Ampulheta

Nosso tempo é feito de grãos finos.

Que escorregam sobre o funil vítreo da vida.

Frágil funil dessa ampulheta.

Que não nos permite acumular ou reter uma única partícula.

Tenho a impressão que a areia que me resta não transcende a expectativa natural das coisas.

Fruto do estilo de vida que sempre busquei levar.

Compulsivo.

Viciado.

Em riscos e em vitórias.

Em amores e em correntes.

Os impactos devastam.

Nesse caminho que resolvi trilhar. Com as sinuosidades colocadas pelo destino.

O destino nos coloca bifurcações.

Não se pode ter o melhor de todos os caminhos.

E todos os caminhos infligem dor e angústia. Sacrifícios e astúcias.

Minha missão e minha ordália.

Minha superação necessária.

Dilema cruel. Que preciso escolher.

Enquanto escorrem os poucos grãos de areia que ainda me restam. Grãos leves como as cinzas dos cigarros que me acompanham.

Nas reflexões.

Nas meditações.

E nas desilusões.

Só aguardo minha sentença.