Vácuo

Nós temos poucas janelas de oportunidade e tempo para tomarmos algumas decisões.

Quando não tomamos, elas se fecham.

As vezes para sempre.

As vezes não.

O tempo dirá.

As decisões são difíceis.

Envolvem ser apenas filho da puta. Ou muito filho da puta.

E não escolher é uma decisão em si. A decisão de ser só filho da puta. Sem o superlativo ou a qualificadora.

Assim escolhi. Ou melhor, não escolhi, apenas segui.

E com a decisão vem o vazio.

O vácuo.

A lacuna de conviver o resto da vida com a incerteza.

Incerteza sobre o que não escolheu. Incerteza sobre o outro caminho.

Viver na sombra do “será que daria certo?”.

Que fardo.

Mas o futuro estava escrito já no início.

A opacidade daquele presente que lhe impediu de ver.

Ver que você será sempre aquele que carrega a liteira das correntes.

E o peso da canalhice.

Você escolheu essa vida desde o início.

Esqueceu apenas que estava jogando.

Tropeçou na ilusão do amor, mau jogador.

E nessa liga, esse sentimento não pode se aflorar expressamente.

Apenas coexistir com o silêncio. Com o vácuo das escolhas intempestivas.

O jogo da probabilidade é mortal. A certeza do “sim” ou do “não” conforta, mas não existe.

A incerteza traz angústia. E é a que prevalece.

Abre o vácuo na alma.

A verdade? Só terei em outro oriente.

Não nessa esfera tão bruta e carnal que nos envolve.

Preso nessa ânfora da vida. Que só me permitirá caminhar no fio da incerteza. Sempre bamba. Sempre tormentoso.

A certeza é para os espíritos.

E essa linguagem nos é inacessível.

Para nós, apenas cacos de verdade espalhados.

Que nunca poderão ser juntados.

Pelo menos agora.