SOBRE A "REVOLUÇÃO PANDÊMICA SARS COV2"

Antes de iniciar minha análise de meio quero relembrar que "ensaio" é um gênero literário baseado nas impressões pessoais de quem o escreve.

Apenas isso.

Há tempos senti vontade de analisar o nosso todo desde que, em Fevereiro deste, em plena segundona do nosso Carnaval, as notícias informavam que um novo Coronavírus fazia aqui sua primeira vítima importada da Europa.

Um vírus que já fazia seus horrores por ali depois da notificação do seu aparecimento em Whuan.

Entendo que a abertura do nosso Carnaval ao mundo, concomitantemente ao fechamento do Europeu mais badalado- o de Veneza, de certa forma fez um convite especial ao SARS-COV2, tipo com o RSVP na etiqueta dos franceses.

A coisa, algo que importada, nem era chique mas...sobretudo seria catastrófica: uma tragédia anunciada do velho para o novo mundo.

O novo vírus, infelizmente, veio experimentar um turismo pelos trópicos.

Pontuo que quando criança eu ouvia as histórias contadas pelos meus avós imigrantes, as da tal gripe espanhola de 1918; e meu pai sempre relatava os óbitos que ouvia ter ocorrido na época e eu, meio desconfiada daquilo tudo, achava que era como um conto da carochinha.

Não, não era...não seria...

Quando criança o tempo é incontável e tudo nos parece ilusório e bem distante de nós.

A Terra girou e cento e dois anos depois a Humanidade veria o que agora constatamos com os nosso olhos: um vírus "Serial Killer", sem ideologia política e que não escolhe classe social para cumprir seu ciclo biológico. Divide, no mesmo espaço...o ar de todos nós.

E que conta de... e ensina tudinho...

Ao aqui chegar provocou um revolução existencialista da qual vou tentar citar o que mais me chamou a atenção e marcou meu sentimento.

NA SOCIEDADE

Impossível seria não perceber o que acontece quando, a despeito do sol brilhar lá fora, a bela natureza parece esconder uma armadilha que entra invisivelmente pelas vias aéreas com a possibilidade de "asfixiar" nossos pulmões.

O distanciamento social e o uso de máscaras se fizeram impositivos e com eles a sensação de que nada nessa vida justifica existir se não for pelo toque, pelo abraço, pelo sorriso, pela troca cinestésica, enfim, pela convivência humanística, condição primária e essencial entre o todo HUMANO.

Trata-se dum vírus que ceifa nossa essência de vida.

As demais doenças já não poderiam ser auscultadas e palpadas presencialmente.

O médico reformularia toda sua propedêutica para rastrear doenças.

Muitas precisariam esperar...como se a vida esperasse por socorros.

Com a impossibilidade de muitos trabalhos presenciais a Humanidade mergulharia na sublimação da "vida digital", algo que já a preocupava quanto ao isolamento real que vinha pontuando as mudanças sociais.

As pessoas, então, começariam a perceber a importância das atividades domésticas triviais e indispensáveis como cozinhar, lavar, passar, limpar, "ensacar e levar o lixo lá fora".

As escolas fechariam e as tarefas virtuais mobilizariam alunos, pais e professores sendo um desafio a todos...

Começou-se, então, a perceber a beleza do simples, como o florescer da planta do vaso esquecido num canto, o nascer e o pôr do sol pela vidraça...a complexidade de se apreciar o sabor e o odor dum simples cafezinho postado e compartilhado nas redes sociais.

Porque agora a onda das vaidosas viagens estaria amputada pelo novo vírus já em onda gigantesca; e o glamour ilusório de se postar uma selfie filtrada na torre Eiffel, nos canais de Veneza ou dentre as badaladas do Big -Ben, no tudo demais de belo do Velho mundo tão cultuado, também seria paralisado pelo vírus, aquele processo "de selfflização" tão socializado nas redes e que, por ora, já não poderia encantar o outro.

