etimologia da língua portuguesa número 208

Etimologia da Língua Portuguesa por Deonísio da Silva. Número 208

Chanfalho, de início uma espada curta, provavelmente tenha vindo do Espanhol chafallo, remendo malfeito. Ritual originou-se do Latim ritualis, de ritus ou ritum, cuja origem é desconhecida, equivalente às palavras do Grego árthron e harmós, designando cerimônia.

Alamoa: de alemoa, feminino arrevesado de alemão --- correto é alemã ---, do Latim alemani, como eram chamados os alemães pelos antigos romanos, com a variante teutiscus, no Latim medieval, radicado em thiudisk, este vindo do Gótico thiusa, que deu tedesco, e servia para designar o germanicus, povo que habitava a Germania. A Alamoa é uma assombração da Ilha de Fernando de Noronha. Manifesta-se na forma de uma mulher muito branca, loura e alta, de rara beleza, que encanta os homens. Logo que os seduz, transforma-se numa caveira, carregando-os por fendas nos rochedos, que se abrem só para que passe com suas presas. A ideia do mito parecer ser uma advertência para os perigos do sexo feminino. Em Cananeia, no litoral paulista, a variante da Alamoa é a Dama Branca, mas esta não vaga nua pela praia. Perambula vestida de seda branca à beira mar.

Chafalho: origem controversa, provavelmente do Espanhol hafallo, remendo malfeito. Designou de início espada curta, provavelmente velha, cuja lâmina cortava mal, usada por guardas municipais e policiais de Lisboa. Servia mais para bater do que para cortar. Aparece neste trecho de um dos contos do médico e escritor mineiro João Guimarães Rosa (1908 – 1967): O senhor pode às vezes distinguir alhos de bugalhos, e tassalhos de borralhos, e vergalhos de chanfalhos, e mangalhos ... Mas, e o vice-versa.

Labatu: de origem obscura, designa monstro que come as crianças por terem a carne tenra. Tendo apenas um olho no meio da testa, aparece na forma de um grande macaco peludo, de pés redondos e com os dentes para fora da boca, como o javali. Provavelmente foi inspirado no Ciclope, gigante disforme descrito na Odisseia. No livro Monstruário: Inventário de Atividades Imaginárias de Mitos Brasileiros, o psicanalista gaúcho Mário Corso sugere que no imaginário popular mesclaram-se o mito do labatu e a figura do general francês Pedro Labatut (1768-1849), mercenário contratado por dom Pedro I (1798-1834). Labatut expulsou as tropas portuguesas em 2 de julho de 1823, durante batalha da Guerra da Independência, travada na Bahia. Expulso da Colômbia quando lutava sob as ordens de Simón Bolívar (1883-1930), enfrentou vários conselhos de guerra no Brasil, num deles pelas crueldades perpetradas na Guerra dos Farrapos em Vacaria (RS). Dele diz o autor:” Tratava os inimigos estupidamente, impondo castigos desmensurados. Enfim, era todo crueldade, e essa besta humana deu nome a uma besta que já habitava o coração de nossos colonos”.

Marxista-leninista: dos nomes do filósofo, cientista social e revolucionário alemão Karl Heinrich Marx (1818-1883) e do pseudônimo Lenin, adotado pelo revolucionário e estadista russo Vladimir Hitch Ulianov (1870-1924),designando adepto das teorias econômicas e políticas do primeiro, combinadas com as práticas defendidas pelo segundo, com o objetivo de, mediante a luta de classes, estabelecer uma ditadura do proletariado, governada entretanto pelo que denominam centralismo democrático, como foi aplicada na Revolução Russa de 1917.

Ritual: do Latim ritualis, de ritus ou ritum, de origem desconhecida , equivalente as palavras do Grego árthron e harmós, designando cerimônia, do Latim caerimonia, de origem etrusca, todos estes vocábulos aludindo a gestos, cantos e palavras constantes de cultos solenes. O escritor gaúcho Liberato Vieira da Cunha dá o título de Ritual de Sedução a uma de suas crônicas reunidas em O Silêncio do Mundo, na qual o cronista xereta à distância e discretamente os artifícios de um homem se utiliza para impressionar uma mulher pela qual está interessado. Aos vai cativando a atenção dela.:” Falava calmo e seguro se si, em determinada altura disse algo divertido, pois a mulher deixou escapar um mínimo sorriso. E então ele se tornou mais fluente, mais insinuante. Tenho certa milhagem nos fatos da existência: aquilo era um ritual de sedução”.

Totalitáro: do Italiano tatalitario, neologismo criado em 1920 na Itália a partir de totale e autoritário, com o fim de qualificar a ideologia que tolera apenas um partido, a ele subordinado todas as instituições, pondo o cidadão a serviço do Estado.

Deonísio da Silva, da Academia Brasileira de Filologia, escritor doutor em Letras pela USP, professor (aposentado), curador da Língua Portuguesa na Universidade Estácio de Sá (RJ), dirige projetos editoriais na Unisul (SC) e é colunista na Rádio Bandnews, com Ricardo Boechat é autor de Avante, Soldados: Para Trás e de Lotte & Zweig (www.leya.com.br), publicações também no exterior e de De Onde Vêm as Palavras. www.lexicon.com.br

Revista Caras

2015

Etimologia da Língua Portuguesa por Deonísio da Silva. Número 208

Chanfalho, de início uma espada curta, provavelmente tenha vindo do Espanhol chafallo, remendo malfeito. Ritual originou-se do Latim ritualis, de ritus ou ritum, cuja origem é desconhecida, equivalente às palavras do Grego árthron e harmós, designando cerimônia.

