O tempo urge

Nos acostumamos ao novo normal. Não nos assustamos mais ou ficamos perplexos diante do número de mortes anunciadas a cada fim de dia. Não relutamos mais para ir em supermercados, farmácias, casas de vizinhos ou amigos. Os bares, clubes e até as igrejas nos convidam a dar uma voltinha.

Será que rezar em casa é menos eficiente? Estar longe de parentes e amigos para protegê-los e proteger a nós mesmos não vale mais a pena?

As mortes foram banalizadas. Os hospitais cheios e os profissionais da saúde se desdobrando para salvarem vidas, colocando as próprias em risco, passou a fazer parte do novo normal. As lojas, todas elas, com suas portas abertas. Claro com algo para desinfetar as mãos nas portas e um termômetro para testar a temperatura, embora quem o manuseia nem sequer tem o trabalho de olhar o resultado diz:

__ Pode entrar, bem vindo-vindos às comprar!

O país tem que “andar”, a economia não pode parar. Precisamos seguir em frente, a fila anda, não podemos ficar inertes quando tudo ao nosso redor se movimenta. É muita coisa pra fazer, muito dinheiro envolvido, muitos modelos a serem lançados, muitos planos urgentes devem sair do papel.

E a vida? Não tem mais importância? Deixou de ser essencial? Claro que a vida é importante, não deixou de ser essencial, mas não temos tempo para pensar nisso agora...

O tempo urge, vamos abrir nossas janelas, levar as crianças nas praças, voltar imediatamente para o trabalho, para o lazer, afinal o mundo é uma esfera e não pode parar , simplesmente, porque um vírus chegou e se instalou em nosso meio.

Nália Lacerda Viana. 10 de agosto de 2020