O tudo enorme do mundo estaria de joelhos aos pés dum simples vírus.

"Lives" surgiram como uma pandemia da arte represada, levando presença e consolo pelas janelas do mundo.

NA POLÍTICA

O novo vírus seria como um "cagueta", um revelador sócio-político do tudo que a História nos pontua nos períodos de sofrimento sanitário.

Seria um levantador de todos os tapetes voadores, esparramando sujeira oculta para todos os lados... os políticos que se diziam gestores das dores subiriam nos pódios na tentativa de melhor declamar seus grandes"feitos" sempre realizados pelas mãos de outrem , os ditos heróis do anonimato.

As dores seriam instrumentos dos horrores. Como sempre foi.

Receberiam mais palmas aqueles que tivessem a melhor retórica ao falar o que o povo sempre urge ouvir e aplaudir , ou seja ,para se cantar o tudo que nunca foi feito ou muito menos se planejou fazer.

As opiniões e os atos mudariam da noite para o dia no cochilar das estrelas pelas forças dos estrelatos.

O cenário de guerra, então, não apenas sanitário, desnudaria e explicaria todas as mentiras e tragédias sociais implementadas pelos tempos, desde as misérias holísticas mais tristes, a deseducação, os déficits sanitários, as desinformações, as ignorâncias seculares, tudo como se a evidenciar o tecido de toda a genética oculta dos abandonos, não apenas na fala mansa fundamentada de se poupar vidas, mas principalmente na artilharia da "arte da guerra" num cenário político corrompido na sua gênese mas que urgiria se salvar nas aproximadas urnas.

Cientistas desfilariam seus doutos conhecimentos teóricos de conteúdos egóicos crescentes e insondáveis, cuja pra´tica é sempre outra, como numa disputa de ringue, quase sempre coaptados com a vontade política dominante no momento.

E ao povo em massa se daria a sacra oportunidade de decidir sobre questões técnicas que confundem inclusive a ciência.

Do douto, uma palavra mal colocada ou um ato em falso...e o todo do melhor conhecimento científico sucumbiria ao piscar dos olhos dos interesses, sempre em nome da próxima eleição.

Já a corrupção nunca daria trégua.

Tudo se tornaria bandeira política e o NOVO CORONA VÍRUS se estabilizaria em crescente de morte, a ceifar vidas, como o cabo eleitoral mais famoso, cruel e inusitado de que se têm notícias...

NA EDUCAÇÃO:

O novo vírus ensinaria e RATIFICARIA só o óbvio: que sem educação toda tragédia é sempre mais trágica.

Muitos povos entenderiam (ou não!) que SANEAMENTO BÁSICO é remédio de prevenção para todas as doenças.

Uma época em que, paradoxalmente, o PLANETA RESPIRARIA NOVAMENTE SEM PRECISAR DE APARELHOS.

SERIA PRECISO AVISAR OS POLÍTICOS.

DO DANO SÓCIO-PSICOLÓGICO

No presente simples, eu poderia constatar, dentre tópicos já sabidos, que nunca vi uma época em que tantas doenças emocionais explodissem como nessa de Pandemia: a propulsão do medo a tangenciar a aproximação sensitiva da possível finitude inesperada ao simples respirar, algo que varia desde modestas ansiedades até transtornos graves delas passando por graves depressões; tudo impulsionado também pelo pânico de se perder a si e aos entes queridos, pelo corte abrupto no acontecer das vidas, pelo vazio solitário causado pelos confinamento e isolamento sociais, pela colocação das relações humanas num pesado "teste ergométrico" de resistência e resiliência, pelo cansaço imposto por toda a logística pandêmica, pela insegurança de se sair às ruas e simplesmente respirar, pelo emprego ameaçado, pela economia em risco, pelos lutos comunitários e pessoais em crescente, enfim, um cenário patológico de autoestima pessoal e social em declínio pelo todo, desde a se enfrentar o desconhecido que pontua a instabilidade dum país inteiro , até a simples impossibilidade de fazer um bom corte de cabelo, uma barba ou se escolher a cor do batom...