Alamoa: de alemoa, feminino arrevesado de alemão --- correto é alemã ---, do Latim alemani, como eram chamados os alemães pelos antigos romanos, com a variante teutiscus, no Latim medieval, radicado em thiudisk, este vindo do Gótico thiusa, que deu tedesco, e servia para designar o germanicus, povo que habitava a Germania. A Alamoa é uma assombração da Ilha de Fernando de Noronha. Manifesta-se na forma de uma mulher muito branca, loura e alta, de rara beleza, que encanta os homens. Logo que os seduz, transforma-se numa caveira, carregando-os por fendas nos rochedos, que se abrem só para que passe com suas presas. A ideia do mito parecer ser uma advertência para os perigos do sexo feminino. Em Cananeia, no litoral paulista, a variante da Alamoa é a Dama Branca, mas esta não vaga nua pela praia. Perambula vestida de seda branca à beira mar.

Chafalho: origem controversa, provavelmente do Espanhol hafallo, remendo malfeito. Designou de início espada curta, provavelmente velha, cuja lâmina cortava mal, usada por guardas municipais e policiais de Lisboa. Servia mais para bater do que para cortar. Aparece neste trecho de um dos contos do médico e escritor mineiro João Guimarães Rosa (1908 – 1967): O senhor pode às vezes distinguir alhos de bugalhos, e tassalhos de borralhos, e vergalhos de chanfalhos, e mangalhos ... Mas, e o vice-versa.

Labatu: de origem obscura, designa monstro que come as crianças por terem a carne tenra. Tendo apenas um olho no meio da testa, aparece na forma de um grande macaco peludo, de pés redondos e com os dentes para fora da boca, como o javali. Provavelmente foi inspirado no Ciclope, gigante disforme descrito na Odisseia. No livro Monstruário: Inventário de Atividades Imaginárias de Mitos Brasileiros, o psicanalista gaúcho Mário Corso sugere que no imaginário popular mesclaram-se o mito do labatu e a figura do general francês Pedro Labatut (1768-1849), mercenário contratado por dom Pedro I (1798-1834). Labatut expulsou as tropas portuguesas em 2 de julho de 1823, durante batalha da Guerra da Independência, travada na Bahia. Expulso da Colômbia quando lutava sob as ordens de Simón Bolívar (1883-1930), enfrentou vários conselhos de guerra no Brasil, num deles pelas crueldades perpetradas na Guerra dos Farrapos em Vacaria (RS). Dele diz o autor:” Tratava os inimigos estupidamente, impondo castigos desmensurados. Enfim, era todo crueldade, e essa besta humana deu nome a uma besta que já habitava o coração de nossos colonos”.

Marxista-leninista: dos nomes do filósofo, cientista social e revolucionário alemão Karl Heinrich Marx (1818-1883) e do pseudônimo Lenin, adotado pelo revolucionário e estadista russo Vladimir Hitch Ulianov (1870-1924),designando adepto das teorias econômicas e políticas do primeiro, combinadas com as práticas defendidas pelo segundo, com o objetivo de, mediante a luta de classes, estabelecer uma ditadura do proletariado, governada entretanto pelo que denominam centralismo democrático, como foi aplicada na Revolução Russa de 1917.

Ritual: do Latim ritualis, de ritus ou ritum, de origem desconhecida , equivalente as palavras do Grego árthron e harmós, designando cerimônia, do Latim caerimonia, de origem etrusca, todos estes vocábulos aludindo a gestos, cantos e palavras constantes de cultos solenes. O escritor gaúcho Liberato Vieira da Cunha dá o título de Ritual de Sedução a uma de suas crônicas reunidas em O Silêncio do Mundo, na qual o cronista xereta à distância e discretamente os artifícios de um homem se utiliza para impressionar uma mulher pela qual está interessado. Aos vai cativando a atenção dela.:” Falava calmo e seguro se si, em determinada altura disse algo divertido, pois a mulher deixou escapar um mínimo sorriso. E então ele se tornou mais fluente, mais insinuante. Tenho certa milhagem nos fatos da existência: aquilo era um ritual de sedução”.

Totalitáro: do Italiano tatalitario, neologismo criado em 1920 na Itália a partir de totale e autoritário, com o fim de qualificar a ideologia que tolera apenas um partido, a ele subordinado todas as instituições, pondo o cidadão a serviço do Estado.

Deonísio da Silva, da Academia Brasileira de Filologia, escritor doutor em Letras pela USP, professor (aposentado), curador da Língua Portuguesa na Universidade Estácio de Sá (RJ), dirige projetos editoriais na Unisul (SC) e é colunista na Rádio Bandnews, com Ricardo Boechat é autor de Avante, Soldados: Para Trás e de Lotte & Zweig (www.leya.com.br), publicações também no exterior e de De Onde Vêm as Palavras. www.lexicon.com.br

Revista Caras

2015

Deonísio da Silva
Enviado por zelia prímola em 21/06/2020
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