Notas Sobre a Invisibilidade

Há aqueles que nasceram entre as engrenagens, de trás da grande maquina que gere o mundo, nos bastidores de um show de fictício, cuja ausência, sequer é notada.

Sem direito a sonhar, o destino não lhes permitem planos, vagam a mando do acaso, quando o mundo gira, suas rodas dentadas os esmagam, moem e os cospem de volta, deformados porém ativos.

Carentes de tempo, fé e esperança, só lhes sobram restos, transbordam-se de dores, medo e a sensação do desamparo.

Aqueles que perecem no vão, que se amontoam nos cantos dos silêncios, a sorte os ignora, não há passaportes para o reino dos céus, suas almas, nem o inferno lhe fazem apreço, eles não morrem, por que não vivem, só vagam, como manchas de bolor que se transmutam com a umidade.

Limitados pela tarja da indigência, com a face forjada pelo esquecimento, cinzas atemporais, que se esvaem pelas frestas. Que se confundem com vultos de um passado que nunca foi presente.

Você os vê, num olhar que suplica, nas alucinações abstinentes de afeto, e no vácuo da indiferença, mais ignora, compelidos a não lhe darem atenção, pois tememos o pavor de flertar com espelho, e descobrir que não há nada que nos difere, exceto a ilusão.