DA IMPRENSA:

Todos aprenderiam que as mazelas existem porque rendem notícias e dividendos.

Mas para tal é preciso saber trabalhar emocionalmente todo o fato a ser manipulado.

DA ECONOMIA:

Vou resumir que a HECATOMBE ECONÔMICA em dominó duma PANDEMIA tem um lado fortemente filosófico: ela que nos ensina que há épocas no aprendizado DA HUMANIDADE em que todos se enxergam no mesmo barco existencial, mudando apenas pontuais acomodações DISPENSÁVEIS e até o valor do DINHEIRO perde sua utilidade na sustentabilidade da vida física e espiritual.

Precisamos de muito menos do que poderiam imaginar nossas pseudos necessidades e nossa vã ambição.

E numa Pandemia que ceifa a liberdade e a vida, mesmo a quem tem muito poder econômico e/ou financeiro, seria como se morrer coletivamente de sede em meio ao jorro farto duma cachoeira que corre...apenas lá do lado de fora de nós mesmos.

É a pandemia que nos ensinaria uma rica lição: da relatividade de todas as grandes e quiçá falsas... "riquezas".

Mas...prontamente haveria os financiadores das dores a baixo juros por toda a vida.

Todavia aprenderíamos também que há , a despeito das melhores lições da vida, os que não aprendem nunca. Que pena.

DA RELIGIOSIDADE

Época pandêmica em que a tríade das VIRTUDES TEOLOGIAS iluminaria o Planeta.

A esperança humana oscilaria dentre a sensação do pecado consumado em virulência para a conciliação com o "deus" de cada um de nós, até a gnosiologia ou mesmo a humilde agnosia sobre o todo que nos permeia.

Todavia claro seria que a FÉ, A ESPERANÇA E A CARIDADE seriam exercidas como uma necessária redenção da Humanidade .

Quiçá uma inconsciente redenção dela de si mesma ao longo da sua História que se repete, doravante, não muito diferente nos detalhes da sua terrena e parca "evolução".

DO PROGRESSO DA CIÊNCIA

E para terminar minha tentativa frusta de resumir meus sentimentos frente à complexidade do tudo que revoluciona a nossa existência terrena atual, parto daqui pelo princípio de que nada nessa vida é por acaso. Foquemos nossa observação!

Enfrentamos uma doença que infecta o corpo, a alma e o espírito.

A COVID19 é uma zoonose pandêmica (SARS COV2) que acidentalmente desviou seu círculo biológico a escapar dos "bichos" para a raça Humana mas que, como em todo período de sofrimento da Humanidade, poderá dar grandes luzes às pequisas científicas.

O novo Coronavírus é um agente complexo no sentido de possuir a chave de vários caminhos da Imunologia, alguns conhecidos, outros ainda não. E na ciência do futuro tudo será genética e imunologia!

Os vírus costumam sequestrar as células para se utilizarem do seu material genético que colocam à disposição da sua replicação.

Assim, escancaram muitas portas ocultas que podem elucidar a entrada para vários mecanismos desconhecidos na gênese de muitas doenças ainda incuráveis aos olhos da Ciência.

Doenças que são calvários da Humanidade.

Quem sabe, diante dessa guerra do seu estrago sanitário, assim como foi a Segunda Grande Guerra Mundial a iniciar a era dos antibióticos com a descoberta da Penicilina, possa essa Pandemia iluminar as pesquisas científicas.

Nesse sentido o Novo Coronavírus também tem o paradoxal poder de regar nossa esperança de Homens tão frágeis.

Como sabiamente constatou Einstein:"DEUS NÃO JOGA DADOS".

A nós, então, cabe a humildade de acreditar.