegou o Novo Coronavírus, um mal que chegou de mansinho na cidade de Wuhan, na China (sempre a China), mas que aos poucos mostrou a sua grandeza maléfica e a sua real capacidade de devastação. Se alastrou por aquele país, cruzou fronteiras, chegou a outros países, atravessou mares e contaminou todos os continentes, exceto a Antártica, aquele mundão de gelo no polo sul.

Começou adoecendo pessoas, evoluiu para mortes, se ampliou em número de vítimas e mortalidades e o mundo se assustou, entrou em pânico que, em virtude da comunicação virtual rápida e acelerada, mostrou dimensões fora do controle e a realidade cruel que a tudo e a todos fez se submeter.

Ao atingir fulminantemente a vida das pessoas, o nosso maior bem, atingiu, também a forma de viver de todos nós pois, na busca de proteção de cada um e de todos, o mundo se fechou e as suas atividades tiveram que ser paralisadas, numa imensa e cruel reclusão. Todos se escondendo daquele minúsculo vírus, um ínfimo ser vivo, mas de uma capacidade de destruição assustadora.

As indústrias, os comércios, os serviços e todas as atividades humanas, bem como as suas relações do dia a dia. Os negócios pararam e as economias se embaralharam. Os valores, os parâmetros e as suas interligações e desmembramentos perderam os seus nortes, os ponteiros das bússolas ficaram sem rumo, todo mundo se assustou, o medo se espalhou, as inseguranças tomaram conta e tudo se embaralhou.

A mortalidade, pela pandemia é menor que a de outras ocorridas em outras ocasiões - as duas guerras mundiais, a gripe negra, a peste bubônica, a gripe espanhola, etc.…-mas o seu alcance, a sua capacidade de matança e os estragos mostrados nos noticiários jornalísticos, fez com que a dimensão do Novo Coronavírus se mostrasse realmente maior e as suas consequências, como num efeito dominó, se mostrasse maior e fora de controle.

Os governantes não sabem como e nem o que fazer. A medicina e os seus operadores-cientistas, médicos e enfermeiros não encontram remédios, vacinas ou explicações para a sua cura ou domínio, todos estão assustados, desnorteados, batendo cabeças e sofrendo com as perdas de vidas humanas, dinheiro, valores e economias. Estudam, testam, falam e agem, mas estão todos assustados e sofrendo como que perdidos e sem rumos. Não tem nenhuma luz no final do túnel. Nunca antes um mal havia atingido tais dimensões e causado tamanho estrago. É trágico, é monumental e o buraco que ele está cavando, ainda sem fundo, vai demandar tempo, recursos, meios e sabedoria para ser reparado e com sequelas inimagináveis.

Mas, por outro lado, tal como acontece nas grandes secas que faz emergir grandes quantidades de peixes, jacarés e outros animais aquáticos dos lamaçais em busca de oxigênio, também, no meio da população e seus aglomerados urbanos, fez aparecer um grande número de empresas - industrias, comércios e serviços -desestruturadas que sobreviviam de aparências na sequências das suas movimentações e atividades, na força do vácuo do andar da carruagem de suas atividades e as pessoas invisíveis, aquelas que, muito embora estejam no meio de todos nós, que todos sabem que existe, mas ninguém vê, nota, percebe ou comunga da sua existência.

Muitas empresas sobreviviam dos impulsos do dia a dia - empréstimos bancários, dívidas, negociatas as mais diversas ou até escusas, etc...., mas que, ao paralisar com a quarentena, perderam a oxigenação básica para a sua sobrevivência e a sua sucumbência é inevitável, mesmo com tantos suprimentos destinados pelo governo.

Os moradores de rua, os famintos, os pedintes, os esmoleres, desvalidos ou párias da sociedade que são gente como todos, também filhos de Deus, iguais perante as leis e parte obscura da sociedade, mas que são invisíveis por conveniências, comodidades ou supremacias, mas que na pandemia, na reclusão social e paralisação de todas as atividades, apareceram em levas e multidão, se digladiando e lutando com unhas e dentes por sobrevivência, buscando oxigênio e comida para tanto. Como é doído ver as milhares dessas pessoas se enfileirando nas praças, nas portas de centrais de abastecimentos, restaurantes públicos e outros pontos de distribuição de pequenos favores, remédios, comidas ou outros pingos para as suas subsistências. E como é grande o seu volume!

Essas pessoas, essa camada da população ou seguimento social, no momento da quarentena ou isolamento social ficaram a descobertos e sem meios para sobreviver como os peixes e jacarés nos lamaçais dos lagos e rio, eles ficaram sem nenhum oxigênio e se meios para continuar vivendo e aí se movimentaram em busca daquelas migalhas vitais que amealham aqui, ali e acolá, num contexto de tantos desperdícios, abusos e extravagâncias, que tanto praticamos por todos os lados.

Também outros pequenos realces se fizeram presentes na vida de todos nós. Músicos distribuindo shows, artistas em diversos ramos e rumos, entidades de pouco ou nenhum brilho, ações desencontradas mas eficientes e mais um tantão de outros valores, também se emergiram, oxigenaram e espargiram alegrias, festas e comidas para tantos ou todos que vivem o mesmo e danoso drama que essa famigerada pandemia que se transformou em um infernal pandemônio.

Os estragos são imensuráveis. Os que sobreviverem vão juntar os cacos e os nacos do que sobrar. Mas há de se observar que os governos agiram, as organizações sociais se movimentaram, a sociedade se moveu e comoveu e a população, com muitas rebeldias se condoeu. Muitas foram as cestas básicas, comidas em marmitex, doações em várias formas e quantidades. Foram muitas as coisas que apareceram, de todos os cantos e de todos os lados. Em alguns lugares, por ações oficiais. Em outros, para cumprir as suas finalidades e pontuais situações ou ocasiões, por pessoas ou grupos, aproveitando as janelas e oportunidades, mas querendo simplesmente aparecer ou se mostrar o que não são, não fazem ou que nem sabe ou conhece.

Minhanossa!!!! Como era grande o número dessas pessoas em extrema carência. Levas e mais levas. Aqui, ali e acolá. Em todos os cantos, em todos os lugares. A fome e as necessidades são doídas em número e intensidade. Centenas, milhares, porque não milhões? Como foi e está sendo cruel ver o tamanho das necessidades e saber que estão todas essas pessoas bem debaixo dos nossos olhos, mas que não vemos, não "sabemos" da sua existência. Somos mesmo um país de muitas desigualdades. Poucos têm tanto e tantos têm tão pouco e a monstruosidade desta pandemia do Coronavírus, mesmo nos matando a tantos, serviu para nos mostrar uma triste realidade.

Meu Deus!!!!Será que era mesmo necessário aparecer um vírus, um minúsculo ser vivo e maléfico para nos adoecer e matar, revirar os nossos modos de viver e de ser, estrangular as nossas riquezas, atarantar a economia do mundo, sufocar as nossas vaidades, submeter as nossas vontades, baratinar a sociedade, desnortear as pessoas e causar um sem número der estragos, etc...para nos mostrar tantos males, tantos vícios, fraquezas, a nossa soberba vaidosa, os nossos narizes empinados e a nossa visão tão alteada contemplando horizontes longínquos, enquanto tantos males, tantas dificuldades estão bem debaixo do nosso nariz, bem aos nossos pés, no meio de todos, mas tão longe de amparo, socorro ou reparos.

Que Deus seja louvado!!!!Ainda temos tempo, se sobrevivermos, de nos corrigir.

Onassis
Enviado por Onassis em 15/04/2020
Código do texto: T6917724
Classificação de conteúdo: seguro